— Que bruxaria é essa? — questiona Desiderata ao abrir o armário, encontrando-o limpo e vazio.
Tendo me abaixado para sondar o assoalho, reparo no desgaste em formato de meia lua, sinalizando o movimento recorrente que a parede faz, pouco notável sem uma inspeção ávida. Algo que não percebi naquela madrugada, porque a escuridão jamais permitiria.
Ademais, descubro que o armário não está exatamente apoiado no chão, mas foi grampeado na parede para que sua rotação seja silenciosa.
— É um mecanismo engenhoso — comento impressionada, apoiando-me na dama para conseguir levantar. — Existem alguns destes espalhados pelo castelo. Provavelmente, bem mais do que eu sou capaz de supor.
Pelo visto, Versalhes possui inúmeras passagens secretas.
Foi assim que ocultaram o corpo de Lys de forma tão rápida. Simplesmente não era o mesmo lugar. Foi o tempo de Desiderata ir até mim e... até menos.
Num piscar de olhos a cena do crime estava limpa e livre de rastros, mas os rastros desse crime não estavam tão longe de nós.
O assassino devia estar até nos observando.
— O que será que tem do outro lado?
— Tenho até medo de descobrir — respondo, acometendo-me de um calafrio.
— Então eu vou lá ver! — avisa-me Desiderata, entrando no armário, em seguida, fechando as portas. — Faça isso andar — pede-me com a voz abafada pelo móvel.
Diante disso, caminho até o suporte para velas e endireito-o, fazendo com que resurja para mim o armário com resquícios de sangue.
— Onde está? — questiono a ela, elevando a voz.
— Não tem nada demais aqui! — responde-me a dama, soando desanimada. — Venha ver!
Pouco depois, ouço o som da parede se movendo e não tarda muito, retorna a mim o compartimento que ela usara de veículo.
Ora! É óbvio que há um jeito de movê-lo pelos dois lados.
Sem pestanejar, acomodo-me em seu interior e, tendo me dado o tempo de fazer isso, Desiderata aciona o mecanismo outra vez, fazendo-me perder de vista a presença inerte da médica até rodopiar o suficiente para vislumbrar sua face vivida.
— Parece um carrossel, né? — questiona-me aos risos.
— Pena que serve para cometer homicídios e tortura — afirmo com certa ironia.
Em seguida, me retiro do móvel e esquadrinho o entorno de testa franzida.
O que vejo nada mais é que uma sala semelhante à outra, mas com seus móveis do lado oposto, como se fora um reflexo de espelho. A mesma mesa, as mesmas estantes. Possui até a mesma porta rústica com enormes ferrolhos.
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À Espera da Coroa - LIVRO 4 - CIR.
Historical FictionO casamento real se aproxima e a corte toda está em polvorosa! Exceto por uma pessoa... O que seria um fato isolado, e até irrelevante, se essa pessoa não fosse justamente a noiva. Panny Delyon recebeu a notícia que mais temia, ou que aprendera a te...