Despedida.

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[ Piloto ]

Azul já não sabia mais o que fazer.

O cara que ele estranhamente já amava, não sabia se era isso, estava partindo para sua terra natal por conta de sua mãe. Maldita seja aquela velha preconceituosa, pensou ele. Sua família também não o tratava tão bem assim desde que tinha se separado de seu primeiro namorado, um dos maiores babacas que ele já conheceu em seus 24 anos de vida. A diferença é que a progenitora de Verde não apenas era odiosa com seus filhos por serem "coloridos" como ela mesma era.

(Uma questão que irei tratar capítulos para frente no arco do Verde ou da Rosa)

E ali estava ele, em pé com seu pijama surrado e seu cabelo azul bagunçado, e talvez fedendo a cigarro, de frente para Verde. Não sabendo nem como respirar muito menos processar algo decente para dizer.

— Você quer que eu vá embora?

Perguntou Verde o olhando com um sorriso triste. Como poderia ele, estando naquela situação, sorrir de forma tão linda? Maldito seja seu sorriso bonito. Maldito seja sua covinha fofa. Maldita seja aquela velha suja e sua boa genética.
Os pensamentos de Azul tendiam a ficarem repetitivos e bobos quando estava com raiva.
Raiva de si mesmo por não saber o que dizer. O que escolher.
Palavras surgiam e lhe fugiam da mente, talvez só fossem as drogas mas aquela sensação de dormência e de flutuação já estava começando a irritá-lo.

— Você ao menos vai olhar pra mim?

A sua onda de pensamentos foi tão intensa que estava com o olhar baixo olhando seus pés descalços, havia descido de seu quarto correndo sem se preocupar com o frio ou qualquer outra coisa que lhe impedisse de ver aquele que batia em sua porta. Se queria tanto o ver, ele estava desesperado por isso, por que não sabia o que dizer?

— Eu acho.. – ele finalmente conseguiu dizer algo, e torcia para que fizesse algum sentido real. - eu não sei.. como a gente daria certo.

Sentiu sua alma se apagando aos poucos depois de ter dito isso. Ele faria de tudo por aquilo, por eles, mas não conseguia. Não naquele momento, não sabia o que fazer, dizer ou sentir.

Ele deu uma olhada ao redor, na besta tentativa de manter sua cabeça erguida e focada na situação. Tinha poças de água espalhadas pela rua em frente sua porta, acha que tera chovido uns 10 minutos atrás. Quando pousou o olhar no garoto de cabelo estranhamente verde na sua frente, percebia que este estava meio molhado, talvez pela chuva passageira ou pelo suor de ter corrido até ali por uma resposta. Resposta de uma pergunta que não queria fazer. Que não tinha coragem de fazer.

— Olha pra mim e me fala – Verde se aproximou lentamente se apoiando na guarnição da porta. Azul desejou que fosse outra pessoa naquele momento.- Olha pra mim e fala que não me ama como me amou ontem.

Seus olhos intensos penetravam a alma de Azul lhe roubando o pouco de fôlego que ainda tinha. Ele estava implorando por uma resposta.

Assim que processou aquela frase, Azul ainda estava levemente entorpecido, o olhou incrédulo pois sabia que aquilo era um trecho de uma música de MCR, só não lembrava qual, talvez nem disso ele tivesse certeza. ( I Don't Love You )

— Eu apenas acho que.. nós não conseguimos ficar juntos.

Ele sentia o frio abraçar seus ossos enquanto tentava ao máximo se convencer de que aquilo era o certo. Que era a verdade na qual acreditava, que "seria o melhor para ambos". Quanta tolice clichê.

— Eu entendo.. – ele se aproximou mais, numa distância em que Azul se sentia engolido por aqueles olhos, não tinha como se desviar deles. Tudo bem estarem daquela forma em frente de sua casa, o horário permitia uma certa privacidade aos dois. Quem seria o louco andado na rua em plena madrugada? Apenas aquele que estava encarando Azul - Você nem consegue olhar na minha cara direito, não é?

Azul conseguiu sentir suas entranhas derreterem ao olhá-lo nos olhos por tanto tempo e de tão perto. Ouvir a voz dele e sentir seu rosto tão próximo apenas o fazia querer agarrá-lo e esquecer de todos os problemas. Mas o tom de voz de Verde foi tão severo quanto o vento que bagunçara seu cabelo. Ele estava com raiva, com toda certeza.

Nem ele sabe quando foi que Verde sumiu de sua vista por completo, subindo por aquela rua iluminada pela lua recém descoberta pelas nuvens. Ele sentia o frio arrepiar seus cabelos e avermelhar sua pele, mas mesmo assim não conseguia fechar a porta e voltar para dentro, voltar para a sua solidão com seus pensamentos. Ele queria ir atrás dele? Ir atrás daquele sonho? Ir atrás Deles?

Estava o perdendo para sempre?

Seria um ponto final definitivo?

Ele realmente nunca mais vai voltar?

Eu vou vê-lo?

Eu quero ver ele?

Ele estava brincando comigo?

Eu estava brincando com ele?

Pensamentos e mais pensamentos penetravam seu subconsciente o fazendo balbuciar algumas coisas, talvez coisas que devesse ou quisesse dizer.


Mas não disse.

Fechou a porta assim que retomou a realidade em sua mente, estava sóbrio?
Subiu as escadas para seu quarto tomado pelo escuro, fez parte dele e o sentia em cada poro.
A dor de cabeça o atormentava e ele apenas queria fumar mas nem isso conseguia. Queria dormir?
Isso também não seria possível.
Apenas se deitou apertando bem forte contra seu peito o que parecia ser o moletom que Verde tera deixado para ele antes de ir embora na noite anterior, na noite em que contou que estava voltando para o Japão para morar com sua meia irmã, a Rosa.

Sentia seu cheiro entrando em todas as camadas de sua pele pálida e fria, esquentando ela como se fosse um abraço da saudade recém formada em seu coração. Sentia como se estivesse se agarrando a um sonho e que quando acordasse não existiria mais nada dele ao seu redor, apenas aquele moletom surrado de estrela. Tinha medo que, assim como aquele cheiro, eles seriam apagados. A prova de que tudo o que passaram estava ali em seus braços, nas dobras daquele moletom amassado.

Eles eram apenas memórias agora.

Memórias que se apagariam aos poucos, como aquele cheiro.

O cheiro da memória de alguém.

O cheiro dos momentos deles.

O cheiro deles.

Lhe parecia ser algo bem infantil mas o vestiu em seu travesseiro e assim dormiu agarrado ao seu sonho.

Nunca mais ele queria acordar.

Bons sonhos servem para isso afinal.

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⏰ Última atualização: Apr 22 ⏰

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