Defenceless Flower

Capítulo 1

  Estava a procura de um lugar mais calmo do que Londres para me mudar, até que encontrei South Yorkshire, um condado à 233 quilômetros de onde eu estava. É ai que você se pergunta, por que eu estaria procurando um local afastado da famosa Londres? Gostaria de dizer que é uma resposta simples, mas infelizmente não é.

Estou a procura de um novo lugar para tentar recomeçar após um trágico acidente que levou o melhor e o único amigo que já tive, Ron. Quando estávamos voltando do passeio que dávamos todas as tardes, após ele me deixar na porta de minha casa eu fiz a piada que eu queria tanto não ter feito naquela noite.

-Tchau Ron, vê se não morre hein!

-Tchau Lou, juro que tomo cuidado!- ele me respondeu rindo como sempre fazíamos, mal sabíamos que essa seria a última vez que nos veríamos por causa de um cara nojento que o atropelou quando ele estava atravessando a rua duas quadras de minha casa.

Já se passou um mês do acontecido, fiquei em negação durante a primeira semana, não conseguia acreditar que meu melhor amigo não estava mais ali comigo, porém quando a ficha caiu eu fiquei devastado, nunca tinha sentido um vazio tão grande e um silêncio tão ensurdecedor que é não escutar mais sua risada escandalosa e todas aquelas piadas de conotação duvidosa todos os dias.

Fico pensando em tudo que poderia estar diferente se caso eu tivesse chamado ele pra entrar ou se fosse eu no lugar dele. O que estaríamos fazendo nesse exato momento? Será que estaríamos sentados no sofá vendo aquela série horrível que ele gostava e comendo besteiras? Será que estaríamos em um banco perto da London Eye julgando as roupas das pessoas que passavam? Com um pesar imenso no peito eu sei que não terei essa resposta.

Por um conselho de minha psicóloga descidi que a melhor opção seria sair de Londres para um lugar menos agitado. Com isso, estou agora saindo do aeroporto e indo em direção à um taxi que me levaria ao meu novo lar, um pequeno apartamento em Doncaster. Não tinha nenhum luxo ou qualquer coisa do tipo, mas aparentemente era aconchegante pelo o que vi nas fotos.

-Visitante?- o senhor que dirigia o carro perguntou quando começamos a andar.

-Oh, não! Eu vim de mudança.

-Espero que goste da cidade, a maioria dos jovem daqui querem se mudar ao invés de ficar!- respondeu com bom humor.

-Imagino- respondi sorrindo o máximo que eu conseguia, ele é uma pessoa simpática, não quero ser mal educado.

Assim que chegarmos na frente do prédio, paguei e me despedi do moço que descobri se chamar John. Olhei para a faixada do prédio e lembrei de uma coisa que Ron me disse uma vez.

-Se em algum dia eu não estiver perto pra encher sua paciência, canta minha música favorita! Eu faço isso quando você tá longe!

Com isso eu comecei a cantar Saturdays do Louis Tomlinson que era o cantor favorito dele, e ele sempre dizia ser engraçado o fato de seu melhor amigo e seu cantor favorito terem o mesmo nome. Eu achava um pouco estranho.

-...We always used to say, saturdays take the pain away,
nobody stays the same, no matter how much you want it
some things change...

Comecei a arrumar minhas coisas em seus devidos lugares, roupas no armário, algumas fotos pelas paredes, minha escova de dente no banheiro. Arrumei tudo cantarolando sua música favorita repetidamente até me ver exausto deitado no pequeno sofá que tinha na sala.

No dia seguinte, acordei um pouco confuso, sem saber exatamente onde estava. Levantei, tomei banho, escovei os dentes, me vesti e fui fazer o que eu deveria ter feito ontem, procurar um emprego. Desci as escadas e sai observando a paisagem arborizada da cidade. Procurei vagas em todos os lugares possíveis, mas nenhum estava aceitando currículo. Estava pensando em desistir, deixar pra lá, mas lembrei de uma vez em que eu estava prestes a desistir de tentar estudar uma matéria que eu não entendia por nada, mas Ron me deu um tapa na cabeça e um olhar duro e disse que se eu não tentasse era ai que eu não conseguiria mesmo. No final, tirei uma nota maior do que a dele e esfreguei isso na cara dele durante um mês.

Sorri ao lembrar disso, era um dos milhares de momentos bons que eu tenho com ele. Quando eu estava virando a esquina vi um lugar que me chamou atenção. Era uma floricultura, com um aspecto vintage, com muitas flores coloridas na faixada. Andei até lá e entrei, era tão lindo quanto fora, com dois corredores extenso de flores coloridas e com um aroma muito bom. Aquele lugar me transmitiu uma calmaria instantânea, uma leveza pura.

-Oi, precisa de alguma ajuda?- um menino que parecia ter a mesma idade que eu veio em minha direção, tomei um pequeno susto, mas logo me recuperei. Ele era um pouco mais alto que eu, tinha os cabelos lisos bem escuros, a pele ligeiramente bronzeada, olhos puxados em um tom mel, me lembravam muito olhos de gato.

-O...oi, é, vocês tem vagas pra funcionários?

-Temos sim, me acompanhe por favor- ele me disse com um sorriso meigo e muito bonito.

Chegamos até o balcão, passamos pela lateral entrando nos fundos, ele me apontou a cadeira, sentei e esperei ele fazer o mesmo após pegar um bule de chá e duas xícaras.

-Aceita um pouco de chá?- ele me perguntou, acenei com a cabeça. -Então, qual é seu nome? Nunca te vi por aqui.

-Meu nome é Louis Edwards, acabei de me mudar de Londres.

-Oh, um londrino, por que se mudou de lá? A propósito, me chamo Magnus Moore!- ele me disse risonho.

-Estava procurando um lugar mais calmo, Londres é muito agitada pra mim.

-Entendo.- parecia que ele tinha percebido que era um assunto delicado pra mim, tanto que até estava me concedendo um sorriso compreensivo. Sorri sem mostrar os dentes em uma forma de agradecimento silencioso.

Após isso, ele começou a me fazer algumas perguntas, como minha formação, em quantos lugares eu tinha trabalhado, minha idade, coisas do gênero. Acabou que conversamos sobre outras coisas também, coisas triviais, mas que me fizeram sentir confortável e acolhido, ele é uma pessoa muito legal.

-Você se importa de começar amanhã?

-Eu consegui a vaga?- perguntei tentar esconder minha empolgação.

-Conseguiu Loueh!- ele me respondeu rindo e carregando um pouco na hora de falar meu nome.

-Nossa, obrigado!- agradeci apertando sua mão.

-Então, eu estava pensando aqui, já que você acabou de chegar na cidade, que tal irmos comer alguma coisa e depois eu posso te apresentar a cidade, o que acha?- perguntou esperançoso.

-E...e, claro, por que não?- respondi um pouco envergonhado, não sou bom em fazer novas amizades.

-Okay sr. Edwards, vamos lá!- ele disse animado, pegando seu casaco e me guiando até a porta. Eu ri da forma que ele me chamou, Ron me chamava assim.

E assim, seguindo Magnus pelas ruas da aconchegante Doncaster que eu comecei a refletir. Eu ira fazer exatamente o que meu melhor amigo me dizia pra fazer: "viva todo dia como se fosse o último, e não esqueça Loulou, sempre siga em frente não importa o que aconteça, eu estarei torcendo por você!". É isso que irei fazer, viver como se fosse o último dia da minha vida, vou viver por mim e vou viver pelo meu amigo, já que tiraram sua chance.