Richarlison não deveria estar ali.
Coberto por uma capa branquíssima, que parecia pertencer a alguma raposa da neve ou urso albino, ele se sentia pesado, como quem carregasse todo o peso de um reino inteiro em seus ombros magros.
Em pé diante de uma vasta plateia, incapaz de erguer os olhos para além da gola detalhada do seu noivo, enquanto o Alto-Sacerdote da Luz unia suas mãos em um nó apertado com uma tira de seda vermelho-sangue, proclamando aquela união para todos verem. Não era algo que Richarlison, algum dia, já tivesse imaginado para si.
Ele não deveria estar ali.
Richarlison não queria estar ali.
Porém, aparentemente, os deuses o odiavam. Desde os antigos, já sem muitos fiéis nos tempos atuais, até o grande e soberano Senhor da Luz. Todos lhe odiavam. Essa é a única explicação que rondava sua mente desde o dia em que caiu, contorcendo-se em dor e calor em frente a seu irmão mais velho alfa, durante um treino de espadas.
Menos de três meses se passaram desde que ele se tornou oficialmente um ômega perante o rei e a corte de Solarius. Independente de ser recessivo ou não. E agora, após aquele primeiro cio agonizante, aqui está ele, casando-se com o terceiro filho alfa do clã Son, do extremo norte.
É irreal.
Como um pesadelo angustiante que se desenrola lento diante dos seus olhos, e que ele se encontra impotente para acordar.
Nem mesmo quando ele está sentado ao lado do seu — agora — marido, na grande mesa central do banquete, com um prato cheio de cordeiro assado e sua taça quase transbordando de vinho, Richarlison consegue sentir que está realmente ali. Em um último lampejo de consciência ou noção de realidade, ele deseja que o banho com óleo de flores que recebeu antes do casamento seja tão potente quanto dizem. Ele teme não conseguir suportar seu pai rosnando, mais uma vez, para ele sobre o quanto é vulgar e desrespeitoso um ômega não saber manter o seu próprio cheio sob controle.
Vinte e um anos vividos como um beta, despreocupado com casamentos ou sua imagem, como o segundo caçula e quarto príncipe de Solarius, sem grandes expectativas ou anseios.
Há muito, o rei já possuía seu herdeiro alfa muito bem-casado com uma bela ômega de uma boa casa influente. E que já carregava no ventre o futuro do reino.
Então, Richarlison teve uma apresentação ômega tardia. E, repentinamente, ele tinha apenas dois meses para se tornar um ômega de sangue real aceitável para uma boa e almejada união da casa De'Andrade, que ocupa o trono nos últimos 130 anos, com o clã Son, a família principal que governa as terras do Norte desde antes do reino Solarius se estabelecer e prosperar.
Ele confessa que quase gargalhou em desgraça em frente ao rei, seu pai, quando recebeu a notícia de que o Norte havia cedido ao arranjo do casamento. Apesar de suas circunstâncias únicas — uma apresentação tardia e muito distante da idade ideal para um bom ômega se casar, que é a partir do décimo sexto aniversário — e do seu histórico pouco sutil de idas e vindas às casas de entretenimento da capital.
Casar seu filho, recém-apresentado ômega, com alguém da família principal dos Son, parecia puro sadismo, vindo do rei.
Todos têm conhecimento de que o clã Son são os últimos descendentes dos Lúpus que habitavam essa região do continente e que se estabeleceram nas terras do extremo norte, em uma linha tênue de submissão ao trono de Solarius. O sangue Lúpus ainda corre forte por suas veias, os fazendo mais próximos dos lobos originais do que dos homens.
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O Peso de Um Reino | 2SON abo medieval au
FanfictionApós uma apresentação ômega tardia, Richarlison De'Andrade, o segundo caçula do trono de Solarius e "O Príncipe sem Importância", se vê em um casamento arranjado com um dos filhos do clã Son. E terá uma noite de núpcias, no mínimo, atípica... obs: n...