Nishimura Riki encarava o espelho, se observando sem de fato prestar atenção na imagem refletida.
O coração batia frenético contra a caixa torácica, as mãos suadas eram esfregadas de maneira bruta na calça social, e a gravata borboleta era constantemente afrouxada, na busca de que mais ar entrasse nos pulmões.
Não é todo dia que você se casa, é um nervosismo justificável.
Antes que pudesse dar ouvidos aos seus pensamentos intrusivos que insistiam para ele gritar, a porta do quarto se abre, logo a cabeça de Kim Sunoo aparece pela brecha, sorrindo ao ver a figura assustada do japonês.
Os ombros de Riki caem, como se fosse um grande alívio ver o amigo.
— Você está lindo, Niki! — Sunoo diz, fechando a porta atrás de si e indo em direção ao mais alto, analisando atentamente o terno azul-marinho que o outro usava.
Niki não consegue agradecer ou devolver o elogio, tudo que escapa de seus lábios é um suspiro pesado, parecendo que havia lembrado só agora de como respirava.
— Isso tudo é nervoso? — Segurou o outro pelos ombros, o chacoalhando — Relaxa, vai ficar tudo bem.
"Vai ficar tudo bem", mas parecia o fim do mundo na cabeça do Nishimura, que se aproximou da janela para observar a decoração no gramado, cadeiras e arranjos de flores por toda parte, os pais e os sogros, recepcionaram alegremente os convidados que não paravam de chegar, e quando percebeu já estava hiperventilando de novo.
— Eu fui ver a noiva antes e ela está muito bonita, quando você a ver... — Não terminou a frase, percebendo o estado do amigo, preocupado, vai até ele e o segura pelas mãos — Ei, eu sei que parece muito assustador, mas você vai se sair bem, será um bom marido.
O mais alto encara o sorriso reconfortante de Sunoo e concorda com a cabeça, conseguindo controlar melhor a respiração, tentando se concentrar em qualquer coisa que não fosse o próximo grande passo da sua vida, e em busca dessa fuga da realidade, seus olhos apenas seguem tudo que o Kim fazia.
O observou quando o mesmo o ajudou a arrumar as abotoaduras das mangas, sentiu as mãos macias roçarem em seus pulsos, fazendo com que toda sua derme arrepiasse, e ele sabe que Sunoo nota, mas não diz nada, apenas continua o arrumando, alinhando o terno, colocando a gravata no lugar, ignorando que a respiração pesada — agora por outro motivo — batia contra o seu rosto.
Então ele se afasta, com um sorriso forçado dessa vez, sorriso que não dura muito, e que se desmancha devagar ao ver os olhos do japonês.
Olhos tristes que dizem: "Você vai guardar a memória dos meus olhos olhando os seus?"
Agora é Sunoo que sente dificuldade em respirar, sentindo as palavras borbulharem em sua garganta, mas ele se conteve, temeroso do que poderia acontecer se as deixasse escapar.
Contudo, Riki não consegue segurar e as palavras simplesmente saem.
— Eu queria que fosse você.
As memórias guardadas em um baú destrancado são facilmente recordadas, como uma avalanche de sentimento soterrando os dois rapazes.
— Niki...
A amizade que um dia já foi amor, daqueles intensos que dói.
— Eu queria tanto que fosse você. — O sorriso trêmulo contornava os lábios do japonês.
Lembrava de como eles eram felizes, dos fones compartilhados, dos encontros aleatórios do meio da semana, dos beijos intensos, mas também dos beijos ternos. Lembrava das juras de amores trocadas no silêncio da madrugada, e de como iria contra a própria família só para permanecer ao lado de Sunoo.
Porém, também se lembrava de como chorou como criança quando o mais velho terminou consigo, sem ao menos olhar nos olhos, de forma tão fria que até parecia irreal.
E mesmo assim, o perdoou, aceitou a amizade, se aquela era única forma de permanecerem juntos, era o suficiente.
— Eu... — As palavras morriam na língua, Sunoo não consegue escutar os próprios pensamentos, não quando o coração fazia mais barulho do que qualquer outra coisa.
— Só que você não queria que fosse eu.
Aquilo era mentira, Sunoo queria gritar que aquele era o maior absurdo de todo o universo.
Queria dizer a verdade, que ficou com medo e fugiu.
Queria ser egoísta e dizer que estava certo, que no final o Nishimura estava se casando com uma garota que os pais escolheram.
Mas aquilo seria outra mentira, pois sabia que Niki ficaria, e que era ele que não sabia se aguentaria o caminho. Se tivesse segurado a mão do mais novo três anos atrás, quem sabe, o que o futuro os aguardaria.
Agora só restava aceitar que ainda era um covarde. E que não era a obrigação de Niki o fazer ficar.
Então, como algumas coisas não mudam, assim como no passado, deixou o outro para trás, saindo pela porta do quarto, sem olhar para trás.
No final do dia, Niki estaria casado com uma boa moça, que tinha olhos grandes e sorriso meigo. Eles seriam felizes.
Com ela, ele seria feliz.
Que pena, o Kim ainda não entendia, que para o Nishimura aquilo não tinha importância, seria infeliz.
No final do dia, Sunoo continuaria sendo o grande amor da vida de Niki.
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*começa a tocar a sanfona de quando bate aquela saudade*
Me inspirei em um vídeo que vi onde tinha essa frase "Eu queria tanto que fosse você" e simplesmente partiu o meu coração, então resolvi partir o de vocês também!
Espero que tenham gostado e que não tenham sofrido tanto.
Abraços e até a próxima!
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com ela, ele. | sunki
FanfictionNo final do dia, Sunoo continuaria sendo o grande amor da vida de Niki. Sunki || angst || sobre algumas coisas que nunca mudam. Conteúdo feito de fã para fã sem o intuito de ofender os artistas. Também disponível no Spirit Fanfics