Poderia arrancar seu coração e partir seu pescoço em milésimas de segundo sem sequer necessitar de piscar os olhos.
A raiva percorre a minha corrente sanguínea como um dia chuvoso, aquecendo cada vaso e artéria, meu coração bate desenfreadamente a cada vez que concedo permissão ao meu cérebro para pensar no bárbaro idiota que tenho a infelicidade de chamar de marido. Um turbilhão de sentimentos emerge no meu ser como um tornado imparável e imagens extremamente realistas de mim a acabar com sua miserável vida tomam a minha mente e não a deixam.
Como um rei, uma entidade tão nobre, pode ser tão patético e incorreto? Ninguém assim deveria possuir tanto poder nem ter tantas vidas em suas mãos, ele levará ambos os reinos à miséria, em vez de ser um dos grandiosos salvadores. Lá vai meu plano de recuperar a glória do meu povo. Afinal, como o povo poderá confiar nos seus novos líderes, se tais decisões são tomadas?
Atravesso vários corredores em passos largos e apressados com uma expressão de poucos amigos, o meu olhar deverá ser como um trovão ameaçador porque nenhum ser deste palácio parece se atrever a me encarar ou questionar minhas ações. Felizmente, porque não está nos meus planos do dia, matar as minhas aias ou algum cozinheiro.
Entro numa das salas de reuniões, onde Isaac está a discursar para homens que nunca conheci que concordam em tudo com um ar de superioridade. Não sei em que altura ele decidiu deixar o ambiente profano para reinar, mas preferia ele a, pelo menos, 5 km de distância. A atenção é rapidamente dirigida a mim. Isaac abre um sorriso gigantesco como se desafiasse minha autoridade, os seus olhos observam-me como se conseguisse detalhar os meus pensamentos e descodificar o meu ser. Idiota!
- Preciso falar com o meu marido, retirem-se! - aviso, ninguém se levanta, apenas se ouvem respirações pesadas e olhares desacreditados. Ninguém está habituado à presença feminina... pois... terão que se habituar ou nunca mais pisarão nesta sala sem que todos os seus ossos sejam quebrados e sua língua arrancada sem piedade. - Não é um pedido, é uma ordem! Saiam ou irei vos esfaquear por cada desobediência.
Nada acontece, todos os seres desta sala permanecem estáticos, como se tudo isto passasse de um espetáculo mal construído que acabará rapidamente. Pensam que estou a mentir, a usar tais palavras cruéis para os intimidar, se ao menos soubessem que sempre cumpro minhas palavras. Os meus olhos tornam-se da cor da escuridão e da maldade, sinto que alguns dos homens ficam tensos, mas continuam sem se mexer.
- Ouviram a minha mulher. Suas ordens são para serem cumpridas! - fala calmo, extremamente calmo. Não precisa se exaltar para cada homem se levantar rapidamente e desaparecer do nosso campo de visão, deixando-me perplexa, como que homens tão superficiais e narcisistas podem obedecer a um homem tão desprovido de poder. - Quer alguma coisa, querida?
- A próxima vez que me chamar de querida, seus dentes serão a seguinte coisa a sair de sua boca! - aviso, sentando-me numa cadeira à sua frente, e continuo com a mesma expressão furiosa de antes. Por momentos fiquei surpresa com o que aconteceu mesmo à minha frente, mas assim que encaro os seus olhos presunçosos, a raiva volta-me a perseguir. - Você deveria falar comigo antes de tomar qualquer decisão.
- Precisa de ser mais específica, escuridão... quebrar regras é o meu trabalho favorito! - ele diz, sentando-se também. Escuridão? Quando fala isso, reparo que os meus olhos continuam escuros como uma noite estrelada e desfaço-os, ainda mais irritada.
- A reunião que realizava agora mesmo, eu deveria estar nela. - digo, atirando alguns papéis para a mesa, ele pega nos mesmos e, mesmo após ler cada palavra que consta neles, continua-me a encarar sem entender. - Essas são suas condenações. Mandou cortar as asas a uma fada porque ela roubou comida de um abrigo?
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The kingdomʼs savior
Roman d'amour"Uma verdadeira rainha é aquela que sacrifica a si mesma para proteger seu reino. Enquanto seu povo prospera, ela permanece imune às sombras da escuridão." Numa encruzilhada entre dever e sacrifício, Andromache, herdeira destinada ao trono de Isbucy...