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Eram as notícias mais acessadas em todos os sites de fofoca, a foto de Kim Minjeong estava estampada junto de capturas de imagens de péssima qualidade, seguidas de legendas absurdas e, para o choque de absolutamente ninguém, verdadeiras.

"Kim Minjeong, filha do governador, viraliza em festa realizando beijo quíntuplo com quatro mulheres!", Minjeong leu a primeira e fez uma careta, nem foi um beijo tão bom assim, ela pensou.

"Filha do governador Kim é detida por atentado ao pudor e posse de bebidas alcoólicas em praia!", leu a segunda, e uma risadinha escapou sem querer.

— Você está rindo disso? — sua madrasta perguntou, transtornada. Minjeong apenas segurou o riso e respirou fundo tentando se preparar para o longo sermão que viria pela frente.

Mas não antes de ler a terceira notícia, claro.

"Kim Minjeong, filha do governador, paga fiança com sua "mesada", afirma testemunha."

— Nem vem, isso é mentira! — reclamou, mas foi claramente ignorada.

— Eu não sei o que vou fazer com você, Minjeong — o governador disse, massageando as têmporas sem conseguir olhar na cara da filha rebelde.

— Tem que processar esses caras, é tudo mentira — respondeu, achando engraçadíssimo alguém acreditar que ela pagaria fiança com a própria mesada. Que absurdo!

— Tem fotos suas — a madrasta pontuou. — E vídeos!

— São montagem! — deu de ombros, já estava perdendo a paciência.

Afinal, ela só estava vivendo como uma adolescente qualquer! E daí se queria beijar quatro mulheres ao mesmo tempo e tomar banho de mar como veio ao mundo? E daí?

— Minjeong...

— Eu tô falando sério, pai...

— Você deveria estar estudando! Se preparando para o vestibular! Ou pelo menos fazendo algo que preste e que não me envergonhe! — a este ponto, Minjeong conseguia ver a veia na testa do pai explodindo.

— Eu tô fazendo isso! É que é fim de semana, pai, eu tenho direito de descansar.

— Pois eu acho que você já descansou demais — ele disse e saiu da sala de estar com um olhar tão firme e determinado que Minjeong até desconfiou por alguns segundos.

Mas logo ela perdeu o interesse, subiu as escadas correndo sem se despedir da madrasta feiosa e se jogou na cama macia e quentinha, precisava dormir um pouco para recuperar as energias se quisesse sair com os amigos mais tarde em um programa mais clean.

A verdade é que ela não tinha culpa de ter sempre paparazzis na sua cola, seu pai decidiu ser uma figura pública, mas ela não tinha nada a ver com isso. Ele que lidasse com as escolhas de ter uma filha adolescente que apenas quer viver. Tem coisas que os filhos fazem, que os pais simplesmente não precisam saber.

Tudo aquilo parecia mais drama de um pai chato que não entendia as necessidades de uma adolescente comum, ou pior, sua madrasta estava enchendo a cabeça de seu pai porque obviamente aquela mulher odiava Minjeong e a queria longe! Não tinha outra resposta.

Minjeong já tinha discutido sobre isso várias vezes na terapia com vários terapeutas diferentes, mas todos eles sempre entravam no mesmo assunto: o falecimento de sua mãe. E aquilo não tinha graça nenhuma.

Minjeong sentia falta da mãe, obviamente. A vida com ela era totalmente diferente, seu pai não era político, sua casa era menor e bem mais bonita, ela não tinha uma madrasta carrancuda com voz de taquara rachada! Mas ela preferia muito mais fofocar sobre fatos engraçados como quando colou chiclete no cabelo da bruxa (sua madrasta) do que conversar sobre sua mãe falecida.

Foi por isso que ela começou a mentir nas consultas, mas os terapeutas sempre descobriam a verdade, de alguma forma.

Depois do devido descanso — umas cinco ou dez horas depois — Minjeong se sentia renovada. Levantou, se arrumou e sentiu a barriga chorar por comida, então mandou uma mensagem bem rápida pra amiga e disse que iria se atrasar um pouco.

Desceu as escadas e foi só se aproximar da cozinha que percebeu que seu pai e sua madrasta estavam jantando, ambos em silêncio, só com o barulho dos talheres batendo nos pratos como se alguém tivesse acabado de morrer.

Não que Minjeong se importasse com isso, ela calculou mentalmente o caminho que precisava fazer para passar pela sala de jantar e ir diretamente para a cozinha pedir algo pra comer para a empregada, mas não conseguiu seguir o plano.

— Que bom que decidiu se juntar a nós — a maldita madrasta disse, com um sorriso gigante mostrando as lentes de contato nos dentes que mais pareciam teclas de piano.

Aquele sorriso que não era nada gentil ou sequer sincero.

— Eu tô saindo, só vim pegar alguma coisa pra comer — disse, seca, seguindo seu caminho até a cozinha, até que algo a interrompeu novamente. Seu pai.

— Você não vai sair hoje, Minjeong — ele disse, limpando a boca com o guardanapo e olhando para Minjeong, que não entendeu nada.

— Eu vou sim, já avisei pra Yeji — resmungou, indo até a cozinha e pegando uma maçã, não era sua primeira opção, mas queria sair dali o mais rápido possível.

— Não, você não vai. — disse mais uma vez, levantando um pouquinho a voz.

— Pai, eu já avisei pra ela que eu tô indo.

— Então avise que você não vai mais — a madrasta respondeu.

— Pai — Minjeong pediu, olhando nos olhos de seu pai com sua cara mais pidona possível.

Por um momento, Minjeong até viu os olhos de seu pai terem piedade, mas então a víbora de sua madrasta apertou suas mãos sebosas ao redor das mãos dele, o contaminando para sempre.

— Arrume suas coisas, Minjeong — ele disse, firme. — Amanhã você vai se mudar.

A primeira reação de Minjeong foi rir. Aquilo não podia ser real. Seu pai nunca a contrariava, devia ser algum tipo de pegadinha.

— Quê? Tipo, férias? — perguntou, achando tudo aquilo hilário.

— Não, tipo um internato, pra ver se você toma jeito — a madrasta disse, e Minjeong sentiu o veneno dela respingando nas palavras.

— Pai? — disse, pedindo para que ele desmentisse aquilo tudo.

— Você passou de todos os limites — ele respondeu.

— E você vai se livrar de mim? Só pode ser brincadeira — Minjeong jogou a maçã no chão com tanta força que a fruta arrebentou inteira. Saiu da sala de jantar bufando e grunhindo de raiva.

— Aonde você vai? — a madrasta perguntou, a voz arranhando as cordas vocais.

— Não te interessa!

— Não adianta fugir, mocinha, nós sempre sabemos onde você está — ela berrou, correndo atrás de Minjeong com o salto alto arrastando no piso.

Minjeong saiu de casa, mas não conseguiu passar pelo portão principal.

Morrendo de raiva, sua única opção era fazer a mesma coisa que fez no dia do casamento de seu pai com sua madrasta, se trancar no próprio quarto e fazer greve de fome até que ele mudasse de ideia.

E, como na primeira vez, aquela também parecia que não ia funcionar.

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⏰ Última atualização: Apr 18 ⏰

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Sete Minutos no Paraíso (winrina)Onde histórias criam vida. Descubra agora