Can I call you tonight?

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Jaekyung encarava as anotações das aulas com o breve pensamento de que tudo era uma perda de tempo. Mal escondia que os dias em casa se tornaram um pouco divertidos desde a chegada de Dan, que continuava andando com as mãos próximas do corpo, com aqueles olhos castanhos o olhando como fosse um pequeno animal precisando de permissão para fazer qualquer coisa. Guardou as anotações na mochila, olhando para trás. A carteira logo atrás de si costumava ser a que Dan ocupou nos primeiros dias. Mesmo que não fosse sua classe, era visível que Dan precisava de estar perto de Jaekyung por um tempo, até se acostumar com a nova vida.

E ao que parecia, a vida anterior do ômega era sem dúvidas, precário e diferente. Não conhecia a comida de Coilier, muito menos a organização dos horários. O mais novo sempre tinha um brilho no olhar quando chegava a hora do almoço, encantado com os pratos variados e mesmo de noite, soava como algo mágico para ele a chance de poder estudar sentado ao lado de Jaekyung. Por vezes, cutucando o braço do alfa, estendendo timidamente o caderno para que visse se havia acertado tudo.

Uma coisa era certa, Dan era inteligente, do tipo que poderia até estar em aulas avançadas. Mas mostrava os deveres para Jaekyung, não para Youngmi ou Jaeyoon. Isso foi notado rapidamente, sempre que terminava algum dever do colégio, era para Jaekyung que ele recorria. Não que o alfa se importasse ou quisesse saber disso, e Jaeyoon percebia que Dan seguia o alfa, sempre perguntando se precisava de alguma coisa. Foi um tema abordado nas sessões de terapia, Jaekyung sabia de tudo, graças à obediência de Dan.

Obediência. Jaekyung saboreava aquela palavra como uma sobremesa que deveria ser demorada aos poucos, se deliciando com cada aspecto das camadas.

A caminho do treino, Jaekyung pensava em como aquele controle era tentador, como sabia que Dan faria tudo o que pedisse e era ainda mais tentador querer testar os limites. Era algo delicioso demais para ser evitado. "Agora ele deve estar nas aulas de música" ele pensava, imaginando o quão tedioso deveria ser aquela sala ampla e os sons desafinados ecoando, e pouco pensou se Dan queria de verdade aprender a tocar violoncelo. Ironicamente, os Yoon criavam Dan como um molde para um filho da elite.

Dan tinha a aparência invejável e inocente, com as roupas certas poderia ser exposto em reuniões de Jaeyoon e tinha certeza, o fariam tocar o violoncelo. Não sabia por quanto tempo Dan permaneceria naquela casa, mas seria por um bom tempo. Youngmi e Jaeyoon organizavam as coisas do novo quarto e até diziam que ele poderia usar a garagem para treinar violoncelo. Dan era definitivamente um Yoon.

Jaekyung apressou os passos até o vestiário, trocando o uniforme do time. Riu baixo, o barulho dos vestiários soando calmo para si. E melhor ainda era ir para o campo.

Pouco se importava com os pensamentos que batiam em sua cabeça, assim que pisou no campo, uma sensação de alívio percorreu os músculos. Talvez a raiva que sentia se tornasse pior sem isso, sem o treinador apitando o começo do treino e ele podendo descontar toda a frustração em algo produtivo. O sol quente deixava o gramado mais verde, em uma tonalidade vívida enquanto os atletas corriam aos comandos, e ele era mais rápido, mais forte. Derrubando tudo que estivesse a sua frente, com o olhar intenso como se nada pudesse existir na sua frente.

O suor, a respiração ofegando, a adrenalina. Gostava de tudo aquilo.

Algumas vezes, quando os adversários caíam e ele se levantava, encarando o campo, era como se aquele fosse o território dele. Apenas dele, e de certa maneira pensou que deveria ser grato. Afinal, todas as partes chatas caberiam à Kim Dan. Era o ômega paparicado com roupas novas como a nova boneca de Youngmi, e seria exposto como o garoto digno de pena que Jaeyoon salvou.

O apito soava alto, e por um momento, olhou as arquibancadas. Não era de hoje que ômegas e betas se sentavam ali querendo conquistar um pouco de atenção. O problema era que o Hayfield havia se tornado um colégio misto fazia pouco tempo, e era capaz de contar nos dedos a quantidade de ômegas que estudavam ali. Nenhuma era feia, a maioria com cabelos compridos ondulados e olhos claros. Haviam poucos asiáticos na região, apenas as família que já moravam há gerações em Coilier. Chegava a ser irônico como não parecia estranha a relação próxima daquelas famílias.