Troubles

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Point of view Kornkamon

Longos minutos haviam se passado após aquela ligação e tudo que Samanun fazia até então era andar de um lado para outro. Seu celular estava em cacos espalhados pela sala e eu permanecia imóvel, sentada no sofá. Não sabia o que fazer, muito menos se devia fazer algo, apenas esperava que ela se acalmasse e me contasse o que estava acontecendo. Repentinamente a porta da sala se abriu e por ela entrou Nam e Song, ambas com olhos arregalados e apáticas. Samanun congelou olhando para amiga, pareciam conversar entre si, enquanto eu e Song assistíamos.

- Song, vá com Kornkamon comprar alguma coisa para comermos. - Nam olhou firmemente para a esposa enquanto falava. Suas palavras tinham um significado diferente de seu olhar. Enquanto sua voz dizia para irmos comprar algo para comer, seus olhos diziam para deixarmos elas a sós. Song assentiu e eu fui obrigada a me levantar e sair.

Nós andávamos em completo silêncio, Song acariciava sua enorme barriga e eu imaginava que raios estava acontecendo com Sam. As ruas estavam bem frias e ainda molhadas pela chuva que recém havia deixado de cair. Me arrependi de não ter pego um casaco antes de sair, então, para me proteger da invernia, eu esfregava meus braços e pensava no calor do sol.

- Vamos entrar aqui. - Song disse e apontou para o bar à sua direita. Nós entramos e nos sentamos em uma mesa aos fundos.

- O que as senhoritas vão beber? - Perguntou o garçom bem apessoado, segurando um bloco de folhas e uma caneta.

- Um Martini para mim. - Falou Song. Estranhei ela beber mesmo estando grávida, mas resolvi não comentar.

- O mesmo para mim. - Eu disse. O rapaz anotou e exibiu um sorriso leve antes de sair.

- O pai da Samanun morreu hoje. - Song soltou aquilo de uma vez e me encarou firme.

- O-o que? - Foi tudo que consegui expressar. Ela balançou a cabeça afirmando e a apatia de sua expressão só piorava.

- Ele morreu no hospital, estava internado desde sexta e essa nem é a pior parte... - Ela fez uma breve pausa, pois o garçom havia trago nossas bebidas. Song bebeu de uma vez todo o Martini de sua taça e voltou a me olhar. - Acharam nos registros dele que ele deixou outra filha, ou seja, Samanun tem uma irmã.

- Céus... - Massageei minhas têmporas. - Por isso ela estava furiosa.

- Não é só isso... - Song tremeu por instantes e se sacudiu. Parecia querer afastar algo de sua proximidade. - Samanun terá que ir resolver as coisas do velório, terá que ver roupas e cuidar dos bens, pois a outra filha não quer saber.

- Song... Céus... - Soltei o ar que estava preso em meus pulmões.

- Serão dias difíceis. - Constatou ela, encarando a azeitona presa ao palito dentro de sua taça.

Point of view Samanun

Me desfiz de minhas roupas e as coloquei no cesto, entrei para dentro do box, prendi meus cabelos em um coque alto e abri a ducha. A água se derramou quente por minha pele. As gotículas deslizavam sobre meu couro e se espalhavam por toda extensão de meu corpo. Relaxei meus ombros, movi meu pescoço lentamente de um lado para o outro e o mesmo estalou. Eu fechei meus olhos e tentei me concentrar apenas no toque das gotas quentes em meu corpo, mas a voz de Kade contando-me as notícias fatídicas rompia meus pensamentos fazendo alarde e ensurdecendo meus neurônios. As lembranças do pai abusivo e cruel se alastraram por minha memória e as mentiras que ele dizia para minha mãe sobre "ela ser a única em sua vida" me fizeram rir de desgosto. Me sentia imunda por vir de alguém tão desprezível e por mais que eu balançasse a cabeça, ou tentasse pensar em outras coisas, a raiva e a mágoa não se dissipavam. A mágoa daquelas malditas lembranças transformou-se em raiva e de repente, as lágrimas rolaram, disfarçando-se nas gotículas de água que caiam do chuveiro. Cerrei meus punhos e soquei por vezes seguidas a parede de azulejo branco. Soquei com toda força de meus músculos, senti meus ossos doerem e vi meu sangue grudar no azulejo. Nova coloração para eles. Meu maxilar era apertado com tamanha força que já estava vendo a hora que meus dentes iam se estilhaçar e eu prendia lágrimas, não queria que elas caíssem, então, eu as fazia voltar para dentro das retinas. Fechei a água, me enrolei na toalha e saí do box. Me sentia estranha, incomodada e enjoada. A ânsia subia minha garganta e descia amarga. Eu engolia meu vômito com o uísque do cantil que guardava na gaveta do banheiro e o amargo tornava-se tragável. Vesti uma calça jeans escura, calcei meu coturno surrado e vesti uma blusa social preta que estava amassada o suficiente para parecer ter sido mastigada por um boi, mas não me incomodei. Saí pela porta do quarto com a blusa aberta, cadarços desamarrados e a pior cara de derrota possível. Nam estava sentada no sofá, Mon estava com Song e ainda não haviam regressado.

The Last Coffee (Em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora