Detesto esta escola. A viagem já vai longa e tudo o que me apetece é levantar-me e sair daqui. O autocarro cheira a verão e a adolescentes super-excitados por um acampamento, no final das aulas. Penso que vou vomitar, quando o Bufford levanta um braço e lhe cheiro o suor. Ainda não deve ter percebido que existem desodorizantes.
Ninguém parou de falar disto nas últimas semanas. Disso e do eclipse, que vai acontecer hoje. Pelo menos, uma coisa interessante a acontecer. Se pudesse, tinha ficado em casa. Mas, para os meus pais, isso nunca seria normal Para eles, eu nunca serei normal Eles são socialites, empresários de sucesso que me fazem mudar de escola de tempos a tempos. Eu não sou nada como eles. Sou adotado, um rapaz que não gosta de conviver e que prefere passar o dia na piscina ou a ler no telhado e a olhar para as estrelas do que fingir sorrisos. Eles levam-me para as suas festas de empresas e eventos. Sei que gostam de mim, mas consigo ver que não sou propriamente o filho ideal Eles não dizem, mas sei que gostariam que fosse como o meu primo – mais social, mais popular, mais participativo. Mais sito, mais aquilo Pensei que fosse mudar de escola antes do 11º ano, uma vez que não fico mais do que um punhado de meses no mesmo lugar. Mas, por alguma razão, ficámos presos nesta cidade de porcaria
Passamos a ponte que separa a metrópole da parte mais rural da cidade e as duas turmas estão ao rubro, papéis voando pelo ar. A orla do sol começa a ficar denegrida pelo avanço da lua. Agarro a máquina fotográfica de bolso e tiro uma fotografia ao céu, através da janela baça do autocarro. Afundo-me no meu lugar, quando o professor de educação física passa por mim, para parar uma guerra entre dois rapazes. Corria aí um rumor que a namorada de um deles tinha dormido com o outro e, rapazes a serem completamente parvos, obviamente que não resistiram a uma boa luta.
Flashes voam, quando o professor de educação física separa os rapazes e trás um para a frente do autocarro. Um deles fica com uma marca na cara, outro, com o punho a sangrar. O autocarro ronca, avisando que estamos quase a chegar ao nosso destino. Duas semanas, rodeados de nada a não ser terra, hormonas de adolescentes e falta de internet era mesmo o que queria agora
Sai de casa sem sequer dizer adeus aos meus pais. Não que eles estivessem em casa, porque não estavam. Passam mais tempo ocupados em gerir a cadeia de empresas do que a reparar em mim. De certeza que o nosso jardineiro reparou que me tornei vegetariano primeiro que eles. Mas, enfim Já me habituei à solidão. Nada para me ferir, ninguém para desiludir ou para me abandonar. Nunca mais.
Entramos numa estrada de terra batida e vejo uma placa que indica que o parque de campismo fica a mesmo de 500 metros. O ambiente fica mais excitado e eu aumento o volume dos meus fones. A professora de Química levanta-se do seu lugar e agarra no microfone que está ligado às colunas do autocarro. Grande parte dos alunos se jeita nos seus lugares, adotando uma postura correta – algo nada certo para eles. Ela começa a falar, mas só largo os fones quando ela me manda o seu famoso olhar de ou me ouves, ou estás chumbado.
- Bem, como estava a dizer As regras são claras, meu caros. Vamos estar uma semana no acampamento, por isso não podem - A professora limpa a garganta e olha para mim, como se me quisesse dizer alguma coisa – Abandonar o grupo e trocar de tendas selecionadas. Vamos estar divididos entre rapazes e raparigas e não me venham com questões de género! Vocês já têm o plano de atividades. E, uma vez que é inflexível, saberão sempre onde estar e com quem não estar!
Ouve-se um bufar coletivo. Eu juntar-me-ia com a turma, apesar de compreender que os professores devem só estar a tentar que ninguém tenha sexo descontrolado. Mas isto é ridículo. Esta separação é inútil. Quem quiser enrolar-se obviamente que se vai conseguir enrolar na floresta à noite ou até mesmo à luz do dia.
O autocarro para e estaciona na zona de descarga e a professora continua a falar. Olho pela janela e o dia continua a ficar mais escuro. O eclipse deve atingir o seu pique máximo dentro de duas horas. Segundo o plano que
- Vamos descer o autocarro, agora. Cada um é responsável pela sua própria carga! Ninguém se afasta do grupo! Vão saber quem são os grupos e as cabanas onde vão ficar, assim que chegarmos à receção.
Descemos o autocarro e sinto as pequenas pedras do caminho de terra a picarem-me as solas dos sapatos. Retiro a minha mochila da bagageira do autocarro e respiro fundo, colocando os fones nos ouvidos outra vez. A floresta que nos rodeia é verde, e olho para um trilho que se perde nuns arbustos rasteiros. É o único caminho com uma placa que diz Caminho Selvagem. Proibida passagem a campistas.
Olho em volta e vejo que todos os outros estão preocupados com a falta de rede ou em tirar selfies. Não preciso de pensar duas vezes, para saber o que vou fazer quando tivermos tempo livre depois do jantar.
O grupo começa a andar, seguindo o professor de educação física. Fico a olhar um pouco mais para a floresta. O ar que me entra nos pulmões, de uma forma qualquer, faz-me querer abandonar o grupo e ficar aqui o resto do dia. Um encontrão faz-me despertar da minha fantasia. Os meus fones caem no chão.
- Ups, desculpa! – Ouço o som dos meus fones a partir-se e um risinho de um grupo de raparigas que não conheço a ganhar forma – Aberração
Suspiro, e apanho o que resta dos meus fones, sujando as minhas unhas de terra.
- Estás bem?
Viro-me para uma voz que pouco conheço.
William. Um rapaz da outra turma, conhecido por se meter em sarilhos e por andar sempre no centro das confusões da escola. Dizia-se por aí que ele tinha posto um professor no hospital, depois dele lhe ter tirado o telemóvel numa aula.
Ele estende a mão, par ame ajudar a levantar.
- Sim. – Digo, fingindo não reparar na sua mão.
Sorrio levemente, e sigo o resto do grupo em direção à receção para finalmente descobrir que grupo de alunos é que me vai assombrar esta semana.

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Tides of Destiny: A Saga dos Elementais
Teen FictionEm "Tides of Destiny: A Saga dos Elementais", acompanhamos a jornada de um jovem rapaz que, durante um acampamento escolar próximo de uma misteriosa floresta, descobre que possui poderes sobrenaturais ao mergulhar n uma lagoa durante um eclipse. Ago...