Ultraviolence

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[ AVISOS ]


A obra a seguir não possui relação alguma com a realidade, meramente fictícia!


Narração em primeira pessoa, epistolar. É minha primeira vez (em MUITO tempo, pelo menos) escrevendo algo nesse estilo, então peço compreensão. Também é só uma brincadeirinha fruto do meu tédio, favor não esperar muita complexidade ou coerência...


Levemente inspirado por Moulin Rouge e Dorian Gray, alguns apelidos também foram baseados em "É Assim que se Perde a Guerra do Tempo".

Não há descrições gráficas de conteúdos sexuais ou violentos, mas há, sim, menções e alusões a tais. Não recomendado para menores de dezesseis anos.


E pra quem não gosta, fica o aviso de final aberto.


Boa leitura!

🎺

Paris, França.

17 de abril de 1899.


À minha flor de cerejeira, Soojin,


Foi o vermelho na ponta dos dedos que ardeu feito brasa, que traçou os lábios suaves de uma rosa e que ecoou pelo vinil a sua partida. Enlaçou-me à silhueta sinuosa a qual, mais tarde, seria memorizada pelas minhas mãos (cada curva, cada relevo...). Que me faz lembrar da maneira provocativa com que sua boca delineava meu nome, do atrito suave de pele contra pele e da dolorosa solidão que atingia-me pelas manhãs. Em retrospecto, era óbvio: você iria me deixar.


Na primeira noite, eu não te vi ir embora. Recordo-me, sim, de que a ideia de uma estranha perambulando pelo meu apartamento era inquietante, mas apenas mais tarde pude concluir que o maior incômodo foi sua ausência nos meus lençóis. Ainda me pergunto como você é capaz. Foi seu desejo por casualidades ou foi a frieza em seus olhos? Certa vez, eu os comparei a duas pérolas negras mirando-me em uma correnteza, como os de uma ninfa. Você riu, mas era verdade; seu olhar me atrai como uma sinfonia etérea, afoga-me sob teu mar, segura meus cabelos e gargalha ao que me debato em suas mãos. É doloroso, de certa forma, mas sempre apreciei sua crueldade.


No fim, você não me abandonou ali. Não de verdade. Não ainda. Guardo sob o travesseiro o papel e, no peito, as palavras: um endereço, um horário e uma data. Um beijo disfarçado. Às vezes, arrasto meus dedos pelo batom apenas para vê-lo se desfazer diante do meu toque. Apenas para me certificar de que isso não fez parte dos delírios de uma mente ébria - por álcool ou paixão? A escolha é sua. Eu gostaria de conferir-lhe as respostas certas para livrar sua consciência de alguma culpa (se é que você me ressente de alguma maneira), mas, tratando-se de você, sou incapaz de permanecer atada a uma única conclusão. Você é um mistério, Seo Soojin, e espero que encare isso docilmente, pois escrevo como um elogio. Sou grata pela oportunidade que tive de decifrá-la.


De todo modo, eu fui encontrá-la. Não posso me crucificar pela imprudência de buscar por você porque, quando penso a respeito, não consigo me imaginar inclinada a outras decisões. Você era meu destino, minha salvação premeditada. Eu escapei da minha letargia segurando sua mão.


E embora você deteste confissões, eu repudio espirais, então serei direta: me apaixonei por você na primeira vez que te ouvi cantar. Culpe seus versos melancólicos, a embriaguez do vinho, o desespero que me afligia ou o que desejar. Eu culpo você, minha rosa carmim. Meu veneno rubro. Sua voz me intoxicou à primeira nota, ao primeiro dedilhar melódico do piano. Se haviam outros para acompanhá-la, mal consigo me lembrar; meus olhos estavam fixos somente em você, um felino armado para o ataque movendo-se com uma elegância diligente. Desejei ser aquele que a guiava para o palco apenas pelo privilégio de tomá-la à mão, de beijar sua pele com uma delicadeza prolongada e sorver do champanhe efervescente que compunha seu perfume, delicado como cerejas. Você sempre foi essencialmente sofisticada.

Ultraviolence ; Sooshu oneshot.Onde histórias criam vida. Descubra agora