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Mingi estava com Jeno, os dois resolveram cabular a aula de Eletrônica para estudar para a prova de Álgebra Linear — ambas as matérias insuportáveis, mas Mingi gostava mais de Eletrônica do que Álgebra, então para ele era uma lástima ter que abrir mão de uma coisa pela outra.

De todo modo, não era como se ele estivesse afim de encarar os seus livros cheios de números e riscar dezenas de milhares de símbolos em folhas de papel para no fim não saber como chegou ao resultado. Matemática era reconfortante para Mingi por causa de seu resultado exato e insolúvel. Só havia uma resposta e não abria espaço para dilemas. Ele gostava disso, gostava do fato da complexidade chegar a algum lugar precisamente sem que restasse qualquer dúvida estúpida.

Estava na biblioteca ouvindo o batuque incessante de Jeno que estava forçando a si mesmo a degustar as equações a seco. A cabeça dele iria explodir e Mingi podia atestar isso pela frequência das batidas rápidas que pareciam estar descontando algum tipo de dor muito profunda que estava se enraizando na alma de Jeno ao ponto de torná-lo uma pessoa ruim mais tarde.

Mingi se lembrava como conheceu Jeno, e decidiu que ele seria o seu duo na faculdade e em joguinhos online. Havia os outros amigos, eles eram divertidos apesar de algumas vezes discutirem entre si, mas Mingi sempre considerou Jeno o seu melhor amigo dentre todos eles.

Jeno era um idiota de carteirinha, ele realmente parecia um cachorro e isso fazia com que Mingi se lembrasse de Yunho, com a diferença de que Jeno era um cachorro bonzinho do tipo que dá a patinha por biscoito e adora carinho atrás da orelha. Ele tinha um carro bonito, mas não era grande coisa. Ele ganhou da mãe dele de aniversário quando ela decidiu comprar outro e deixar aquele mais velho de herança. A mãe de Jeno disse que ele iria bater o carro muitas vezes já que ele recém havia tirado a carteira, e ela estava certa, então compensava ter um carro mais velho até ter certeza que as habilidades de motorista de Jeno evoluíram.

Mingi pensava muito sobre isso, se sua mãe teria tanto cuidado consigo quanto a mãe de Jeno tinha com ele. Se pegava espumando de inveja porque ele sempre quis ter alguém que cuidasse dele daquela maneira, mas se conformou com o tempo que isso não aconteceria. Jeno tinha um irmão mais velho e uma irmã mais nova, e ele vivia xingando muito eles, mas os três eram inseparáveis. Jeno teve outro irmão, mas ele morreu e Mingi sabia o quanto seu amigo sentia falta dele ao ponto de sempre falar sobre o assunto, porém, tratando com normalidade.

Jeno tinha uma forma boa de encarar a vida. Ele foi privilegiado por nascer em uma família boa, e ele tinha sorte de poder sentir falta de casa — ele veio de Ulsan apesar de ter nascido em Incheon. Às vezes, não dá pra sentir falta de nada que ficou para trás e um bom exemplo disso era Hongjoong. Agora Jeno, ele chorava quando ficava bêbado falando do quanto ele queria estar jogando videogame com o pai dele, ou indo aos jogos de futebol, ou até mesmo ir ao mercado e ouvi-lo lhe dando sermão porque Jeno só sabe comer besteiras. O único ponto negativo da relação entre os dois era que o pai de Jeno era exigente sobre os estudos e o obrigou a ingressar na faculdade assim que terminou o colégio, e Jeno passou em Engenharia da Computação, logo ele só seguiu o fluxo. Matemática não era o forte dele, mas ele suportava, e quando bombava, ele chamava Mingi para fumar uma jamba em algum pub aleatório da cidade. Os dois bebiam muito, conversavam e davam risada, e no fim, Mingi o via mandando mensagens para os seus irmãos perguntando como faria para esconder o resultado dos exames de seu pai de novo.

O fato era que Jeno sabia viver a vida dele, e Mingi ficava o observando. Os dois eram ótimos amigos, então falavam sobre tudo. Desde o quanto se sentiam decepcionados consigo mesmo, o desempenho na faculdade e no trabalho, Aquecimento Global, Inflação, família e corações partidos.

RAINBOW  |  WOOSANOnde histórias criam vida. Descubra agora