Capítulo Trinta e Cinco

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            Fernando está a ficar cheio da mesma conversa sobre o casamento, bufa em silêncio, entra no adro com Rita, que se aproxima da jovem pastora. O doutor inexperiente aproxima-se de Santiago que está sentado num muro à sombra de uma oliveira.

— Então, boa tarde, Santiago e companhia — cumprimenta também a jovem que está agarrada a ele. — Quando se casam?

De repente, a jovem fica muito incomodada, com as suas faces escarlates. O doutor fica sem saber o que dizer, pensava que era para se casar. Ao passo que, Santiago sorri de bondade e ternura, por fim toma a sua palavra e responde:

— Desculpe, — demonstra o quão lhe custa ainda tratar a seu amigo como igual — o facto de Camila agir assim, Fernando. — Pausa — na verdade, é que já há algum tempo que temos falado nisso, mas temos tido múltiplos contratempos.

Entretanto, Fernando sente que causou um certo desconforto àquela jovem de faces rosadas, tenta remediar a situação.

— Entendo... — dirigindo-se à jovem que encara o chão — Camila não é preciso ficares assim, hoje em dia casar é normalíssimo.

O gesto de Fernando não passa despercebido à pastora, que agora o encara com uma luz diferente nos seus olhos. Rita, que se senta ao lado da pastora a cumprimenta carinhosamente, como sempre fazia:

— Boa tarde, Matilde — cumprimenta a sua amiga — como vai a vida?

O olhar sereno da jovem pastora encontra o de Fernando, por alguns segundos encaram-se, Matilde põe uma mexa de cabelo atrás da orelha e disfarça, volta-se para Rita a sorrir:

— Oh, Rita, estou bem — pausa — e o Doutor Leopoldo — quase cruza as suas sobrancelhas de esganação — já aceitou que estudes?

Esse era um dos muitos requisitos que Matilde não entende a impossibilidade de um homem ser tão culto e ao mesmo tempo tão asno, por o que se consta só Fernando o seu segundo filho é que era doutor. De acordo com Matilde, o doutor Juiz da Mula Russa como lhe chama era muito retrograda por pensar que só os homens é que têm de trabalhar para o sustento do lar e as mulheres têm de ficar em casa, para os servir.

— Ele quer que me case o mais rápido impossível — declara a jovem.

Parece mesmo que se quer livrar da rapariga. Se bem que por um lado pode ser bom, porque terá mais liberdade, todavia; tem as suas dúvidas pois conhecendo bem o juiz como o conhece, sabe que não é assim tão simples.

O homem de cabelos cumpridos sobe a rampa, desta vez devagar e só, sem o seu único motivo a seu favor

— com quem? — Inquire — tu namoras?

Rita tem conhecimento que a pastora não se dá com o seu pai, no fundo tem razão, embora lhe custe a aceitar que seu pai tenha, assim, tanta culpa, por ventura; sabe que o doutor Juiz tem umas atitudes repugnantes, a sua postura de um pai sobressaltado e que só se importa consigo mesmo. A miúda medita no seu interior, se a pastora terá as suas razões para achar o senhor doutor Juiz de Fora severo. Engole em seco, e coça o seu pescoço, molha os seus lábios, fecha os seus olhos como quem luta para afastar o mau fado, que se avizinha: ainda que não entenda a relutância de seu pai ao não querer que suas filhas estudem sendo criadas para tomarem conta de uma casa e de suas respetivas famílias.

No entanto, via-se obrigada a obedecer-lhe, pois; sempre foi a moça que faria de tudo que seu pai lhe mandasse.

Rita, — pausa — é preciso que fale com ele? — Inquire a Pastora.

Alto dos Vendavais - Volume I - Os Ricos Também ChoramOnde histórias criam vida. Descubra agora