CAPÍTULO 1

46 3 0
                                    

Eu estava morrendo de sono.

M-O-R-R-E-N-D-O.

Contudo, precisava dar um jeito de manter meus olhos abertos para prestar atenção na aula de História.
Eu precisava, além de dormir por quase um dia inteiro, passar nessa matéria. Faço uma anotação no caderno para me distrair e fingir, pelo menos decentemente, prestar atenção no processo de mumificação dos egípcios.

NOTA: NUNCA MAIS FICAR PROCURANDO FANFIC NA MADRUGADA.

NOTA 2: EGÍPCIOS ERAM MACABROS.

NOTA 3: ACHO QUE SONHEI COM MINHAS MELHORES AMIGAS FUGINDO DE SAPOS.

NOTA 4: PESQUISAR O QUE SIGNIFICA SONHAR COM SAPOS.

E assim vou rabiscando mais algumas coisas e vez ou outra olho para frente, encarando o quadro onde um texto enorme está escrito e que não me dei ao trabalho de chegar nem no quinto parágrafo. Sei que está tudo na internet e vou reservar um tempo para estudar, porque, é sério, eu preciso passar nessa matéria — isso devia virar uma nota mental número cinco, mas seria pavoroso demais admitir minha quase reprovação. Tiro o celular do bolso e quase gemi de satisfação no meio de vinte alunos ao ver que estavam faltando apenas três minutos para o sinal tocar, e essa é a minha última aula do dia.

Não gemi, mas sorri, o que valeu do mesmo.

Três minutos depois, o sinal é música para os meus ouvidos e me levanto, guardando minhas coisas com pressa e de repente, não estou mais com sono, estou só querendo sair da sala e ir diretamente para a sala ao lado, onde todos os meus amigos estão.

Eu, infelizmente, fui parar em uma sala diferente esse ano, e todos os dias é uma torutra sufocante não poder olhar para o lado e falar com eles usando apenas nossos olhos. Um diálogo de olhares onde fico sabendo de coisas muito boas, como:

Olha aquilo!

O quê?

DISFARÇA, PORRA

QUE BUNDA PELUDA É ESSA? QUE NOJO!

Não sei se foi arquitetado algum plano da secretaria para me separar dos meus amigos, mas prefiro acreditar apenas na má sorte. Minha turma é composta por vinte e dois alunos, sem mais, nem menos. Vinte dois apenas porque a maioria acabou desistindo do ensino médio ou repetiu de ano. A turma do lado tem uma quantidade maior, mas em presença continua insignificante. Se somos o futuro do país, que pena, porque não estamos prontos para acabar com a fome nem promover a libertação das drogas, só queremos poder aproveitar as tardes e olhar o Twitter em paz. Ou quase isso.

Saindo pela porta, esbarro em alguém e parece que meu cotovelo acertou uma pedra. O choque da dor percorre todo o meu corpo e quase solto um grito nada másculo. Na verdade, gemer e gritar como um gatinho não fazem de mim a pessoa mais máscula mesmo estando apenas na minha cabeça.

Olho para o lado. Existe muita diversidade na minha sala apesar do número constrangedoramente pequeno, mas se tem alguém que não pode ter a placa de diversidade, esse alguém é Kristian. Sim, com K mesmo. É a melhor piada do mundo.

— Foi mal — digo e dou um sorriso, demonstrando que estou mesmo arrependido de ter tocado nele de qualquer jeito.

Ele, porém, não sorri de volta e nem responde aquele famigerado e SUPER NECESSÁRIO “Imagina” quando esses acidentes acontecem, o que me deixa irritado e me faz tirar o sorriso de desculpa do rosto imediatamente. Na verdade, avalio se devo expressar que estou sentindo alguma coisa. O rosto endurecido dele e minha testa franzida são sinais opostos e não dá para dizer que eu não queria algo da parte dele. — PEDE DESCULPAS POR EDUCAÇÃO, SEU BABACA.

A Noite de Filmes do Fim de Semana - DEGUSTAÇÃO [DISPONÍVEL NA AMAZON]Onde histórias criam vida. Descubra agora