Point of view Samanun
- Eu posso ver o corpo? - Perguntei em voz baixa para a médica e ela pareceu se assustar.
- Tem certeza disso, senhorita? - Ela me olhou com bastante preocupação. Eu assenti. - Siga-me. - Disse e eu obedeci.
Andamos por um longo corredor e passando por uma grande porta de vidro o ar esfriou drasticamente. Abracei-me com meus próprios braços e vi a moça me olhar de canto. Nós entramos num corredor cheio de cortinas e gavetas, parecia uma geladeira de defuntos.
- A senhorita tem certeza? - Ela perguntou novamente, e, naquele instante, eu já não tinha mais certeza. - Senhorita? - Insistiu fazendo-me notar que ainda não havia lhe respondido.
- Oh, desculpe, tenho.
Ela puxou uma cortina fosca para o lado e eu vi o corpo coberto por um lençol. Eu congelei e senti fraquejar as pernas e rapidamente a moça fechou a cortina.
- Venha comigo. - Ela disse. - Aqui não é lugar para você, mocinha. Aqui não é lugar nem para os que estão aqui.
A senhora foi me puxando pelo braço rumo à saída daquele freezer da morte. Novamente senti calor e senti meu sangue. Senti que estava viva. Ainda sendo segurada pelo braço, ela me levou até sua sala, me colocou sentada e me deu um copo cheio de algum líquido. Eu bebi e não percebi se estava quente ou fria, ou se era mesmo água.
- Primeira perda?
Quando a olhei, ela já estava sentada em sua cadeira e me olhava atenta. Neguei com a cabeça.
- Minha mãe morreu quando eu tinha quatorze ou quinze anos.
- Entendo.
Eu bebi mais água e senti gosto. Não era água. Era café. Estava quente e queimou minha língua.
- Eu terei que vesti-lo?
- Mesmo se tivesse eu não deixaria que fizesse isso. Você entrou em transe apenas o vendo coberto por um lençol, não a coloria em uma situação tão pesada como ter que vesti-lo.
A doçura das palavras da moça estavam trazendo uma calma desconhecida, ou ela havia colocado calmante naquele café.
- Eu o vestirei pessoalmente e o colocarei nas mãos dos funerários que contratar.
Apenas concordei.- Ele era um bom pai?
Nessa hora eu a olhei firme. Era mortificante ouvir aquela pergunta inocente.
- Nunca foi. - Eu disse encarando o copo de plástico vazio. - Nem depois de morto. - Ergui meu olhar para a médica e ela me observava.
- Sinto muito.
- Não sinta.
(...)
- Sam, eu estava preocupada!
Mon saltou do sofá e veio em minha direção assim que me viu cruzar a porta. Eu a abracei forte e por cima de seu ombro vi uma criatura também feminina que jamais havia visto antes. Quando nos separamos, Mon segurou meu rosto e beijou meus lábios. Eu me rendi, fechei os olhos e deixei que aquele beijo acontecesse. Eu precisava dele. Precisava dela. Nos beijamos por longos minutos e quando nos separamos, eu me sentia umas vinte toneladas mais leve.
- Quem é ela? - Sussurrei para Mon e olhei rapidamente para a moça de cabelos castanhos claros sentada no sofá.
- Acho melhor que ela se apresente. - O doce anjo disse e eu acatei. Quem era eu para discordar de suas decisões?!
Ela tomou a frente e eu a abracei por trás, e andamos em passos ritmados em direção ao sofá. A moça levantou e parou em minha frente. Mon se sentou e Son e Nam surgiram de algum canto da casa ajeitando suas roupas. Coelhas.
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The Last Coffee (Em revisão)
RomanceEla era uma escritora no auge de seu fracasso, não vendia mais livros, nem escrevia mais poemas, ainda não havia aprendido o quão bela era a poesia de um coração em desordem. Enquanto isso, do outro lado de um balcão, esperando-a com mais um café qu...