Point of view Mon
Samanun me pousou na cama com imensa delicadeza e deitou por cima de mim, ficando suspensa por seus braços, que estava um em cada lado de minha cabeça. Olhava-me atentamente como se buscasse entender o que me havia feito cessar os beijos e as provocações. Logo ela descobriria.
- Deita aqui do meu lado... - Pedi, batendo com a mão no espaço vazio na cama, e mesmo confusa ela obedeceu, deitando-se de lado, de frente para mim.
- Estou um pouco confusa, Mon..
- Por que? - Perguntei mesmo já sabendo a resposta.
- Você disse que... Você sabe.
Ela falou um pouco tímida e aos poucos seu rosto foi sendo tomado pela coloração avermelhada da vergonha. Levei minha mão em direção ao seu rosto e toquei sua bochecha, deslizando minha pele pela sua. Impressionante como até nossas texturas combinavam.
- Eu sei bem o que eu disse. - Falei olhando em seus olhos, contemplando aquele olhar que se estendia diante meus olhos.- Mas quem disse que precisamos transar para nos amar?
- Ei, não vale! Você comeu toda a pipoca! – Resmunguei fazendo um leve bico para Sam, que não hesitou em rir.
- Me desculpe, é que ela estava realmente muito boa... Mas se quiser, eu posso fazer mais, já que você sempre deixa elas queimarem... – Sua gargalhada era realmente o som ao qual eu não me cansaria de ouvir, mesmo ela tendo a ver comigo.
- Tudo bem, então... Não esqueça do sal! – Gritei e Sam assentiu da soleira da porta da cozinha. Meu coração vibrava sempre ela sorria e eu me perguntava o porquê.
Nossa ligação sempre seria um total mistério para mim. De fato, não havia médicos, psicólogos, psicanalistas e até cientistas capazes de explicar como Sam e eu éramos conectadas, tanto nos olhares e nas conversas, quanto no sexo. Apesar de ser algo totalmente novo para mim, já que nunca estive tão envolvida com uma mulher antes, o sexo com ela havia sido maravilhoso. Ela me fez sentir puramente amada como nunca havia me sentido com homem nenhum e eu tinha uma breve certeza de que seria assim para sempre, caso ela quisesse. Me sentindo só, resolvi me juntar à ela na cozinha, na tentativa de preparar, talvez, um chocolate quente. Foi tudo em vão. Primeiro porque estava frio e segundo porque o seu cheiro havia me atraído. Senti necessidade de abraçá-la por trás e encostar minha cabeça em seu ombro. Sam não se afastou. Pelo contrário, ela entrelaçou meus dedos que estavam sobre sua barriga, fazendo um carinho gostoso.
- Desse jeito, você vai me fazer esquecer a pipoca e deixá-la queimar... – Sam se virou para mim e me fitou nos olhos profundamente. Eles, de alguma forma, sempre prendiam a minha atenção e eu não ousei desviar. Encarei-a com a mesma intensidade.
- Essa é a intenção... – Sussurrei próxima à seus lábios para que entendesse o que eu queria. Sem demora, selei meus lábios nos seus em um selinho demorado e fui me distanciando dela, deixando-a completamente confusa. Ciente de que Sam me seguiria, cheguei na sala de estar e me deitei no carpete felpudo e macio, esperando pela sua presença. E ela o fez.
Chegou como quem queria respostas e se deitou ao meu lado. Ficamos um tempo em silêncio, de barriga para cima. Eu olhava o teto enquanto sentia seu olhar pairando sobre mim. Quando finalmente a encarei, meu órgão pulsante estava acelerado demais, quase saindo pela boca. Era sempre assim toda vez que nossos olhares se conectavam. E de repente, nenhuma palavra precisava ser dita.
- Mon?
Meus olhos voltaram ao foco que eram os olhos de Sam. Eu estava mergulhada naquela imensidão e acabara desligando-me da realidade, mas era inevitável, as ondas de seus olhos sempre me puxavam para o mais fundo e eu sempre me rendia. Sam levou sua mão até meu rosto e deslizou a ponta dos dedos no meu maxilar, passando por meu queixo, traçando desenhos sem forma.
- Está tudo bem? - Perguntou ela, fitando-me com cautela. Sorri sem mostrar os dentes.
- Está tudo tão bem que temo ser apenas um sonho. - Suspirei, virando-me na cama para fitar o teto. Ela permaneceu imóvel.
- Não é um sonho, se quiser, posso te beliscar para comprovar. - Acabei rindo com sua brincadeira. O som de nossas risadas misturadas tornou-se minha melodia favorita.
- Não quero voltar para a realidade... - Resmunguei.
Num ato rápido, Sam me puxou pelo braço e me fez virar para ela. Foi como se uma descarga elétrica percorresse o meu corpo enquanto nossos olhares se fixavam. Sem a menor espera e aviso, ela uniu nossos lábios em um beijo urgente.
(...)
As horas se passavam lentamente. O céu que antes estava totalmente coberto pelas nuvens brancas, agora fora tomado por uma tonalidade rosa alaranjado. Olhando para o relógio preso na parede acima da lareira, pude constatar de que eram 5:00 da tarde. Sam e eu já havíamos almoçado, tomado um banho e nada melhor que um belo pôr do sol para encerrar aquele dia maravilhoso. Então, tomei a liberdade de preparar um café forte e a convidei para ir à um lugar onde costumava brincar quando era criança.
Point of view Samanun
Chegamos em um cais, onde havia um banco de madeira que dava de frente ao belo pôr do sol daquela tarde. A vista era magnífica, digna de um pintura. Mon seguia na frente com uma garrafa térmica cheia de café enquanto eu segurava as xícaras logo atrás. Após nos sentarmos, ela serviu as duas xícaras do líquido quente, tomando-a para suas mãos e provando. Enquanto eu... Olhava cada movimento seu como minha mais nova admiração. Nunca encontraria explicação para tamanha perfeição. A fim de quebrar o silêncio que se instalara sobre nós, Mon começou se pronunciando.
- Quando eu tinha 8 anos, gostava de vir aqui e admirar a natureza... – Ela disse sem me olhar nos olhos e eu a fitava prestando atenção em cada vírgula – E então, quando completei meus 15, vinha aqui para colocar a cabeça em ordem...
- E agora, qual é o motivo da sua vinda? – Perguntei sem realmente pensar se ela responderia. E ela respondeu.
- Você.
- Eu? - Apontei para mim.
- Sim, você. - Ela disse visando o horizonte. - Ontem eu não tinha respostas, hoje eu tenho tantas que me faltam perguntas para todas.
- O que quer dizer? - Assoprei o café de minha xícara e bebi um gole curto.
Mon uniu suas pernas e as abraçou.
- Eu acho que... - Ela congelou, ficou vermelha e abaixou a cabeça exibindo um sorriso tímido, em seguida mordeu o lábio inferior.
- Acha que...?
- Acho que eu realmente gosto de você...
Foi nessa hora que eu olhei para Mon. Os raios alaranjados do sol que estava a se pôr, iluminavam seu rosto, e o brilho de seus olhos iluminavam minhas trevas. Caco por caco eu sentia-me sendo colada. Minha alma parecia ter sido substituída por outra totalmente nova. Os medos perderam o sentido. Não restavam mais mágoas. Um recomeço para mim se iniciava.
- Obrigada... - Eu disse.
- Por que? - Ao perguntar, ela encostou sua cabeça em meu ombro. Respirar o perfume de seus cabelos me fez inclinar o olhar aos céus e mentalmente agradecer ao criador pelo presente.
- Por me resgatar, por me fazer sentir prazer em respirar, por me fazer orar todas as manhãs pedindo à Deus que estenda minha estadia na terra. Obrigada por tornar-se o sol que ilumina minhas manhãs, por ser a lua da minha noite. Obrigada por dominar meus pensamentos, por me roubar o fôlego a cada vez que sorri. Obrigada por colorir minha vida preto e branco. Você me ensinou a viver novamente. Obrigada, Mon.
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The Last Coffee (Em revisão)
Roman d'amourEla era uma escritora no auge de seu fracasso, não vendia mais livros, nem escrevia mais poemas, ainda não havia aprendido o quão bela era a poesia de um coração em desordem. Enquanto isso, do outro lado de um balcão, esperando-a com mais um café qu...