Ali, tudo começaria do zero.

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Point of view Samanun

Sentada na varanda, eu encarava o céu. Minha vista ardia, o sol estava a pino e brilhava em meus olhos. Mas, sentada na varanda, eu encarava o céu. O velório havia se passado e todos havíamos passado boa parte daquele dia juntos, mas aos poucos minha casa foi se esvaziando e agora, eu estava só, encarando a infinita tela azul ciano, esperando que algo grandioso acontecesse e me tirasse daquela névoa densa de pensamentos enfadonhos e importunos. Eu estava sentada ali há horas e revirava minhas memórias como uma criança revira o baú de brinquedos em busca de algo inédito. Eu estava revirando meus miolos buscando um motivo que me fizesse entristecer pelo fatídico velório. No meu lugar, muitos estariam aos prantos, perdendo os sentidos, as razões, as estribeiras. Mas eu estava ali, sóbria, oca, encarando o céu.

- Sam?

Seguida da voz de Mon, ouvi a porta da sala se fechar. Algo grandioso me tirou da névoa e fez meu coração bater forte o suficiente para que eu me lembrasse que não era um robô e que tinha vida correndo em minhas veias.

- Samanun, aonde você está?

Ela perguntou e ouvi seus passos seguindo pelo corredor.

- Na varanda!

Falei alto o suficiente para que ela ouvisse e aguardei ansiosa por sua aparição, já preparando meus pulmões para a falta de ar que se aproximava. E foi assim. Ela surgiu na porta da varanda e como um holofote celeste, o sol iluminou toda aquela mulher, banhando seus cabelos, roupas e pele, e lá se foi meu ar. Eu sorri e nesse instante notei que algo estava estranho. Ela não sorriu de volta. Mon estava pálida, tinha os olhos grandes, a respiração irregular e tremia as mãos, enquanto me olhava com temor.

- Mon, o que houve?

Me desencostei da cadeira e direcionei meu olhar ao seu. Me apertou o coração vê-la me encarando daquela forma, como se algo gravíssimo tivesse ocorrido. Em dias tão atormentados, por estranheza do destino, ou da vida, ou por estar calejada, eu mantive uma extrema calmaria e permaneci olhando para a bela mulher parada de frente para mim. Os olhos amendoados foram inundados e se avermelharam. Nenhuma lágrima caiu. Elas congelaram naquelas retinas. Mon se sentou derrotada na cadeira ao lado da minha. Suspirou como se fosse seu último ar. Fechou os olhos e apertou as pálpebras libertando as lágrimas que estavam aprisionadas. Mon encarou suas próprias mãos e caiu em pranto. Exasperada, eu me levantei e flexionando meus joelhos, parei de frente a mulher. Fatias finas eram cortadas lentamente de meu coração. Vê-la chorar causava em mim o misto doloroso de pânico e inutilidade. Segurei levemente em seu queixo e ergui seu rosto para olha-la nos olhos. As íris vacilantes entraram em conexão com as minhas. Eu podia ver sua alma inquieta refletida em seus olhos. Resolvi acariciar seu rosto. Lentamente deslizei minha mão sobre sua pele, ela pousou sua mão sobre a minha e fechou os olhos. Eu estava extremamente assustada e curiosa, mas a calmaria que habitava em mim era similar a que acontece no mar após uma forte tempestade.

- Eu acho que te amo... - Mon soltou aquilo como um segredo, sussurrando e de olhos fechados, ainda sentindo minha mão em sua pele. - Eu acho que te amo até mais do que deveria. - Ela abriu os olhos. Duas lágrimas corajosas se atiraram em queda livre por seu rosto. - Acho não. Tenho certeza. Eu te amo e não deveria amar, porque agora vai ser muito mais difícil te deixar.

Franzi o cenho involuntariamente.

- Me deixar? - Indaguei com estranheza. - O que houve? Eu fiz algo errado?

Mon segurou minha mão que estava em seu rosto e afastou de sua pele. Ela beijou minha mão e pousando nossas mãos unidas em sua coxa. Ela observou aquele contato, aquela união. Resolvi fazer o mesmo e me admirei. Era lindo! A forma como combinavamos perfeitamente, assim como meus olhos combinavam com os seus, assim como meu sorriso combinava de aparecer junto com o dela.

The Last Coffee (Em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora