Acordo suada pelo pesadelo que mais uma noite me atormenta. Me sento na cama, passo a mão pelo rosto e acabo sentindo do lado direito a cicatriz em meu queixo. Ela arde levemente mesmo estando cicatrizada a tanto tempo. Olho pela porta da varanda e vejo que ainda é madrugada, então me deito novamente. Não consigo deixar de pensar no sonho frequente e me perguntar mais uma vez: o que ele é? Apenas um sonho? Uma lembrança? O que será esse leve ardor em uma ferida fechada a tanto tempo que me faz lembrar sempre da sua existência, mesmo não lembrando de seu surgimento. Sempre após o sonho. Dia após dia, há anos. Será um aviso do espírito de Magower?
Acordei pela manhã, e me arrumei para tomar o desjejum no salão com o rei. Eu coloquei um conjunto simples que havia ganhado em um dos meus aniversários. Ele era azul claro, com alguns desenhos mais escuros, além de ser confortável e arejado, o que é perfeito pra o dia de hoje que está muito quente. Ao me trocar as lembranças desse sonho perturbador vêm a minha mente. Os questionamentos e dúvidas. Não aguento mais não saber o que significa e ficar refém desses sentimentos ruins. Tento afastar por enquanto esses pensamentos e saio do meu quarto.
Ao passar pelo primeiro corredor e andar alguns metros eu avisto meu melhores amigos, Hala e Uri. Eles estavam com vestes de treinamento, o que indica que estão indo para o área de treinos. Eu conheci os dois há treze anos atrás na beira do Grande Oásis.
Eu havia convencido meu avô a me deixar sair do palácio. Ou melhor. O general havia o convencido com a garantia de que me acompanharia. Nunca entendi o receio do meu avô quanto a me deixar sair sozinha. Eu estava sentada na beira da água quando senti algo voando por cima da minha cabeça e acertando em cheio a água que acabou respingando em mim.
Me assustei e me levantei bruscamente olhando para trás. Havia uma menina da minha idade aproximadamente, ela tinha a pele escura como a do meu avô, ela brilhava no sol, seus cabelos eram cheios de trancinhas e ela tinha um sorriso grande pra mim enquanto segurava uma pedra na mão esquerda.
-Te assustei?- perguntou com uma cara divertida pra mim.
-Não. Eu só não esperava por isso. - tento mostrar seriedade.
-Sei. Me chamo Hala. E você, o que faz sozinha?- pergunta ainda sorrindo pra mim. Não entendo o que ela achou tão engraçado.
-É um prazer conhecê-la. Sou Myshah. E não estou sozinha, ele foi apenas comprar algo pra mim comer.- Digo enquanto me sento novamente na areia.
-hmm. "Ele" é seu pai? - pergunta Hala se sentando ao meu lado.
-Ele é um amigo. Eu não tenho pai.- Digo olhando pra ela.
-Oh. Eu sinto muito...
-Não precisa se desculpar. -digo e olho para a água.
Antes que ela pudesse falar algo escutamos alguém chegar gritando atrás de nós.
-HALA! Finalmente te encontrei, você não estava em lugar nenhum!- diz uma voz atrás de nós.
Ela se levantou rapidamente ao ouvir a voz dele e começou a rir alto se virando para olhá-lo. Me levantei junto e me virei para ver de quem era a voz. Havia um menino mais alto que nós apoiando as mãos nos joelhos para recuperar o fôlego. Ele era parecido comigo. Sua pele era clara apesar de estar queimada de sol, e seus cabelos eram cacheados na altura dos ombros. Ele tinha uma expressão de repreensão para a garota ao meu lado.
-Não tenho culpa se você não é tão rápido pra me acompanhar.- diz ao meu lado sorrindo orgulhosa.
Não me contenho e sorrio com ela. Eu não estava acostumada a falar com muitas pessoas, principalmente com crianças. Eu estava me sentindo muito feliz ainda que não estivesse fazendo nada demais.
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A tempestade de Shiak
FantasyPrimeiro livro de Série: Magower . . Dedicatória: À todos que enfrentam a vida com a perseverança de um rei, que não deixa as inseguranças te impedirem de prosseguir. . . . . . Quando há muita paz, algo sempre acontece, e você deve estar atento aos...