Origem da vida

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Música “Força Estranha” da Gal Costa

– Baby, você já parou para pensar que pode ter alguém da minha mãe vivo? Eu queria muito poder encontrar alguém da minha família de sangue, me reconectar com a origem de tudo. Saber como minha mãe era, se eu me pareço com ela. Não sei. Eu queria muito. – Giovanni questionou Ísis
– Pode ser que tenha, será que não haveria de ter alguma forma que a gente pudesse procurar? Mas são poucas informações sobre a sua mãe, não é? Será que o Tony não poderia acessar uma base de dados e puxar a genealogia da sua mãe? Não sei se dá, mas posso falar com ele. Ele ficou de ir na ONG hoje. – Ísis sugeriu
– Boa ideia.  Tomara que a gente consiga achar. Estou muito inquieto sobre essas questões.. origem da vida. – Gio desabafou
– Eu também sintia muita vontade de saber quem é meu pai, não sei se ainda sinto. É como uma parte.. grande parte de mim fosse uma incógnita. Mas vamos mudar o astral da conversa? – Ísis mudou de assunto após perceber o olhar triste de Gil – E a casa? A gente vai poder se mudar quando?
– A casa está esperando a dona decidir da decoração. Mas dependendo do que a gente fizer, vai demorar uns 90, 120 dias. – Gil respondeu todo animado – Não vejo a hora de irmos para a nossa casa, o nosso cantinho.
– Eu vou sentir falta do meu quartinho, da casa da minha mamãe, mas vai ser muito legal começar essa nova fase com você.. agora preciso ir, meu amor. – eles se despediram com um beijo.

No abrigo, dona Adelaide já estava bem inserida. Tão educada e amorosa com todos, de imediato ganhou a admiração dos demais voluntários.
– O que está achando, dona Adelaide?
– Estou muito feliz. Amando, Ísis. Acho que conviver com os animais tem me devolvido à vida.
– Eles têm esse efeito mágico, um olhar, um afeto. Tudo que eles produzem é capaz de mudar o nosso dia, a nossa vida. – Ísis abraçou dona Adelaide.
– Sabe, minha querida, você tem o jeito vívido da minha filha. Ela tinha esse jeitinho carinhoso, terno, alegre. – Adelaide se emocionou
– Tinha?
– Sim, a Olívia desapareceu há mais de 25 anos e não sei se está viva ou morta. Meu marido a expulsou de casa quando descobriu que ela estava grávida, eu não pude fazer nada. Busquei ela em todo canto, mas nunca a encontrei.
– Olívia... – Ísis refletiu – Lindo nome.
– Olívia Novaes, o nome da minha filha. Uma amiga dela disse que ela veio para o Rio, por isso vim para cá. Mas nunca achei nenhum rastro da Lili.
– Dona Adelaide, eu conheço o filho de uma Olívia Novaes.. o meu namorado. A mãe dele faleceu no parto e ele tem 24 anos, quase 25. Não será que o meu namorado seja o filho da filha da senhora? Seu neto? – Ísis juntou as peças.
– Faleceu? Meu neto? – Dona Adelaide se emocionou muito.

Ísis e Adelaide conversaram, a senhora se tranquilizou um pouco mais e a mocinha contou acerca de Giovanni e da busca dele pelas origens.
– Ísis, eu tenho uma foto da Lili que eu carrego sempre na minha bolsa. Olha. – Ela mostrou à Ísis, Olívia era uma moça jovem e bonita, muito parecida com Giovanni.
– Ela parece muito com o Gil. Muito. Acho difícil tantas similaridades serem meras coincidências, dona Adelaide. Acho que a senhora chegou até o seu neto. – Ísis se emocionou

A mocinha escreveu uma mensagem para o namorado: “Acho que finalmente encontrei algo importante sobre aquilo que você tanto deseja e nem precisei recorrer ao Tony. Te espero mais tarde em casa com uma grande surpresa."
“O que aconteceu? Qual surpresa, Ísis?”
“Calma, até mais tarde. Beijos.”

À noite, Ísis chegou em casa, acompanhada de Adelaide, e todos estavam reunidos: Giovanni, Jonas, Adriana e Marlene.

– Família, essa linda senhora é a avó do Gil, ela é a mãe da Olívia. Meu amor, se você queria saber da sua origem, aqui está: sua vó. – Ísis comovidíssima abraçou Giovanni.
– Avó? Mãe da minha mãe? Meu Deus. Que alegria. Eu não posso acreditar, como você a achou?
– Meu Deus, o meu neto. Tão parecido com a Lili. Tão parecido.

Adriana, Marlene, Jonas e Ísis contemplavam ao fundo a avó de Giovanni se aproximando dele e identificando no neto a filha que havia partido sem despedida.

– Vó. – Giovanni chorou copiosamente. – Eu não acredito.
– Deus parece ter trazido a Ísis e o abrigo na minha vida para trazer você para mim. – Adelaide se alegrou.
– Parece um filme feliz isso aqui. Que coisa mais bonita. – Marlene sussurrou para Ísis
– Ele merece. – respondeu a jovem com os olhos marejados

Durante toda aquela noite, as conversas foram longas entre Adelaide e Giovanni. Eles se uniram em Olívia, como a memória da mãe de Giovanni tivesse os atraído ao encontro. Adelaide voltou à casa de repouso, onde morava há muitos anos, sabendo que agora ela podia dizer que tinha um neto, um bisneto, uma neta emprestada e uma família para acolhê-la.

Deitados na cama, Giovanni conversava com Ísis enquanto acariciava sua barriga, que aos poucos, crescia. Ao fundo, a voz de Gal Costa cantando “Força Estranha” ecoava no rádio de Ísis.

– Eu nunca poderia imaginar que seria através das suas mãos que a minha avó apareceria. – Gil se emocionou.
– Uma coisa divina, mesmo. Sua avó como voluntária da ONG. Um encontro que parece ter sido escrito. Você e ela naquela sala, tão emocionados e felizes. – Ísis deu um beijo na mão de Giovanni.
– Ísis, o amor que eu sinto por você é tão grande que eu posso dizer que você me deu absolutamente tudo. O senso de propósito, o olhar de compaixão aos animais, às pessoas, o jeito doce de enxergar a vida. Eu não fui criado com esse olhar, eu tinha que virar um executivo, ser um homem de negócios. Mas com você, eu aprendi que a alegria mora no encontro, no afeto, em tudo. – Giovanni abraçou a amada.
– Eu também te amo muito, playboy. Você me ensinou a tolerar sapatênis, a  tolerar camisa polo. Você me ensinou a amar de verdade, tipo, de sentir o coração saindo pela boca. A gente vai ter um filho, quem imaginaria que Ísis Ferraz iria querer ter um filho e iria casar com um playboy macho alfa, menino de condomínio? Eu te amo muito. E eu quero sempre contribuir com a sua felicidade.
– Eu ouvi casar? – Gio debochou
– Sim, ouviu. Mas você ainda nem me pediu em casamento.. quer me levar para fora de casa assim, do nada. Está convivendo muito comigo e ficando moderninho também. – Ísis deu gargalhada.
– É que da última vez que falei em casamento, você me disse que não se casaria por questões ecológicas. – Giovanni gargalhou.

Naquele quarto, naquelas ideias, o tempo não parava, no entanto, não envelhecia. O amor, o cantinho e um rádio: para fazer feliz a quem se ama.

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