Capítulo 21

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Abdiel narrando

Ouvir a mãe de Ellie dizer que só a deixaria namorar se fosse comigo, fez acontecer algo estranho dentro de mim. Senti um gelo na minha barriga, será que isso são as tais das borboletas no estômago?
Resolvi filmar para maquiar o que estava sentindo, para não ficar tão na cara que algo estranho estava acontecendo comigo.
Quando Ellie começou a se por para baixo, reagi na hora. Falei tudo o que tive vontade, isso é uma coisa que eu acho maravilhosa, posso ser transparente com ela. Não preciso ser formal. Mas ela sabe como me quebrar e me deixar sem argumentos. Eu estava quase me declarando.
Ela tinha que perguntar se aquilo era um pedido de namoro?
A melhor parte foi a cara que a mãe dela fez, acho que se arrependeu amargamente de ter falado que só deixaria Ellie namorar se fosse comigo.
Respondi que ainda não, fui bem enfático no "ainda não".  Ainda não era um pedido de namoro, mas quem sabe...

- Olha aqui, vocês não inventem moda, heim. - Senhora Helena se manifestou logo.

- Fica tranquila mãe, não há condições disso acontecer. Não nos vemos com outros olhos. Né Abdiel? - Ellie foi logo falando.

- Sim. Somos só bons amigos. - Sorri. Bem que eu queria ser algo a mais.

- Mãe, decidi a faculdade que quero fazer. Vou fazer nutrição. - Ela sorriu para a mãe. Eu ainda filmava.

- E é por minha causa. - Me gabei.

- Sim. Abdiel é um ótimo jogador de futebol, com certeza tem futuro. Já estou garantido meu emprego.

- Essa Ellie não é fácil. - A mãe dela sorriu.

- Ué, estou errada? Ele vai precisar de alguém qualificada para acompanhá-lo. Como eu já vou saber seus gostos e restrições... Quem melhor do que eu? - Ellie sorriu de um jeito doce.

- Vamos ver a faculdade, daí vou começar a depositar o dinheiro para pagar. Agora você vai ficar desempregada, vou ter que te ajudar. - A mãe de Ellie falou.

- Não se preocupe, eu tenho minhas economias. Vou arrumar um emprego logo, logo.

- Esqueceu da minha oferta? - Perguntei. - Ofereci para ela o emprego de cozinheira. Eu sou muito chato para comer comida de outras pessoas, vivo doente por não me alimentar direito. Comi a comida de sua filha no restaurante que ela trabalha, que tempero perfeito.

- Realmente, ela cozinha melhor do que eu. Deve ter puxado os dotes culinários do pai. O pai dela era chef de um restaurante, a comida dele é perfeita, assim como a dela.

- Então a senhora sabe do que estou falando. Preciso me alimentar direito todos os dias, até porque sou um atleta. Como vou viver sem esse tempero? Deixa Ellie melhorar, vou arrasta-la para fazer minhas refeições. Se ela quiser pode ir uma vez na semana, eu congelo tudo, não me importo.

- Credo, comer comida congelada a semana toda? Eu cozinho para o almoço e janta, daí no final de semana você come aqui em casa. O que a senhora acha mãe?

- Acho justo. Até porque você estava ficando doente, trabalhando naquele restaurante.

- Mãe! - Ela fez um sinal para a mãe não falar nada.

- Ah, é? Dona Ellie, dona Ellie. - Filmei seu rosto.

- Ela desmaiou voltando do serviço, quase caiu embaixo do ônibus. Levei no médico e ele falou que ela estava com esgotamento mental. Teve uma anemia horrível de curar também, porque não se alimenta.

- Mãeeeee.

- Então, quando ela começar a cozinhar para você, por favor, a faça  comer também.

- Pode deixar. - Ellie abaixou a cabeça na mesa. - Eu não gosto de comer sozinho também. Até como, mas é ruim.

- Então me ajude, por favor. Não tenho como cuidar dela, tenho que trabalhar. Acredito no que ela me fala, mas não posso monitora-la.

Após muito conversarmos, fui em casa buscar os materias para fazer o trabalho em dupla.
Recebi uma ligação de um time, estão interessados em mim, viram alguns vídeos meus na web.
Marcaram para ir na escola na próxima semana, os olheiros.

Mandei mensagem para meus pais, nem um parabéns ganhei. Isso em deixou para baixo. Eles nunca tem tempo para mim, sempre comemoro minhas conquistas sozinho.
Mandei mensagem para Ellie, dizendo sobre o interesse do time.
Ela me ligou na mesma hora.

- Viu? Eu te falei. Parabéns Abdiel, você merece. Só não esquece de mim quando estiver famoso. Eu tenho provas que eu te descobri primeiro.

- Você é boba. - Gargalhei. - Eles só vão me observar.

- Eles já vão levar o contrato, escuta o que eu estou te falando. Você é o melhor, eles não vão deixar você passar.

- Está muito confiante, heim.

- Você é realmente bom, dê o seu melhor. Essa vaga já é sua.

- Obrigado por me incentivar, obrigado por se alegrar comigo.

- Amigos são para isso.

- Daqui a pouco chego aí, estou acabando de pegar as coisas para o trabalho.

- Está bem. Cuidado.

- Pode deixar!

Desliguei o celular e fiquei pensando, como Ellie me coloca para cima.
Ela tem o poder de fazer a tristeza saltar de alegria.
Vivi dezessete anos da minha vida sem ganhar parabéns dos meus pais.
Sem receber um incentivo.
Eles se alegram com as minhas conquistas, mas não me incentivam a fazer nada.
Sempre me dão presentes caros, como: viagens, roupas caras, jóias. Tudo isso para suprir o vazio que eles deixam.
Não tenho gasto com nada, eles bancam tudo, só que em contra partida, sou sozinho.

Trocaria todo o dinheiro que tenho só para ouvir um parabéns deles.
Por tempos isso me frustou tanto, que me fez desistir de conquistar as coisas.
Ellie me fez ter vontade de correr atrás do que eu gosto. Vou dar o meu melhor no dia em que os olheiros estiverem lá. Por mim e por Ellie.

Voltei para a casa dela e fizemos o trabalho, enquanto a mãe dela cozinhava.
A campainha tocou e senhora Helena foi atender, demorou um pouco lá fora.

- Quem será? Minha mãe está demorando. - Ellie estava curiosa.

- Quer que eu vá ver quem é? - Perguntei.

- Não, logo ela volta. - Estava acabando de falar, ela entrou porta a dentro com uma caixa enorme nas mãos.

- Abdiel, você pode me ajudar?

- Claro que sim. - Levantei mais que depressa e a ajudei. Ela pediu para colocar a caixa em cima da mesa.

- Isso aqui é para você, Ellie.

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