A Saga das Três Irmãs - Capítulo 3

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A casa comunal de Örebro era uma construção comprida, bem comprida, com dezenas de longas mesas e um grande braseiro no centro. No fundo do salão, havia uma lareira bem larga, onde estavam sentados o jarl Hemming, sua esposa Grimild e um jovem cheio de espinhas com rosto vermelho.

"O que achou do nosso hidromel, Björn?" — quis saber o chefe da aldeia — "Seu pai adorava caçar no bosque e encher a cara com esse hidromel".

"É bom..." — respondeu o rapaz, mais desanimado que bêbado — "Agora só me falta ir caçar."

"Tem medo de bestas e trolls, meu rapaz?" — perguntou Grimild com um chifre de bebida na mão — "Abateram um cervo comedor de gente nas redondezas."

"Grimild!" — reclamou o marido.

"Eu não tenho medo de nada que venha da natureza, minha senhora" — respondeu o príncipe — "Meu pai me ensinou a temer só guerreiros sensatos e mulheres traiçoeiras."

"Aonde vai, meu caro?" — quis saber o jarl.

"Eu preciso mijar."

De repente, as pessoas largaram seus petiscos e canecos. Ante o jarl e sua esposa, estavam os noivos.

Do outro lado do salão, surgiu uma figura sombria vestida de um manto escuro encapuzado. Este capuz era coberto por um par de galhadas de renas. As únicas coisas que brilhavam ali eram os dois olhos vidrados de azul.

"Aproximem-se" — disse Halthora em um tom solene.

Enquanto o chefe fez um sinal gentil para que o príncipe voltar ao seu lugar de direito, Edvig e Gunnar flutuaram sorridentes para a oficial da cerimônia.

"Eu não entendo o porquê dessa fanfarrice" — comentou Jorun, ao pé do ouvido de Einar — "Achei que a Halthora fosse, pelo menos, abrir mão desse papel. É desleal."

"A própria Ingrid insistiu nisso" — comentou o lenhador — "Ela é orgulhosa demais para admitir que está ferida. Apesar de tudo, ela não veio..."

"Eu não deveria ter vindo também. Vim mais para acompanhar o velho Sven."

"E por falar nisso, onde ele está?"

"Se esfregando com a velha Gertrudes."

"Esse velhote!" — riu-se Einar — "Não é à toa que é chamado de O Destemido."

Então Halthora, a oficiante, amarrou um lenço colorido nos pulsos dos noivos. Estava acabado. Edvig pulou no colo de Gunnar e foram-se beijar em uma mesa. Os demais visitantes voltaram a atacar os pratos e canecos de chifre. A bebida e a comida pareciam desfilar nas mesas sujas e tortas.

Algum tempo depois, começou uma longa e animada cantoria. As mulheres mais bonitas da aldeia esganiçavam a voz enquanto alguns sujeitos desocupados batucavam tambores de couro de cabra. As pessoas começaram a sapatear engraçado no salão, derrubando cadeiras e outros objetos.

Logo surgiu a primeira briga. Um vizinho tentou esfaquear o outro, enquanto um terceiro resolveu que era a hora de cobrar uma dívida. A confusão se espalhou como brasa. O jarl Hemming, muito sábio, não queria ter a casa comunal destruída, então soprou uma corneta para resolver a questão.

"Já chega disso!" — gritou ele, após sopro — "Vamos resolver esse caso como nos velhos tempos!"

O salão ficou em silêncio.

Os mais bêbados ouviram o chefe e tentaram sacar suas armas. As mulheres ficaram apontando as verrugas umas das outras; as crianças, a brincar com pedaços de pau.

"É disso que eu estou falando!" — bradou Hemming, a apontar para as crianças — "Que as diferenças sejam resolvidas em uma partida de knattleikr!"

Möjrakitan - A Saga das Três IrmãsOnde histórias criam vida. Descubra agora