first; why is it so loud, this sound?

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TW: contém menções à uso de álcool e drogas, overdose, vômito, luto, transtornos mentais, cenas explícitas.




Um feixe de luz branca encontrava seu caminho por entre as pesadas cortinas, atingindo Mingi nos olhos. Ele se remexeu, irritado com a perturbação de seu sono. Revirando por baixo dos lençois, ele alcançou seu celular na mesa de cabeceira. 07:34. Ele resmungou.

Seus olhos, ainda se ajustando à claridade da manhã, alcançaram a data no topo da tela do aparelho, e foi tudo o que foi preciso para ele sentir um buraco se abrindo dentro de si, todos os seus pedaços caindo, sendo engolidos. Estava frio, como toda manhã de janeiro. Estava frio, assim como a manhã em que Yunho o deixou.

As sensações eram tão fortes, a dolorosa lembrança daquele dia, que Mingi achou que fosse vomitar. Ele fechou os olhos, concentrando-se na própria respiração para esquecer a náusea que o acertou. Ele não queria passar por isso de novo. 

Há um ano atrás, quando se completou um ano desde a partida sem explicações de Yunho, ele pensou que iria morrer. Ele não fazia do tipo dramático, mas a necessidade de esquecê-lo e esquecer tanta dor o fez perder a noção. Incontáveis garrafas de cerveja barata e toneladas de embalagens vazias de cigarro decoravam seu apartamento. E, então, havia heroína.

Estar envolvido no cenário do punk rock e ter os amigos que ele tinha o faziam ter contato, naturalmente, com todo tipo de álcool e droga, e ele sempre foi do tipo aventureiro. Seu único vício sempre foi o bom e velho cigarro, hábito que começou com seu antigo companheiro enquanto ambos ainda eram menores de idade; rebeldes, revoltados. 

Entretanto, Mingi tinha amigos que usavam todo o tipo de substância, e ele se sentiu curioso o suficiente para experimentar algumas. Não tinha problema, afinal. O uso era recreativo, uma vez ou outra, quando sua banda tocava. Não é necessário citar que sua banda tocava quase todo final de semana. De todo modo, ele não se considerava um drogado.

Mas então, 17 de janeiro se aproximava, e com ele viria a dor, a ansiedade, o aperto em seu peito. Ele precisava de distrações. Então, ele ligou para um amigo de um amigo. Yeonjun se surpreendeu com sua ligação, solicitando seus produtos pela primeira vez. Relutante, ele vendeu uma dose pequena o suficiente para não matar caso Mingi não soubesse dosar corretamente.

Mas ele não imaginou que Mingi misturaria tudo, acarretando em uma overdose no fim da noite, e se não fosse pelo fato de Wooyoung ter as chaves de seu apartamento e ser um amigo extremamente preocupado, ele provavelmente estaria enterrado a 7 palmos do chão naquele momento. 

Não. Ele não podia passar por tudo aquilo de novo.

Mas o pensamento sozinho ainda não o afastava da depressão e do vazio.

Ele se encolheu nas cobertas, tentando afastar as lembranças, tentando esquecer datas e nomes. Fechando os olhos e virando para o lado, ansiando por escapar da saudosa luz da manhã nublada. Mas era tudo em vão.

Após alguns minutos frustrantes que mais pareciam horas, Mingi desistiu e se levantou. Suas mãos geladas buscaram pelo moletom e ele se dirigiu à cozinha, pensando no café quente e amargo que em breve desceria por sua garganta. 

A manhã passou como um sopro, ao mesmo tempo em que cada segundo era angustiante. Seu estômago começou a doer por volta da 3ª xícara de café, e seu desleixo se mostrava aparente ao abrir a geladeira e os armários e não encontrar nada decente para comer. Com um suspiro, ele vestiu os tênis e desceu em direção às ruas ainda desertas, tudo coberto com uma fina camada de neve.

SATURNINE | yungiOnde histórias criam vida. Descubra agora