Cartas Do Sol.

Depois de você partir.

Eu me perdi entre os dias, mas faz 1 mês depois da sua morte, meu amor. Estou na Coreia, eu e Soo-Bin não aguentamos a turbulência das nossas vidas e acabamos por sair do Brasil por um tempo indeterminado, em pensar que nunca sairia sem ti, hoje estou em Seoul, pensando se você estaria tão deslumbrado como eu em ver tanta beleza.

Estou sendo acompanhado pela psicóloga, ela me orienta a fazer cartas pra você, mesmo que seja difícil pra mim, eu tô tentando.

Eu tô com medo...

Eu queria que você voltasse pra casa...

Eu, Goré, Serginho e Miau estamos com saudades...

Eu quero cumprir minhas promessas, eu não queria que você fosse assim, não agora, eu sinto tanto, tanto, tanto a sua falta, eu não consigo lidar com a saudades e a necessidade de te ter aqui, eu quero chorar, eu queria gritar, queria ter alguma forma de conversar com você, de chorar minhas dores em seu colo, de me sentir feliz com meu marido...

Mas não dá

E isso dói tanto

Dói acordar todos os dias e não te ver do meu lado, dói todos os dias pensar que Natan e Ana Júlia não vai ter o papi Renan com eles. Droga, Renan, eu ando tão frustrado sem ti, eu preciso tanto do seu amor, eu não entendo o porquê a vida te tirou de mim desse jeito, eu não mereço isso, não mereço uma vida sem ti.

Você acha que no futuro a gente vai se encontrar de novo? Vai se amar tão intensamente quanto nós nos amávamos? Eu queria te ver só mais uma vez.

Eu te falei, do lado daquela cama, eu te prometi que ficaria tudo bem, eu sou um grande mentiroso né? Me perdoa, meu amor, eu queria ter o controle do mundo e só ter te feito o bem, mas não consegui, seu sol não conseguiu te proteger pra sempre.

Meu mar não acordou, tá em silêncio, não rebate mais na minha pele, acho que o mar tem consciência de que ele não tem mais sentido pra mim, eu queria que você fosse o mar e me levasse pro horizonte pra nunca mais voltar, pra eu sempre ficar envolto a ti, Renan, eu sinto tanto.

Eu tenho medo de ficar sozinho, sinto muito frio, me sinto abandonado, eu queria ter ido contigo, eu queria eternizar nós dois, mas não deu, mas você vai sempre ficar eternizado na minha pele e nas minhas memórias.

Soo-Bin tem dormido ao meu lado essas noites, os dois tão desolados, acredita que ele terminou com meu pai? Ele chegou em nossa casa tão triste que não conseguia nem conter minhas lágrimas quando ele me contou tudo e me abraçou como se tivesse medo de ficar solitário, igual eu.

Falando em casa... Eu não consigo entrar naquela casa, na nossa casa, tudo ali me faz lembrar de você, ficar ali me deixa cansado, me falta ar, não consigo entrar no nosso quarto sem chorar até desmaiar, é uma dor enorme que não cabe no peito, dói meu corpo inteiro, cada canto daquela casa vivemos um eterno amor, mas não consigo, amor, dói demais pro meu corpo aguentar, dói demais saber que nunca mais vou viver esse amor tão intenso e tão único, e por isso que vendi ela, vendi para um casal de velhinhos, aqueles velhinhos que a gente observava de longe e sonhava em ser igual eles, eles são incríveis, toda semana me enviam todo tipo de remédio para curar-me da minha dor.

