Palavras no Corpo

Único

Carol

Muito se passou até o atual momento, Carol sabia disso. Entre reencontros, namoros, investigações e verdades vindo à tona do passado, a cientista começa a se preparar para um novo capítulo da sua vida.

Reencontrar a Natália nunca esteve no seu plano, logo ela que sempre foi metódica, tudo sempre foi regrado e bem estabelecido, com o trabalho acima de tudo. Até seus namoros furados, mesmo os que fugiram um pouco de sua rotina, sempre foram muito pensados e calculados. E, dentre tantos percalços, a Natália chegou abalando suas estruturas, desde o início, seu jeitinho complicado e intenso, sua intuição incrível e sua persistência diária em estar bem e em descobrir a verdade.

Carol jamais poderia imaginar estar vivendo tudo o que agora experimenta todos os dias, ter a Natália como seu grande amor, desde tanto tempo caindo em poços rasos, finalmente agora pode mergulhar no mar calmo e sem fundo que é amar a sua melhor amiga. Os dias não são mais os mesmos, sua atual namorada faz de tudo para transformar sua rotina, possuindo uma disposição única em entender seu jeito nerd de ser, faz com que a fisioterapeuta se apaixone cada vez mais a todo momento.

Agora, com os preparativos da viagem para o Canadá junto a sua amada, existe apenas uma questão que sonda e persiste na cabeça da cientista, o que é uma besteira. Carol a grande doutora em fisioterapia, renomada, com artigos científicos premiados, encontra-se desesperada.

Não é como se ela não soubesse o que iria acontecer, ela sabia, ou melhor, ela queria que acontecesse, estava intrínseco a ela, sabia disso como entendia perfeitamente o mais básico da fisioterapia, dos movimentos e dos planos anatômicos. Mas, talvez nada na vida a havia preparado para esse momento, diferente de tudo o que já viveu, tem muita ansiedade, mas muita certeza, vontade e amor envolvido.

- Ai Carol fala logo, fica nesse vai não vai pelo amor de deus! - Adriana exclamou exasperada vendo o nervosismo da amiga - Já entendi que você ama a Natália, isso todo mundo já sabia no off, muito antes de vocês duas.

Riram juntas e um filme passou pela cabeça da cientista depois de tudo o que aconteceu nesse último ano.

- Ai amiga, você sabe, né - Falou enquanto se servia de mais café. Natália passaria a tarde resolvendo algumas burocracias da galeria e conversando com futuros compradores de suas obras, então a fisioterapeuta resolveu aceitar o convite da amiga veterinária para conversar e poder fofocar - É que assim, desde que o grupo se reencontrou, eu namorei muito, teve Pedro, Ulisses, Marcos e até mesmo o Carlinhos, e o que vivi com eles não foi muito diferente do que eu já tinha vivido sabe?

- Sim sim, faz sentido né, a maioria foi passageiro, agora sua cabeça está confusa, amiga. Você nunca viveu esse sentimento, normal estar preocupada, nervos-

- Não é isso - Carol a cortou - O que eu tô querendo dizer é diferente desse sentimento, sabe? É algo mais assim físico... - Suas bochechas coraram violentamente.

- Ah não, não vai dizer que...- Adriana olhou no fundo dos olhos da amiga segurando uma gargalhada.

- Ô Adriana não acha graça vai - Mesmo relutante até a fisioterapeuta não pode deixar de rir junto.

- Não tô acreditando que vocês ainda não transaram, Carol, como assim cara, quando você confessou seu amor imensurável pela Natália eu jurava que vocês já tinham feito sabe, você não dormiu lá no dia que descobrimos o assassino do Bruno?

- Dormi amiga, mas aconteceu tanta coisa e até quando eu assumi pra ela e a gente se beijou sabe, foi ótimo! Eu amei cada segundo, mas foi tudo muito rápido, o que eu sinto por ela é tão grande e passamos por tantas coisas juntas, tinha muito pra digerir ainda. E ai, eu acho que a gente já tava acostumada com a amizade e muito amor envolvido, e vamos ser sinceras, eu e a Natália já erámos um casal sem nem saber - Carol desabafou com um sorriso no rosto.