Cap. 30

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- Tá tudo bem? Sei que não deve ter sido fácil escutar as coisas que Eliza falou! – Larissa disse.

Elas estavam deitadas na cama no quarto de Ohana, prontas para dormir. Todas tinham jantado na mesa juntas e puderam curtir a presença de Jeremiah de volta. Por causa do repouso que ele precisava, assim que terminou a janta voltou para o quarto e ficou sentado na cama com uma pilha de travesseiros nas costas.

Preocupadas em deixa-lo sozinho com Eliza logo nos primeiros momentos, ficaram no quarto com eles até chegar a hora dele dormir. E o que chocou elas, foi a postura de Eliza dentro do quarto. Ela havia deitado na cama ao lado de Jeremiah e escutava ele contando como foi a experiência no hospital atenta, enquanto fazia um carinho no braço dele.

Ohana e Alex trocavam olhares direto por conta disso. Esse era o máximo de intimidade entre os pais que elas haviam presenciado até agora, já que a própria Eliza não as deixava compartilhar momentos juntos assim quando criança. Quem ia no quarto delas era Jeremiah, conversavam, liam histórias juntos, brincavam. Mas, nunca faziam essas coisas com Eliza. E muito menos com os dois na mesma hora.

Depois que o pai saia do quarto, passavam poucos minutos e Eliza chegava. Era como uma rotina, ela entrava no quarto, olhava para as duas e perguntava: "Do que brincaram hoje?", as meninas contavam animada e sempre perguntavam se a brincadeira seria com ela no outro dia, mas a mesma dizia que não era boa com esse tipo de coisa e nunca vinha realmente brincar. Quando terminavam de contar, ela falava as regras, que consideravam até bem simples. "Sem demorar pra dormir, sem brigas, as 6:00 em ponto era pra estar em pé e nunca, em hipótese alguma, era pra deixar outras pessoas tocarem em seus corpos, nem mesmo Jeremiah, nem mesmo ela, só se fosse em momento de urgência." Isso elas sempre aprenderam desde cedo.

Quando terminava de falar, simplesmente deixava o quarto. Era o momento que as meninas se divertiam vendo a sobra dos pés de Eliza do outro lado da porta. Elas sempre se olhavam e cobriam as bocas para não rirem. Escutavam ela sussurrar algo que era inaudível e alguns minutos depois, a sombra ia embora.

Era o momento que elas tentavam adivinhar o que sua mãe fazia. Alex sempre chutava que ela era uma agente secreta e ficava na porta ligando todos os sistemas de segurança que elas não enxergavam. Por isso mesmo elas não andavam na casa durante a noite, ela sempre dizia que teriam luzes vermelhas no chão e que se passassem, ativariam o alarme, igual nos filmes.

Ohana chutava que era porque ela era na verdade uma fada e estava jogando o pó magico e as magias para protege-las. E que não era pra andar de madrugada porque o pó que ela jogou, fariam elas levitarem e não conseguirem voltar pro chão.

E gostavam de manter essa brincadeira entre elas, pelo menos até chegar a adolescência. E ai elas só olhavam para o chão e reviravam os olhos, esperando ansiosamente que ela fosse logo embora pra poderem conversar. Até que chegou o dia da divisão de quartos.

A partir daí, Eliza ia primeiro no quarto de Alex e depois no de Ohana. Quando ela saia e a sombra sumia, Ohana avisava pra Alex, já que tinham seus primeiros celulares. Então a mais velha ia para seu quarto e elas ficavam conversando e jogando baralho até tarde.

Entre essas conversas elas falavam sobre como Eliza agia quando era elas sozinhas. Alex dizia que agora a conversa tinha mudado e ela não falava mais as regras sobre não deixar ninguém as tocar, que sempre perguntava se tinha um namorado. E com Ohana não era diferente. Porém o que descobriram depois de um tempo era que com Alex, Eliza não a olhava, falava tudo de cabeça baixa. Já com Ohana, falava olhando nos olhos. Como a loira não queria que Alex se sentisse mal com isso, acabava sempre mudando o assunto.

Mas, ela sabia o quão machucada Alex era com isso, porque não era só nisso que ela era tratada diferente, era com tudo.

- Eu sinceramente... – Ohana dizia. – Já desisti de tentar entender ela ou ficar chateada com as coisas que ela faz! Cada dia que passa eu vejo que ela é só uma louca mesmo. Não sei como não desisti dela antes, até antes de me mudar pra Nova York eu tinha esperança, mas ela só tá piorando! Nunca vai mudar.

Inexplicável - Ohanitta -Onde histórias criam vida. Descubra agora