Cap. 34

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- Acho melhor a gente sentar, a conversa vai ser um pouco longa.

- Ok, vamos entrar! – Larissa disse.

E assim fizeram. Mas, sentaram em um banco um pouco distante de onde as crianças estavam para evitar que elas ficassem agitadas. Sempre que Larissa estava ali era motivo para gritarias e agora mais ainda com Ohana junto.

- Primeiro eu queria agradecer pelo dia, foi maravilhoso! – Miguel começou. – E desculpa se vou tomar o tempo de vocês, é que não sei porque, mas sinto essa vontade de desabafar quando to perto de vocês!

- Não se preocupe com o tempo, e também não precisa falar nada que não se sentir confortável. – Larissa disse e Ohana assentiu.

- Ok. – Ele respirou fundo e olhou para a frente, desviando o olhar delas e agora observando as crianças que brincavam de muito longe. – Como eu havia dito pra Larissa... Eu entrei no orfanato com 12 anos. Meu pai foi morto por estar envolvido com drogas e éramos só eu e ele, então fiquei sozinho no mundo. Minha mãe morreu no parto mesmo! – Ele olhou rapidamente para Ohana, sabendo que ela não tinha escutado essa parte ainda. – O que eu não contei foi que de certa forma fiquei aliviado. – Ele abaixou a cabeça e mexeu nos dedos. – Não pela morte dele, mas porque eu havia finalmente me livrado de uma rotina dolorosa!

Elas escutavam atentas.

- Eu percebi que gosto de menino desde cedo! – Ele continuou, olhando para um ponto do chão que não podia ser definido. – Mas, meu pai sempre foi muito... rígido quanto a minha forma de agir e de conhecer o mundo! Desde cedo me dizendo a quantidade de garotas que eu "comeria". Desculpe o linguajar!

- Tudo bem. – Ohana respondeu baixo.

- Mas, eu olhava pras meninas e não sentia nada! E eu sabia o porquê, já que o que eu queria era andar de mãos dadas com o meu amigo. Tive vontade de dar meu primeiro selinho com ele e pra minha surpresa, descobri que ele queria também! – Ele sorriu um pouco triste. – Então combinamos de brincar lá em casa. Eu tinha 10 anos, sei que era novo pra já estar querendo perder meu "bv". Mas, fui apresentado a algumas prostitutas um pouco antes disso, meu pai me mostrou esse mundo desde cedo, apesar deu não fazer realmente nada, mas ele me ensinava e deixava eu ver... Algumas coisas.

- Meu Deus. – Larissa disse.

- Enfim, meu amigo foi pra minha casa e em um momento da partida de basquete em que estávamos, eu o chamei, envergonhado como era, dei um beijo na bochecha dele! – Ele as encarou. – Fiquei me achando o máximo e ele foi mais ousado ainda, então depois de ficar entre se olhar e esconder os rostos com a vergonha que estávamos, finalmente ele me deu um selinho! – Miguel suspirou. – Foi rápido, tão rápido! Mas, foi exatamente na hora que meu pai abriu a porta da garagem.

Miguel parou de falar e o silencio se fez presente por um tempo. Elas esperaram pelo tempo dele. Sabiam que era um assunto delicado e não queriam o forçar a nada. Apesar da curiosidade bater e junto a ela algo controverso, como não querer escutar mais por saber que o que sairia da boca dele, seria no mínimo horrível.

Depois de alguns minutos, ele continuou.

- Ele mandou a gente entrar no carro e levou Levi pra casa. O silencio por todo o percurso foi algo sufocante, eu tava tão nervoso que sentia um frio incomum, já que estava calor naquele dia. – Ele suspirou. – Quando chegamos em casa novamente, meu pai me colocou no banheiro e pegou uma revista da Playboy. Me mandou... É... Mandou que eu me... – Ele as encarou e viu que elas tinham entendido o que ele quis dizer. – ... Pra foto de uma mulher pelada. E disse que eu apanharia se não fizesse.

- Meu Deus. – Ohana falou.

- E eu não consegui! – Ele desviou o olhar. – A partir daquele dia, apanhei todos os dias quando eu não conseguia... pras revistas que ele me mostrava! E com o tempo ele aumentou os castigos e objetos que usava pra me bater. Repetia sempre que isso era bom pra eu virar um homem de verdade. Aprender a apanhar aparentemente me tornaria um homem! – Ele riu sem humor. – E um homem, não beija outros homens! Repetindo exatamente o que ele me falava.

Inexplicável - Ohanitta -Onde histórias criam vida. Descubra agora