Capítulo 3

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 — Laura! — sua voz soou animada ao me ver. Amélia vestia a mesma túnica que eu, com a marca do hospital bem na altura do seu peito.

A enfermeira empurrou minha cadeira de rodas na sua direção e quando me aproximei mais vi que Amélia estava parada em frente a uma enorme janela de vidro. Ao olhar para dentro vi dezenas de berços e incubadora, todos ocupados por crianças tão pequenas que caberiam facilmente em uma caixa de sapato.

Fiquei olhando encantada para dentro da sala imaginando qual deles seria o meu menino, mas a voz da Amélia me fez quebrar o contato visual com as crianças.

— O que está fazendo aqui? — ela me perguntou. Eu a encarei com os olhos emocionados e ela sorriu para mim.

— Uma longa história. — eu disse triste. — E você?

— Pablo nasceu cedo demais quando eu soube de tudo o que aconteceu com o meu pai e com o Flavio. — sua voz soou quebrada, era visível a dor dela.

— Ele está aqui? — perguntei e apontei para a janela de vidro a nossa frente.

— Ele... — vi seus olhos brilharem quando as lágrimas chegaram. — Ele era pequeno demais, Laura. — seus dedos pequenos e frágeis capturaram a lágrima antes que ela pudesse molhar o seu rosto.

Eu segurei a sua mão que estava perto de mim e a apertei em meus dedos quando lembrei que o número de semanas da gestação dela era menor que a minha.

Se Luca não tinha muitas chances de sobreviver, imagina o pequeno Pablo.

— Eu sinto muito, Amélia. — eu disse com pesar. — Pelo Pablo e pelo seu marido.

— Flavio não era o meu marido. — sua mão deslizou da minha quando ela se afastou de mim e caminhou em direção as cadeiras da sala de espera. Eu fiz menção de empurrar minha cadeira de rodas, mas a enfermeira me ajudou, a levando até Amélia. — Eu gostaria que fosse, por isso falava que ele era o meu marido, mas eu apenas fui ingênua demais em me apaixonar por um homem como ele.

— A culpa não é sua. — afaguei suas mãos, que ela as mexia inquieta em cima do seu colo e Amélia ergueu os olhos para me encarar.

— Marcelo também diz isso. — ela sorriu fracamente. — Mas como posso não me sentir culpada? Até você perdeu o seu filho por conta disso tudo. — ela disse olhando meu abdome plano.

— Meu filho está vivo. — a corrigi e ela me olhou surpresa. — Ele é muito prematuro, mas está vivo.

— Fico feliz por você. — ela sorriu com sinceridade. — De verdade. — seus olhos se fixaram na janela de vidro a nossa frente e ela deu um longo suspiro. — Meu irmão tem vindo me ver todos os dias. — ela disse. — E me trás flores. Não sei como consegue, deve ter subornado alguém.

Ela sorria enquanto enxugava o seu rosto e eu retribui o seu sorriso.

A menção do seu irmão fez meu coração disparar de uma forma estranha e isso fez o meu sorriso desaparecer.

— Como ele está? — perguntei tentando fingir indiferença, mas sei que não consegui.

— Preocupado. — ela assentiu. — Comigo, com a família Matos e principalmente com você. — engoli seco o nó que se formou na minha garganta e desviei os meus olhos da Amélia. — Ele se pergunta se algum dia poderá perdoá-lo.

— Laura! — a voz do Massimo chega até a mim como uma repreensão. Me sobressalto e olho para trás, na sua direção, na mesma hora. Vejo que ele ainda está na metade do corredor. Caminhando a passos firmes e pesados, parece furioso, com metade dos seus seguranças o seguindo.

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