Ouvi você gemendo meu nome.
Ouvi e fingi que não estive no corredor, correndo da tentação de entrar.
Fingi que não fez de propósito. Fugi de novo da vontade ainda acesa de provar teu corpo e provar um ponto pra mim: que é só vontade.
Só, mesmo sabendo que existe tanto entre nós; Mais do que poderia, menos do que eu gostaria às vezes...
E gostaria agora, enquanto finjo que não é maldade tua chamar meu nome justo quando ele silencia em outra boca.
Sua sorte é que gosto de você mais do que gosto da ideia de ter você...
Dormir no sofá é ruim, embora melhor do que não dormir, justamente o que não consigo fazer aqui.
Nobara foi deitar há algum tempo junto com todo o resto mas parece também estar insone dado o número de memes que manda – e ignoro.
"sei que está acordado, seu grosso".
Sorrio; devia ter previsto que reclamaria.
"estou sem fone, vejo depois".
"todo mundo aqui dorme que nem pedra, sabe disso".
"e é o que a gente devia fazer também."
"tentei dormir, mas sonhei com você...".
Fazia tempo que Nobara não jogava baixo, tanto que achei que tivesse desistido da partida. Só por isso aceitei pernoitar aqui ao invés de procurar outro lugar para dormir ou ter voltado logo pra casa.
Corto o assunto sem disposição.
"Vou desligar o celular, boa noite".
Ativo o modo avião e começo a ler, sabendo que se continuar online ela vai continuar me perturbando.
A paz dura alguns minutos: não demora para ser quebrada por sons vindos de seu quarto, indistinguíveis.
Sons que aguçam minha curiosidade, mesmo sabendo que devo ficar longe de problema.
Mas não vai ser minha culpa se eu for ao banheiro e passar na frente de seu quarto, o primeiro do corredor; só ouvir não vai ser um problema tão grande.
Sei que estou errado.
Afinal, nada de bom pode vir de saber o que diabos Nobara está fazendo atrás daquela porta, mas mesmo assim aqui estou eu tentando não fazer barulho enquanto me aproximo.
Pior que o que ouço, é o que vejo na penumbra pela fresta da porta que deixou entreaberta: Nobara de bruços completamente nua, os dedos indo e voltando entre as pernas afastadas.
Estou colado ao chão em frente a sua porta, o velho misto de culpa pelo que não devia sentir somada à irritação pelo que ela está fazendo – qualquer um poderia acordar e ver sua provocação quase adolescente – e ao tesão próximo do incontrolável.
"assim, megumi...".
Sinto mais raiva do que qualquer coisa quando ouço meu nome saindo de sua boca.
Raiva por sua indiscrição, por ser uma tentação impossível de sublimar, por me fazer entrar no quarto e trancar a maldita porta que já deveria estar fechada.
O quarto mergulha no breu e por um segundo, no silêncio: apenas nossas respirações são ouvidas madrugada adentro.
— Sabia que você viria...
Eu também sempre soube que um dia acabaria cedendo, e é o que mais dói.
Não respondo, apenas vou até a cama e deito sobre ela, escovando seu cabelo para cima com os dedos para ter acesso à sua nuca.
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FanfictionNão vai ser minha culpa se eu for ao banheiro e ouvir alguma coisa quando passar em frente ao seu quarto, o primeiro do corredor...