THE PROPHECY

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and I sound like an infant
feeling like the very last drops of an ink pen

PENÉLOPE, NO FUNDO DE SUA MENTE, DESEJOU SER ELOISE. O quanto seria bom, pelo menos uma vez, fazer a escolha de seu futuro – sim, as duas eram solteironas, mas apenas uma delas tinha escolhido o status.

O amargor que residia em sua boca todas as vezes que a amiga negava um pedido de casamento a incomodava mais do que ousava deixar transparecer; do que ousava deixar-se admitir. Ela realmente entendia a amiga. Quando você cresce cercada de amor verdadeiro, vendo seus irmãos, que te adoram, casados com pessoas que absolutamente adoram, é difícil se contentar com pouco, se contentar com menos.

Mas para alguém como ela? A pobre Penélope, sempre escondida em suas roupas verdes e laranja bufantes por nunca ser bonita o suficiente para ser mostrada como suas irmãs. A pobre Penélope que os irmãos Bridgertons tiravam para dançar por pena da amiga da irmã. A pobre Penélope não tinha tais luxos como o de sua amiga, de amar quem assumisse o sacrifício de casar-se com ela, se alguém fizesse isso; com cada vez mais tempo sem ninguém a cortejando, casamento se tornava ainda mais um sonho que nunca se realizaria. Não para ela, a pobre Penélope.

Penélope não era bonita, não sabia ter uma conversa sem tremer de ansiedade, mal bordava e definitivamente não tinha o corpo que homens desejavam. Penélope era inteligente, entretanto, inteligência não lhe traria nenhum marido, não faria suas irmãs gostarem dela ou sua mãe a enxergar como uma pessoa. Ela estaria presa naquela casa pro resto de sua miserável vida, condenada a apenas observar todos ao seu redor viverem enquanto ela publicava frases engraçadinhas que ninguém sabia que eram dela.

Em noites como essa, seu coração quebrava um pouco mais, sua esperança morria um pouco mais e seu anseio aumentava um pouco mais.

Era miserável querer tanto e não ter nem a possibilidade de existir.

Porque Penélope não existia.

Enquanto via outras meninas com olhos tão jovens cheios de vida dançando, ela só desejava, com tudo o que restava de seu eu quebrado e morto que fosse ela. Que algo mudasse, que seu destino infeliz decidisse que Penélope teria vez, que ela um dia teria ao menos a chance de ser aquela que tem olhos tão vivazes — mas os olhos de Penélope eram tão desesperançosos quanto sua mente.

Penélope sempre se perguntou se existia algum Deus, ela achava que não, mas queria que sim, queria ter alguém para implorar, não importa o quão degradante ou humilhante pudesse ser; alguém que tivesse o poder de mudar seu destino, sua vida, quem ela era. Sua pele se tornava fogo, impossível de vestir, queimando cada gota de força que ela conseguia reunir; os arranhões nos braços eram provas o suficiente, as marcas de unhas embebidas no veneno de precisar sentir algo — nem que seja ardência e dor.

A apatia incomodava mais que dor e desespero.

Os dias que acabavam sem ela sentir nada, apenas sendo mais um desperdício de ar no mundo, eram os que mais a faziam chorar a noite – ela preferia a dor; a dor das palavras honestamente crueis que sua mãe lhe dizia, as palavras humilhantes que Cressida sussurrava para toda a sociedade, as palavras de pena que sabia que os Bridgertons não ousavam dizer por educação Nesses momentos Penélope quase esquecia que ser odiada e o objeto de tais martírios era melhor que não existir. A dor era algo, a dor ela conseguia transformar em raiva e ódio recíproco.

A tristeza, entretanto, ficava ali. Ela crescia, alimentada pelas lágrimas que retinha e pelo autodesprezo que sua mente inventava; era, de fato, invenção, já que essa era a realidade?

✓ THE PROPHECY, BRIDGERTONOnde histórias criam vida. Descubra agora