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Capítulo Seis

Ainda segurando sua mão, puxei Hoshi escada abaixo, avisando minha mãe que não demoraria a voltar e que qualquer coisa bastava me ligar. Hoshi e eu corríamos pela rua em direção a sua casa, que ficava cerca de vinte minutos da minha, não me pergunte como sei disso. Quando chegamos no local, Hoshi soltou sua mão da minha, eu nem mesmo havia percebido que andamos na rua assim, e pegou a chave em seu bolso para destrancar a porta principal. O garoto virou-se para mim e pediu que eu fizesse silêncio. Não entendi, mas obedeci, de qualquer forma. O quarto de Hoshi ficava no andar de baixo, depois de um corredor com alguns quadros de família. Tinha uma foto de Hoshi todo engomadinho usando um smoking branco. Ele subiu dois degraus no meu ranking agora.

Parado em frente à porta de seu quarto, Hoshi fez o sinal de silêncio novamente, pouco antes de abrir lentamente sua porta.

— Voltou rápido. Já estão namorando? — nós ouvimos uma voz aguda dizer.

Naquele momento, eu não podia acreditar no que meus olhos me mostraram. Não havia dúvidas, realmente era Hoshi ali, deitado na cama do outro Hoshi.

— Hoshi? — chamei e os dois me olharam.

— Baixa a bolinha que ele está falando comigo! — o  boneco Hoshi disse, se levantando da cama e abrindo seus braços. — Olha só pra mim, Ji, a gente conseguiu!

— Eu não tô acreditando que você está mesmo... vivo. — sorri, ainda achando tudo muito estranho.

O verdadeiro Hoshi encarava tudo confuso. Enquanto o boneco Hoshi, por outro lado, tinha um sorriso travesso no rosto, completamente à vontade com a situação.

— Não vai fazer o que me prometeu? — Hoshi sussurrou, enquanto o Hoshi boneco encarava a cena com curiosidade.

— Ah, claro. Hoshi...

— Por que eu sinto que você vai me dar uma bronca? Eu só tentei te ajudar. Você me disse várias vezes que queria beijar esse bobão aí. Se não fosse por mim, você continuaria secando ele em todos os jogos, fingindo que entende algo do que eles estão fazendo em campo. Me agradeça por tentar fazer acontecer!

— Jihoon-ah... isso é... — Hoshi, o jogador que eu queria beijar, tentou dizer, mas fiz um som com a boca indicando que ele deveria ficar quieto naquele momento. Eu já estava exposto demais, não queria lidar com minha paixonite descoberta agora.

— Eu não tô bravo, Hoshi, então não surta. — disse ao boneco, que me olhou um pouco desconfiado. — Mas não acho certo você invadir a casa do garoto que eu estava afim e obrigar ele a ir falar comigo. Não é assim que a gente funciona. Temos meios éticos a seguir nesses momentos.

— Vocês são complicados. Eu estou complicado! — ele se sentou na cama de novo, parecia frustrado. — Agora preciso fazer uma água sair de mim toda vez que coloco alguma água aqui... — ele apontou para boca. — Mas eu não consigo parar de beber coisas, a sensação é muito boa. A propósito, como se chama aquela água escura dentro das grandes caixas brancas? Aquelas no quarto ao lado. — ele perguntou ao jogador.

— Tá falando da lavanderia? — então ele ficou em silêncio, logo ouvindo o barulho da máquina batendo a roupa. — Você tomou água suja com sabão?

— Água suja com sabão? É esse o nome? Achei uma delícia! — Hoshi disse sorrindo. Logo voltando a reclamar. — Também tô sentindo uma coisa estranha na barriga e não sei como parar de sentir. Jihoon-ah, você não me contou essas coisas. Ser um garoto de verdade é muito ruim.

— Eu não disse que não era ruim. É péssimo, e muitas vezes eu só queria ser um boneco como você era, sem preocupações. Mas muitas vezes é bom. Como você disse, a sensação de beber... água suja com sabão — fiz careta por não pensar em um exemplo melhor. — é muito boa. A gente vive por essas pequenas coisas, os pequenos momentos que buscamos sensações boas que nos farão sentir bem, como se fosse um escape. Vivemos nesse looping de sensações boas e ruins, até tudo chegar ao fim. — eu franzi a testa, concluindo: — Realmente somos complicados.

— Eu te disse, Jihoon-ah! — o boneco riu.

— Tô adorando o papo, mas esse cara ainda me deve um pedido de desculpas! — Hoshi me lembrou.

— Ele está certo, Hoshi. O que você fez não foi certo e Hoshi merece desculpas.

— Me chama de Soonyoung, porque isso tá ficando muito confuso! — Soonyoung suplicou. Honestamente, eu nunca pensei que teria que dizer o nome dos dois no mesmo ambiente.

— Hoshi, vá até Soonyoung e peça desculpas a ele! — disse, por fim.

Hoshi encolheu os ombros, parecia uma criança lidando com a bronca dos pais.

— Tudo bem — Hoshi disse, levantando-se e caminhando até Soonyoung. — Desculpa por invadir seu quarto, beber sua água suja com sabão e te obrigar a ir falar com Jihoon. Apesar dele falar que quer te beijar direto.

— Hoshi, já chega! Só a desculpa bastava. — ele me encarou rindo, seus olhos lembravam os de Soonyoung. — Agora vamos pra casa. Tenho que pensar em como vou te enfiar no meu quarto sem minha família ver.

Eu já saía do quarto quando ouvi Hoshi me chamar.

— Eu não quero mais... — ele disse.

— Não quer mais o quê?

— Ser de verdade. Eu não gostei de sentir as coisas ruins. Quero voltar a ser um boneco!

Ouvir isso me deixou com um aperto no peito. Hoshi não deveria me deixar tão cedo, eu nem mesmo havia pensado nisso. Mas era sua decisão e eu não tinha como negar seu pedido.

— Tudo bem, vamos para casa pegar os ingredientes e te desencantar! — dei risada, tentando não deixar o momento triste. — Eu nem sei se isso é possível.

Hoshi veio até mim e cruzou nossas mãos.

— Vamos! Eu já não aguento mais as coisas ruins! — Hoshi dizia estranhamente animado, me puxando para fora da casa de Soonyoung.

Mas antes de cruzar a porta principal, ouvimos Soonyoung nos chamar também.

— Posso ir com vocês?

Hoshi e eu nos olhamos antes de assentir.

— Anda, dê a mão para Jihoon! — Hoshi pediu. Soonyoung franziu sua testa e me encarou por um segundo apenas, desviando seu olhar para o chão. Ainda era estranho ver Soonyoung tímido, eu não achava que poderia me acostumar. — Se não der a mão para Jihoon, você não vai! — intimou como uma criança mimada e mandona.

— Jihoon-ah... — Soonyoung choramingou.

— Não me envolva nisso! — dei risada quando vi seu rosto preocupado.

— Vamos, Ji! Soonyoung não vai com a gente. — Hoshi decretou implicante.

Demos as costas e caminhamos para longe da varanda de Soonyoung, logo chegando a calçada da rua. Quando dei uma última olhada para trás, dou de cara com Soonyoung correndo, então segurando minha mão. Assim como Soonyoung e eu mais cedo, todos corremos de mãos dadas até minha casa.

Boneco Encantado •ksy + ljh• ⚣︎ [SoonHoon]Onde histórias criam vida. Descubra agora