Ouvi gritos.

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Point of view Samanun

Os dias avançaram numa velocidade estupenda, quando me dei conta, três meses já haviam se passado, dando a nós um único mês de intervalo até o nascimento de nossa filha.

Enquanto eu tomava meu café da manhã, sentada na varanda da sala, uma única frase me rondava, misturando-se há um conjunto de lembranças, me fazendo sorrir feito boba e me arrepiar: O tempo voa!

E não é que o menino do "tic tac" havia brincado de correr?

Ponteiros nunca haviam sido tão velozes em minha jornada. Mas, como eu havia dito no começo de tudo: O tempo sempre costumava passar rápido quando tudo estava indo bem. E, de certo modo, passando rápido ou não, eu estava contente, pois, sendo rápido ou lento, eu estava com Mon, vivendo uma espécie de alegria que ao contrário das anteriores, não tinha prazo de validade. Uma alegria que se encerrava ao dormir e se iniciava novamente quando eu abria os olhos, me deparando com minha garota dormindo tranquilamente ao meu lado.

Novamente, feito uma boba, me peguei sorrindo.

Mon estava me ensinando muitas coisas nesses dias, mas de todos os ensinamentos, um único se destacava: Ser paciente.

- Sam...

Eu ouvi ela me chamar, bem de longe, numa voz de eco. Certamente seria um sonho, então, mantive-me de olhos fechados, bastante relaxa em minhas cobertas macias e perfumadas.

- Acorda, Sam...

Novamente sua voz soou, dessa vez mais alta, também senti ela sacudir meus ombros. Por instinto do movimento, abri meus olhos e me deparei com ela, abaixada ao meu lado, com olhar sapeca.

- Hmmm... O que foi? – Perguntei, resmungando.

Mon corou violentamente e sorriu mordendo o lábio inferior.

- Sua filha quer comer sorvete de graviola... – Disse simplesmente, ainda sorrindo.

Depois de ouvir sua pergunta, me permiti erguer meu braço esquerdo e com certa dificuldade, tentar ver que horas marcavam em meu relógio. Soltando um riso abafado, com a cara ainda parcialmente afundada no travesseiro, constatei que estava fodida.

- E aonde você acha que eu irei conseguir sorvete de graviola às 3h24 da madrugada? – Falei tentando convence-la a desistir da ideia. – Se você esperar um pouco mais, quando amanhecer, eu compro para você.

Minhas palavras pareceram não agradar muito ela, pois a mesma se levantou e saiu batendo os pés, parecendo uma criancinha.

Voltei a mergulhar meu rosto no travesseiro, no intuito de voltar a dormir, afinal, tinha que acordar cedo para trabalhar, porém, estragando meus prazeres, novamente fui sacudida pelos ombros.

- Que foi, Mon? – Perguntei de olhos fechados.

- Sai da minha cama. – Ela falou de uma vez, bem ríspida. Abri meus olhos e ela estava de pé, parada na minha frente, com os braços cruzados abaixo dos seios, visivelmente furiosa, tanto que estava vermelha, faltando pouco soltar fogo pelas narinas.

- Quê? – Falei confusa, ela estava mesmo me expulsando do quarto?

- Anda! – Mon rosnou de forma assustadora. – Sai do quarto agora! – Apontou para fora. – E se a SUA filha nascer com cara de pote de sorvete, não venha reclamar comigo depois. – Pontuou a frase, enfatizando o "sua", num tom bastante raivoso, que por ventura ou desventura, me fez ter vontade de agarrar ela e morder.

Fingindo estar irritada, me levantei da cama bufando e segurando o riso, vesti um casaco de moletom e a calça do mesmo conjunto e depois de pegar minhas chaves do carro e minha carteira, parti para uma missão quase impossível: Achar sorvete de graviola.

The Last Coffee (Em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora