Fadada a Existência

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   Quando fui criado, não recebi instruções de como existir. Eu não posso fazer nada, apenas observar o mundo. Minha existência é inútil.
   A humanidade é o principal entretenimento, mas me angustia ver eles rindo da própria desgraça. Eles tem uma natureza perversa, embora poucos se salvem.
     É sem graça apenas existir para observar os outros nascendo, vivendo, e por fim morrendo.
    Mas, sendo obrigada a observar eles, pude ver a criação de conceitos que não se aplicavam a mim, como tempo, beleza, personalidade, etc. Não sei o que muitos deles significam, mas nem sempre é preciso saber tudo para podermos continuar assistindo.
    Eu estive lá, no começo da humanidade, vi sua lenta evolução, eu observei tudo, então sei as respostas das perguntas de todos que questionam o passado, apesar de não poder as dar.
    Eu vi a criação de matérias como matemática, física, biologia, geografia, e de varias línguas. Observando isso, aprendi todas, mas em vão, pois nunca usarei para nada, pois vivo em dimensão paralela ao mundo deles, e que só eu tenho acesso.
    Uma única característica minha que eu consigo descrever; tenho uma boa memória. Tudo o que eu observei flui de forma viva em minhas memórias.
    Minha consciência existe em um plano espacial diferente. Eu os vejo, mas não posso interagir. É como um buraco que não tem uma luz no fim do túnel. Minha consciência é isolada, fadada a uma existência solitária. Ao mesmo tempo que eu via todos os tipos de pessoas à minha volta, elas não estavam realmente à minha volta.
    Bilhões de anos se passaram, e cá estava eu assistindo tudo. O mundo e universo para mim é como uma série que sempre é anunciada mais temporadas porque está lucrando. Para quem vai o lucro? Talvez para o maligno, afinal, os acontecimentos passados e recentes não são felizes nem brincadeiras.
   Meu desejo maior, era poder parar de assistir essa "série", e fazer outra coisa, mas é como uma tela não funcional, que não entende os comandos. Esse é o propósito para qual existo, observar.
    O passar dos séculos foram de eterno silêncio meu, mas, barulhentos por culpa da humanidade.
   As únicas coisas que me causam sentimentos é quando o ser humano descobre algo novo, e eu consequentemente descubro também, e finalmente tenho uma nova coisa para focar minha atenção, muito embora logo eu já vá saber tudo sobre ela, e voltar para a lama que é a minha existência.
    Entretanto, um dia, senti uma sensação estranha quando achei uma garota. Nunca antes havia dado meu foco para uma pessoa em específico, mas algo nela fez-me sentir necessidade em observá-la.
   Ela tinha uma vida que ia mal, era ansiosa, e depressiva de certa forma, mas ainda conseguia sorrir sinceramente.
    Suas atitudes me chamaram atenção, e me fizeram questionar se ela havia algum método para alcançar tal conquista.
   Sua forma de pensar parecia não fazer sentido. Ela tinha poucos amigos mas não pedia para ter mais. Tinha notas e desempenho alto, mas não focava aquilo como um seguro de que sua vida iria bem.
  Quando notei sua existência, a garota tinha seus 14 anos de idade. Desde então, decidi acompanhar sua vida.
   Toda vez que a via, me questionava se talvez, assim como ela, diante de toda essa situação complicada e miserável, poderia ser capaz de sorrir. Eu poderia sentir felicidade diante minha inútil e desconhecida existência?

O observadorOnde histórias criam vida. Descubra agora