.
.
.
A tempestade rugindo sobre a praia, as ondas violentas lavando corpos destroçados para a costa, o cheiro metálico de sangue misturado ao sal do mar... Era uma cena que jamais esqueceria. Ele se lembrava da intensa batalha contra as forças do Shogunato, de suas tentativas desesperadas de encontrar Kokomi no meio do caos, e de sua luta feroz para proteger seus companheiros.
Os gritos de dor, o choque de armas, o estrondo dos trovões e, acima de tudo, a visão agonizante de Kokomi caída diante de si, ferida e sofrendo. Ele recordava o momento em que tudo parecia perder o sentido, o desespero o tomando por completo enquanto ele tentava alcançar sua líder e protegê-la a todo custo.
Tinha a imagem vívida em sua mente de Kujou Sara, a execrável figura que ele sequer teve a oportunidade de acertar no peito com uma de suas flechas certeiras, segurando a cabeça decapitada de sua sacerdotisa sagrada, diante de seus próprios olhos e dos olhares perplexos de seus soldados, indicando ali, com aquele troféu macabro, que a batalha chegara ao fim, que a resistência de toda Watatsumi se mostrara fútil. O silêncio opressivo que se seguiu à cena grotesca parecia ecoar o desespero e a desolação que invadiam o coração dos combatentes, enquanto as lágrimas se misturavam à chuva que encharcava o campo de batalha, testemunhando a brutalidade do conflito e a inevitável perda de toda esperança.
Abriu os olhos, repletos de lágrimas, meio sobressaltado pelo ar estridente dos pássaros naquela manhã, que o arrancou de um sono inquieto, do qual mal tinha consciência, gemendo de dor ao se mover bruscamente. Uma pontada aguda em seu peito o fez recordar do ferimento recém-infligido, momentos antes da execução de Kokomi diante de todos. A angústia de perder um ente querido misturava-se à sua própria dor física, formando uma tormenta de sofrimento e desespero que parecia não ter fim.
Essas memórias voltavam à sua mente com força devastadora, uma lembrança dolorosa dos sacrifícios feitos e das perdas sofridas. Gorou sabia que a batalha não havia sido vencida, e que ele precisava continuar lutando para honrar seus companheiros caídos e para proteger aqueles que ainda restavam...
Restava alguém?
Olhou ao redor, com seu corpo despertando aos poucos e suas orelhas se mexendo algumas vezes para a esquerda, conseguindo captar além do som típico dos pássaros, o barulho de alguns moradores do que aparentemente seria uma vila, as crianças brincando entre gargalhadas, os mercadores gritando o preço de suas mercadorias, conversas paralelas entre os moradores que ele não conseguia escutar devido a estar demasiado longe.
Talvez um sonho?
Será que desmaiou no campo de batalha e imaginou uma versão fatídica em que sua sacerdotisa divina morria e ele condenava toda a ilha de Watatsumi com uma decisão ruim?
No entanto, a presença ao seu lado o trouxe de volta à realidade cruel da situação no momento que uma garota de cabelos esverdeados, olhos lilás e uma mascara estranha cobrindo metade de seu rosto, adentrou o recinto com uma bolsa marrom em uma de suas mãos, olhando surpresa para Gorou assim que notará que ele estava desperto. Ele tentou mover-se, mas seu corpo estava pesado e dormente, como se tivesse sido esmagado sob o peso da tragédia que havia testemunhado. Cada movimento era uma batalha árdua contra a dor e a exaustão que o consumiam.
- Chefe, o garoto que você trouxe para cá acordou! - Ela recuou alguns passos, colocando a cara para fora do quarto, sem sair dele e uma de suas mãos perto do rosto, gritando isso para seja lá quem fosse seu chefe.
Gorou tenta focar seus sentidos e pelo menos levantar sua cabeça para ter maior visão de quem e de onde o som vem, mas estava totalmente debilitado.
Os murmúrios à sua volta continuavam a ecoar enquanto ele tentava entender sua situação atual. Lutando contra o torpor e a dor que ainda atormentavam seu corpo, Gorou se esforçou para abrir os olhos um pouco mais e encontrar a origem da voz que lhe falara. Aos poucos, sua visão começou a clarear, revelando um cenário mais tranquilo do que aquele que ele imaginara ao despertar inicialmente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cicatrizes da guerra (Ittorou)
Любовные романыGorou enfrentou um confronto brutal contra as forças da comissão Tenryou do Shogunato, durante o qual ele foi salvo em um momento crítico por um salvador misterioso com um par de chifres. Apesar de ter sobrevivido ao combate, a experiência deixou pr...