Bocas em suas mãos

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               Bocas Em Suas Mãos

O ar que bate em nós é frio e o cheiro de terra molhada me deixa nostálgico. Minhas pernas e braços estão doendo pelo tempo em que carrego Deidara, mas eu nunca diria isso a ele. 

Não sei onde estamos indo, porque não estamos indo a lugar nenhum. Não vamos conseguir sair sem antes pegar os lenços e isso considerando que não foi tudo uma mentira, porque tudo parece apenas um jogo doentio para mim.

Somos os ratos brancos dentro do labirinto, sem ter nenhuma garantia que a saída nos dita existe ou foi apenas algo à nos instigar à nos destruírmos. Mas acho que é as duas coisas. 

Tenho certeza que não consigo matar alguém nem mesmo se as coisas chegarem a esse extremo e espero fervorosamente que elas não cheguem. 

Paramos de andar quando notamos as partes de terra e madeira queimada no chão. Duas fogueiras haviam sido feitas ali durante a noite. Eu deixo Deidara deslizar para o chão antes de me abaixar e ponho a mão sobre as cinzas, molhadas. 

— Por que fazer duas fogueiras? — Pergunto levantando o queixo e encontro o olhar de Sakura. Ela dá de ombros tentando parecer despreocupada, mas só parece mais preocupada. 

— A noite foi muito fria ou simplesmente queriam, quem sabe? — Ela responde. 

Abro a boca e ela fica em suspenso até as palavras acharem caminho para fora. 

— Eu acho que é um grupo grande, é isso que eu acho.— Digo levantando. Enfio as mãos nos bolsos frontais da jaqueta. 

Não podemos com um grupo grande. 

— Vamos.— Gaara faz um movimento de cabeça. Deidara se aproxima de mim. Puxa minha mão direita de dentro do bolso segurando-a firme. Quando nossas palmas se encontram algo na sua está fervilhando, se movendo, serpenteando e quase puxo a minha de volta. 

Ele olha para cima em meu rosto. 

— Posso segurar a sua mão? 

Eu sorrio o mais compreensivo que consigo. Por um momento algo em minha garganta entalou e eu engulo. 

— Sim.— Respondo apertando sua mão um pouco. Quero dizê-lo "Não precisa ter medo", mas não sou bom com as palavras.



O som de chuva batendo contra o teto de nossa casa gentilmente me puxa para consciência. Luto para retornar ao sono, entretanto, enrolado num quente bolo de cobertores, seguro em casa. Vagamente estou consciente de que minha cabeça dói. Possivelmente eu tenho gripe e é por isso que posso ficar na cama, embora possa dizer que dormi por muito tempo. A mão da minha mãe acaricia minha bochecha e não a afasto como eu faria se estivesse totalmente acordado. Então há uma voz, uma voz errada, não da minha mãe, e estou com medo.

Meus olhos se abrem e a sensação de segurança desaparece. Não estou em casa. Estou encolhido debaixo das espessas raízes de uma árvore, os raios de sol passam pelas grandes brechas e enquanto Sakura se arrasta para fora, tenho a vontade inversa de nunca sair, jamais sair, como se estivesse invisível ali dentro e o invisível me parece muito seguro. 

Mas Sakura que antes chamou meu nome, sabe que eu estava acordado e não quero ser uma preocupação quando temos coisas tão importantes com as quais nos preocupar. Por isso saio ficando de pé quando chego para fora. A barriga de Ino ronca e ela solta um resmungo que eu não entendo. 

Gaara começa a caminhar e nós vamos atrás. Sinceramente, parecíamos bem melhor ontem, mesmo com todos as dores, com todos os vômitos, com todos os gritos, parecíamos melhor porque tínhamos mais esperança. Até agora ninguém resolveu dizer algo; da minha parte, eu apenas não estou com vontade de abrir a boca. 

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⏰ Última atualização: Apr 11 ⏰

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