Capítulo 1

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Ana Flávia

Senti o meu cobertor ser arrancado de cima de mim pelo meu pai, revirei os olhos percebendo que a minha tentativa de fuga tinha, miseravelmente, falhado. Pelo menos, parte dela, já que eu consegui ir pra festa e voltar.

A vida seria mais fácil se eu fosse um ninja ou se eu nem tivesse nascido!

É cedo demais pra começar as piadas pesadas?

   - ANA FLÁVIA, EU SEI QUE VOCÊ TÁ ACORDADA, LEVANTA DESSA DROGA DESSA CAMA AGORA! - Ordenou meu pai

Abaixem o volume, as cenas a seguir contém muita gritaria de velho que precisa fumar ou pelo menos cheirar um pó.

Antes de me sentar na cama, enfiei o celular de baixo do travesseiro, com medo deles inventarem de pegar ele.

Eu ainda estava com o vestido que usei pra sair, com a maquiagem borrada e com o cabelo bagunçado. Eu tive que voltar correndo e os meus pés devem estar parecendo carvão, já que eu estava descalça quando fugi da festa..

Longa história, mas resumidamente, o dono da boate tem uma filha que não gosta muito de mim e eu não me importei de jogar uma mesa nela, literalmente.

  - Bom dia papai querido, acordou cedo né?! - brinquei com um sorriso
 
  - Garota, você não sabe o quanto eu tô me controlando pra não..

Pra não comprar uma casa bem longe daqui?! Viu gente, ele é um amor!

  - Rodrigo! - chamou minha mãe, impedindo meu pai de, possivelmente, me xingar em 3 línguas diferentes.

  - VOCÊ FOI EXPULSA MAIS UMA VEZ! - reclamou o meu pai, já vermelho pela irritação.

Finalmente! Eu tô quase chorando de emoção..

  - O quê? - comecei a atuar, escondendo o meu sorriso vitorioso - Eu não acredito.. deve ter sido um engano!

  - VOCÊ TACOU FOGO NO ESCRITÓRIO DA DIRETORA ANA FLÁVIA, VOCÊ QUER MESMO QUE EU ACREDITE QUE ESSE NÃO É O QUINTO ESCRITÓRIO QUE VOCÊ COLOCA FOGO?! - gritou o meu pai em pânico e irritado.

  Em minha defesa, a diretora era uma vadia comigo.

  Só porque eu fui expulsa de quatro outras escolas, não significa que eu não posso ser legal e tirar boas notas.

  - Eu não fiz nada.. - Menti, fazendo meu máximo pra esconder o sorriso que se formava em meu lábio.

  - Você é simplesmente impossível, eu não entendo como você é minha filha, o Luan nunca faria algo assim! - protestou o meu pai, usando meu irmão, mais uma vez, como argumento.

  - Eu não sou ele! - falo rapidamente, mudando o tom da minha voz para um tom frio.

  - Claro que você não é ele! Ele era bem melhor que isso, e outra, ele está morto! - Me lembrou.

O meu pai age como se eu não soubesse disso. Como eu poderia esquecer?! Se eles me lembram todos os dias o quanto meu irmão perfeito morreu por minha causa.

Trazer o nome "Luan" para uma conversa, é pedir pra que eu me feche completamente e haja como uma idiota!

  - Você é o único que precisa aceitar que ele morreu. - soltei com raiva e o olhar do meu pai enfureceu

  - ANA FLÁVIA, EU JURO..

Que vai comprar o Burguer King só pra mim?
Olha ele de novo sendo o amor em pessoa..

  - Eu vou conversar com ela! - Interviu minha mãe calmamente, enquanto meu pai, a olhava com sangue nos olhos antes de sair do meu quarto pisando duro.

Se ele pisar mais forte, ele afunda e, do jeito que as construções são nessa cidade, ele vai levar a casa toda e uns dois prédios juntos.

Respirei fundo e fechei os olhos, tentando inventar uma desculpa boa o suficiente para fazer minha mãe me perdoar.

É difícil pensar quando você está de ressaca...

Lidar com o meu pai é fácil, tirando o temperamento dele que eu, infelizmente, herdei. Agora, lidar com a minha mãe.. é torturante! Ter que aguentar o olhar decepcionado e julgador dela, é demais pra mim!

Nem se eu cheirasse tang aguentaria uma briga com a Dona Michele.

  - Ana, eu não entendo porque você continua fazendo isso...- suspiro, olhando para o chão.

Viram?! Eu já me sinto culpada!   A mulher tem um super poder.

Alguns são o Flash, outros o Homem de Ferro e alguns até inventam de ser o Hulk, mas a minha mãe?! Ela tem o poder de te fazer sentir culpado pela Terra ser redonda.

   - Pelo menos agora, a senhora e o pai, podem parar de tentar me colocar em escolas que eu, obviamente, não me encaixo. - suspiro - Era só a senhora me deixar vender arte na praia ou até mesmo virar mendiga em Dubai..

  - É sobre isso?  É por isso que você tem arruinado a sua vida? - Me olhou com decepção.

Alguém me dá um tiro? Porque teria doído menos.

"Eu tô fazendo isso pelo Luan", me lembrei mais uma vez. Preciso fazer isso por ele.

  - Eu não tenho arruinado a minha vi...
  - Ana, esse é o quinto escritório de uma diretora, que você decide, que seria uma boa ideia colocar pequenos explosivos e deixar o fogo se espalhar. - reclamou comigo.

  - Você sabe quanto dinheiro a gente tem gastado para consertar os seus erros? No início, era uma surpresa receber uma chamada avisando sobre você ser expulsa, agora, eu acordo esperando a chamada. - contou.

Pelo menos ela tem um motivo pra lembrar de mim todos os dias.

  - Eu não quero estudar nessas escolas. - falei, baixando o olhar para evitar encará-la.

  - Você finalmente conseguiu o que queria! - Falou minha mãe e eu levantei os olhos surpresa.

Dessa vez, os explosivos vão ser em comemoração!
Bebidas são por minha conta mas todo mundo vai ter que contribuir trazendo a carne pro churrasco.
Eu fico na churrasqueira!

  - Você vai pra um colégio interno! - Meu brilho sumiu.

  Esqueçam o churrasco!

  Eu me levantei da cama em um pulo, tocando os meus pés sujos no chão frio do meu quarto e me aproximei da minha mãe, fazendo uma careta de choque.

Será que se eu me jogar no chão e chorar igual uma criança, ela esquece essa ideia boba de me enviar pra um colégio interno?

Não tem nada pra mim lá!

  - Mãe, não faz isso comigo, deixa eu vender minha arte na praia, virar stripper, sei lá, te mando metade do dinheiro que eu ganhar, eu juro! - Implorei, seguindo ela pelo meu quarto enquanto a mesma tirava as minhas malas do guarda-roupa.

   - O seu pai e eu já falamos com a diretora, vamos pra lá ainda hoje, você tem sorte que a diretora é uma antiga amiga nossa! - avisou jogando minhas duas malas na cama.

  - Você não pode me abandonar naquele inferno... - supliquei.

  - Eu posso e vou! - Falou minha mãe, me encarando, decidida.

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começamoooos, espero que gostem!!!

1102 palavras

Continua...

O Colégio Interno - miotelaOnde histórias criam vida. Descubra agora