Capítulo 12: Erik

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A batida leve em meu quarto faz meu coração disparar. Eu me apresso em abrir porque sei que é Ana Flora escapando para descansarmos juntos como combinado.

Achei que ele iria desistir porque hoje Benício nos viu almoçando juntos na cidade. Flora tentou disfarçar a preocupação mas eu notei em seus olhos a aflição. Nós tínhamos combinado de dar uma volta depois, mas ela preferiu voltar para cá.

—Ei. - Eu digo quando abro a porta e ela entra. -  Você teve problemas?
—Não. Quer dizer, tive que aguentar algumas piadas sobre sempre ser certinha demais e agora tentar fisgar um milionário.
—Eu sinto muito, Flor.
—Bem, eu disse a ele que ele estava enganado e que você provavelmente é um bilionário.

Eu rio.

—Você acha que ele vai te demitir?
—Não. Ele sai com algumas hóspedes quando elas dão bola para ele. Além disso… Ele não pode.
—Não pode?
—Não. - ela solta um suspiro e se senta na cama. - A mãe dele deixou em testamento que ele precisava manter os funcionários e que a gente só sairia se quiséssemos ou se fosse algo grave que o advogado dela concordaria. Ou os representantes dele.
—Representantes de advogado? Isso existe?
—Bem-vindo a cidade pequena, meu caro. Não deveria existir, mas… Bom, são todos da mesma empresa. O advogado da Rosa está nos Estados Unidos. Ele é dono do escritório de advocacia da cidade, os outros advogados estão cuidando de tudo desde o testamento porque Dominique está lá.
—Ele se mudou e largou os clientes?
—Mais ou menos, ninguém se importou muito porque a casa dele pegou fogo, sua esposa faleceu e a sua filhinha de oito anos teve o corpo queimado.
—Nossa, eu não posso imaginar.
—Pois é, Dominique meio que abriu mão de tudo e nós não questionamos porque ele está vivendo seu inferno particular agora.

Eu me sento ao lado dela.

—Eu entendo, Flor, mas me diga… Foi tudo certo com o testamento dela? Vocês tiveram algum problema? Sei que parece insensível, mas se o advogado que cuidou de tudo não é o dela…
—Esse é o testamento que ela fez uma vez que se acidentou. Eu acompanhei todo o processo.
—Estou sentindo um desânimo em seu tom?
—Rosa estava tentando mudar isso. Ela queria passar a pousada para o meu nome e deixar uma grande quantia de dinheiro para Benício e Violeta. Mas ela não teve tempo. A doença piorou…
—E eu imagino que o filho dela saiba disso?
—Ah, com certeza, e ele não deixa de fazer minha vida um inferno. Você deve ter percebido que ele quase não fica aqui. Eu cuido de tudo como se fosse a dona, mas não sou e ele sempre me lembra disso. Ele é grosseiro e estúpido.

Eu fico com raiva porque Flora não precisa passar por isso.
—Posso ver que você quer me dizer algo. - ela diz.

Eu me levanto e viro de costas para ela.

—Você não vai gostar.
—Tente.

Eu suspiro com raiva.

—Você não precisa passar por isso, Ana Flora, você tem uma conta com alguns milhões. Eu realmente não entendo porque você se sujeita a isso.
—Eu já disse a você, sou grata a Rosa. Eu não quero deixar a filha dela desamparada. Legalmente, ele é o tutor. Eu sou apenas uma estranha.
—Uma estranha com dinheiro! Pelo que sei todo mundo pode dizer que o cara é um babaca, além disso… Você tem muito mais poder. Você sabe disso.
—Eu não tenho. Imagine entrar em uma briga e ter que me explicar que vim pra cá escondendo meu passado?
—Você não cometeu nenhum crime, Ana Flora! Você apenas deixou uma vida para trás.
—Você é incoerente. Você diz apenas, mas seu tom é cheio de mágoa. Você e eu sabemos que eu não fiz só isso.
—Isso não tem nada a ver com a conversa. O que sua partida nos causou não tem relação nenhuma com a lei. Eu disse que legalmente você não fez nada de errado. O que não faz sentido você se permitir ficar nessa situação tendo que trabalhar pra um babaca!
—Essa é minha escolha, Erik, você precisa aceitar!

O Lago EncantadoOnde histórias criam vida. Descubra agora