Levei nossas coisas pra minha nova casa, moro com Soo-Bin no Brasil, na casa onde meu pai habitou por um tempo, até eu conseguir me estabilizar mentalmente, ficarei com Soo-Bin, eu não consigo, amor, eu tenho medo de ficar sozinho. Recentemente encontrei Serginho no meio das suas roupas de novo, ele sente tanta falta, será que ele entenderia se eu dissesse que o papai dele não vai voltar pra casa? Goré passa a tarde inteira parado em frente a porta à sua espera, mas não consegue ficar até altas horas da manhã, ele passa mais tempo com Soo-Bin e Koo-Mii, acho que ele sente o seu instinto super protetor neles, entretanto, da seguintes forma que Serginho, ele não sai da caixa aonde guardei suas roupas, eu não consigo me desfazer daquilo, de vez em quanto eu reviro aquela caixa, me enrolando em suas camisas, chorando sobre seus diversos moletons, não me separo de seus anéis, cordões, pulseiras, recentemente achei a pulseira que te dei no nosso pedido de namoro, eu vivo fugindo disso, fugir de me apegar em objetos que você usava, mas não dá, eu sinto falta, tudo ainda tem seu cheiro, o seu perfume, eu não consigo largar isso agora, mesmo que eu tenha saído daquela casa, eu sou atormentado pelas memórias, sou atormentado pelo sentimento de culpa por não ter te salvado, sempre que isso me vem em mente, não tem quem me ajude, tá tudo tão difícil, as vezes eu só queria te encontrar e ficar contigo pela eternidade e viver feliz, mas não posso, eu odeio não poder.

Odeio não conseguir superar tudo isso, odeio sonhar contigo, conversando sobre a vida mesmo sabendo que quando eu acordar, você não vai estar lá, odeio todas as memórias que voltam igual balas, atormentando minha cabeça com a culpa que eu sei que não tenho, odeio te amar tanto, odeio que mesmo depois de você partir, eu ainda espero que você passe por aquela porta, me beije, me abrace, conte como seu dia foi cheio e a noite dormir abraçados depois de um dia cansativo, eu ainda te espero, eu ainda acredito que tudo isso é um sonho e quando eu acordar, vai tiver estar eu e você juntos na mesma cama, na mesma casa, de baixo dos mesmos lençóis e vestindo os pijamas esfarrapados que a gente comprou na 25 de março e nunca jogou fora, eu queria poder me desfazer deles.

Recentemente, Soo-Bin encontrou as coisas dos ex-namorados dele, eu vi com meus olhos o que tava acontecendo comigo, nele, eu vi aonde eu estava caminhando quando eu consegui me ver nele, ele jogou tudo na sala, deitou sobre várias camisas e chorou por horas, foi agoniante tentar ajudar e ele gritar pra eu sair de perto dele, aí eu entendi o quão ruim é estar com uma pessoa que está de luto e não querer ajuda, eu sempre negava ajuda, neguei a ajuda que Soo-Bin me dava até a última tentativa, era tão agoniante que não conseguia, eu precisava lidar com essa dor sozinho sabe? Mas eu não consigo, sinto que irei carregar essa dor todos os dias comigo.

Lilipe voltou a falar comigo, a gente conseguiu conversar e resolver, eu não me sinto mais tão sozinho, aos poucos eu venho falando com Ramona, mesmo que indiretamente, eles me ajudam muito com a superação e o meu eterno luto, e eu sou grato a eles por terem me perdoado e me aceitado de volta quando eu mais precisei, eu me arrependo tanto de ter deixado tudo isso acontecer, mas não dá pra voltar atrás, agora eu tenho que seguir uma outra vida, onde é só Sergy, Phillipe e Ramona, como sempre foi.

Sabe o que mais dói? É superar tudo isso, superar que você não vai mais voltar pra mim, que eu sempre serei seu sol, mas meu mar nunca mais vai me proteger dos meus demônios, isso dói tanto, mas não tenho outra saída a não ser superar e seguir em frente.

Renan, eu te amo, você sempre será pra mim o mar que me acalma, você vai estar sempre nas minhas memórias, eu vou carregar você comigo até o dia em que eu acabarei com tudo isso, até chegar o dia em que eu descansarei, até chegar o dia que pararei de chorar como uma criança com saudades do seu " Eu te amo ", pode ser cedo ou tarde, mas esse dia precisa chegar, pra que eu consiga seguir em frente, eu te amo tanto, eu sinto tanta a sua falta, você fazia minha vida ter sentido, mas agora sinto que terei que encontrar sentido em mim, dentro de mim.

Eu me sinto orgulhoso por conseguir escrever a primeira carta para ti, mesmo que tenha demorado dias, que o papel esteja todo manchado e encharcado das minhas lágrimas, eu tô feliz, eu quero fazer isso até que um dia eu deixe você descansar em paz, então por favor, me deixe te amar até esse dia.

Eu te amo, Renan.

Com amor, Sergy Neves.