Point of view Kornkamon
Despertei um tanto confusa, quando abri os olhos a confusão aumentou. Estava escuro, silencioso e frio, tive que forçar minha vista para que retomasse o foco e eu percebesse que estava no quarto de Samanun. Meu corpo tinha como coberta o fino lençol branco, eu estava nua e senti o perfume de Sam em mim quando esfreguei meu rosto com as mãos. Ela não estava na cama, nem no quarto. A porta estava fechada e pela fresta de baixo, pude ver que havia uma luz acesa. Ela estava em casa. Tateei o abajur e o acendi. A luz alaranjada iluminou parcialmente o quarto, e assim, pude ver na cama um moletom dobradinho com um bilhetinho em cima dizendo que era para eu vestir caso sentisse frio. Não pensei duas vezes na ideia de vesti-lo, mas antes tomaria um banho. Pisei fora da cama e o contato frio do piso com meus pés quentes me fez arrepiar. Caminhei apressada e na ponta dos pés até o banheiro, deixei o moletom em cima do armarinho e mantive meus cabelos soltos. Entrei no box de vidro, fechei a porta e abri a ducha. Inicialmente a água veio fria, mas aos poucos foi esquentando e transformando aquele toque de gotas molhadas em algo relaxante. Inclinei minha cabeça e deixei que a água viesse direto em meus cabelos, como se fosse lavar meus pensamentos das impurezas. Meu corpo pesava pouco aos pés do que sentia pesar em minha cabeça. Toneladas de pensamentos, medos e dúvidas. Afastei meus pensamentos balançando a cabeça e voltei a me banhar. Lavei meus cabelos e ensaboei parte do meu corpo. No momento que fui ensaboar minha barriga, senti tremer minhas mãos. Meu ventre ainda linear não duraria muito, logo o volume iria aparecer e com ele, mais problemas. Jamie havia saído da minha vida. Sido expulso, melhor dizendo. Mas havia me deixado um presente de recordação. Jamais encararia aquela gravidez como algo negativo, a pequena vida que se iniciava em mim não tinha culpa alguma. Eu estava há três anos com ele, noiva, de casamento marcado. Naquela altura, proteção era minha última preocupação. E naquele instante, enquanto tomava banho e a ficha de que eu estava grávida teimava em não querer cair, eu me desesperava. Sam havia aceitado aquilo, mas, até quando duraria sua aceitação? O que diria para os meus pais? O que eu diria para aquela criança? Muitas perguntas, poucas respostas.
O tempo de baixo do chuveiro parecia curto, mas minhas mãos enrugadas e o box enfumaçado diziam que longos minutos haviam se passado. Eu fechei a água, abri a porta do box e senti o frio aumentar. Me enrolei na toalha e após me secar, vesti o moletom. Assim que terminei de vesti-lo, me olhei no enorme espelho do guarda-roupas de Sam e ri do quão grande aquilo havia ficado em mim. O moletom cinza batia perto de meus joelhos, mas era minha única vestimenta para o resto daquela noite.
- Song, eu estou falando sério, pare de me zoar!
Samanun falou alto até demais e gargalhou. Ela deveria estava falando ao telefone, pois sua voz veio se aproximando e quando chegou na porta ela se despediu e aparentemente desligou. Vi a maçaneta girar lentamente e aos poucos a porta ser aberta. Ela colocou a cabeça para dentro e não me vendo na cama, sua expressão mudou de forma cômica.
- Se olhar um pouco mais para o lado, eu agradeço. - Falei e ela rapidamente olhou em minha direção.
- Aí está você, bela adormecida! - Exclamou sorridente e entrou. - Pensei que não acordaria mais hoje. - Ela veio se aproximando e me olhando de um jeito estranho.
- Você não estava na cama, me aquecendo, senti frio e acabei despertando. - Comentei cruzando os braços, fingindo estar brava.
- Desculpa, Mon, eu precisava resolver uns assuntos com Song.
Foi lindo vê-la tão preocupada em se desculpar e ao notar que eu estava brincando, ela avançou um passo grande e ficou bem próxima a mim. Os olhos fixaram-se aos meus e os meus lábios se aproximaram dos seus.
Point of view Samanun
De volta ao bairro onde fui criada, eu andava com o nariz empinado pelas ruas. Era bom para o meu ego ver que enquanto todos ainda não haviam saído do lugar, eu já tinha dado a volta ao mundo. Enquanto o carteiro ainda era o mesmo, eu já havia sido famosa. Enquanto a mercearia ainda cobrava o mesmo devedor, eu já havia incendiado meu apartamento e agora tinha um novo. De volta ao bairro onde fui criada, eu andava inabalável feito uma rocha e eles me reconheciam.
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The Last Coffee (Em revisão)
RomantizmEla era uma escritora no auge de seu fracasso, não vendia mais livros, nem escrevia mais poemas, ainda não havia aprendido o quão bela era a poesia de um coração em desordem. Enquanto isso, do outro lado de um balcão, esperando-a com mais um café qu...