Point of view Samanun
A noite ainda estava presente, as estrelas ainda no céu, a lua ainda brilhava, e, naquele quarto, eu sentia as paredes apertarem a grandeza dos sentimentos que saiam de mim naquela madrugada. Fitando os astros celestes do céu marfim, eu repensava todos meus conceitos e me sentia mais adulta do que quando acordei na manhã anterior. De um dia para o outro, eu havia crescido o que em anos eu não evoluíra. E, desprendendo o olhar que fitava as estrelas, eu me voltava em admiração à mulher que dormia ao meu lado. Parecia um anjo. Um belíssimo anjo vindo do céu para mudar toda a minha vida. Kornkamon. Esse nome se eternizava e era tatuado em meu coração, transformando ela na mulher que mais deixara marcas em mim. Ela, que em tão pouco tempo, ousou fazer da minha vida uma escola, fez de mim sua aluna. Eu que me achava tão esperta, percebi, naquela madrugada, que eu não passava de uma criança até conhece-la. Com Mon eu aprendi que o amor só é possível quando entramos um no tempo do outro. Cessando as exigências, olhando nos olhos e aceitando que cada um possuí imperfeições. Todos nós temos defeitos, mas quando o amor vem de forma verdadeira, nossas falhas transformam-se em detalhes tão pequenos, que dentro de uma troca de olhares apaixonados, eles passam a não existir. O amor só é possível, quando dentro dos corações, há a imensa vontade de caminhar junto, independente das pedras no caminho. Eu, sempre apressada, ela sempre tão serena. Tempos diferentes, mas que de mãos entrelaçadas, caminharam juntos, no mesmo compasso. "Mas como isso é possível?", você me pergunta agora, e eu lhe respondo: Eu sempre andei de pressa. Sempre fiz minha vida correr mais veloz que o relógio. Mas quando a vi, andando calmamente pela vida, apreciando cada segundo, cada passo. Achei tão curioso que quis andar ao seu lado. Eu em minha pressa, quis seguir seus passos e olhar com seus olhos o mundo a minha volta. Ela me ensinou tantas coisas em um curto espaço de tempo. Provando para mim, que o amor é o milagre da inteligência humana. Sem o amor, todos nós somos grandes tolos, correndo em círculos. Ela suspirou, porém, não veio a despertar, apenas moveu seu corpo, ajeitando o travesseiro em baixo de sua cabeça. Ah, aquele rosto... Aqueles traços. Sem que eu notasse, já estava sorrindo e me recordando de como tudo me havia acontecido. Me lembrei do bar, da cafeteria e de tudo que nos aconteceu. Me lembrei de sentar com ela e ficar olhando a forma que ela fazia desenhos com a mão no ar, enquanto falava. Recordei-me de como ela se expressava e de como era doce em cada olhar. Eu, em minha contemplação, ficava tentando decorar dentro de mim, o que o tempo um dia irá levar. De forma desesperada e apaixonada, gravei cada gesto dela, para que um dia, em minha velhice, eu pudesse me lembrar vagamente de alguns de seus gestos e pudesse assim, sorrir. Mon me ensinou que o tempo urge. Que para os amantes, o tempo é o maior rival. O "tic tac" não para e o agora é muito mais importante quando se ama. E, por não saber o quanto de tempo me resta, eu descubro que a melhor forma de eternizar ela em mim é amando. É vivendo esse espaço de tempo, compartilhando minhas poucas sabedorias, com as suas grandes riquezas de uma visão completamente bela do mundo. Esse tempo em que nos misturamos uma à outra, não só na cama, mas nas conversas, nos gostos, nos risos. Esse tempo que a vida me permite acordar ao seu lado, como nessa manhã e contemplar o milagre que aconteceu comigo. Então, vendo esse belo anjo repousando, eu descubro que agora tenho a chance de dar a ela minha melhor parte. Já que se o milagre aconteceu, agora, só me resta fazer por merecer. E, por saber que a vida é cheia de surpresas, eu aprendo, olhando para aquela doce mulher, que o amor, é o agora. É uma rosa, um café na cama, um sorriso. O amor não é o que fizemos ontem, nem o que faremos amanhã. O amor é o que estou fazendo agora. É o olhar de vislumbre que deposito nela, no momento em que o sol está nascendo e de olhos atentos, eu a vejo dormir.
(...)
A manhã já havia despontado totalmente. Era pouco mais que sete da manhã, Mon ainda não havia despertado e eu compreendia perfeitamente seu cansaço. Nossa noite havia sido longa. Tomando a liberdade de dar à ela um dia de folga, mandei para Kade uma mensagem pedindo que ela conversasse com Ally e assim, ela dispensasse Mon por aquele dia. Minha amiga confirmou que faria aquilo e eu relaxei. Saindo de perto da janela, tornei a me deitar. Mexi no celular. Encarei o teto. Contei as voltas que o ventilador de teto fazia enquanto girava rapidamente e já cansada de ficar naquele quarto, pulei da cama e abrindo delicadamente a porta, coloquei a cara para fora. Tudo estava em pleno silêncio, eu poderia descer, fumar meu cigarro, comprar um café e depois voltar e esperar que Mon acordasse para conversarmos com seus pais. Percebendo que ainda estava de roupas íntimas, cacei pelo quarto minha calça, meu coturno e minha camisa. Após me vestir, tornei a abrir a porta. O silencio ainda permanecia. Coloquei um pé para fora, depois o outro e fechei a porta lentamente. Pisando com a suavidade de um felino matreiro, avancei o corredor, alcancei a escada e desci.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Last Coffee (Em revisão)
RomanceEla era uma escritora no auge de seu fracasso, não vendia mais livros, nem escrevia mais poemas, ainda não havia aprendido o quão bela era a poesia de um coração em desordem. Enquanto isso, do outro lado de um balcão, esperando-a com mais um café qu...