Capítulo IV

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Quando os outros chegaram, Neil já os esperava nas arquibancadas. Ele observou enquanto Kevin se aproximava com Andrew em seu encalço. O sorriso doentio já estava presente enquanto Andrew parecia cantarolar algo distraidamente. Neil acreditou que o loiro estivesse medicado dessa vez.

— Você chegou cedo, isso é bom. — disse Kevin, sem cumprimentá-lo.

— Bom dia para você também. — Neil murmurou pare ele e depois colocou os olhos em Andrew que já o olhava.

Neil percebeu que Andrew parecia se esforçar para focar atenção nele, os ombros de Andrew estavam tensos enquanto o sorriso aumentava, os olhos castanhos cintilavam em alerta. Andrew parecia um predador analisando o potencial de uma ameaça ou de uma presa, decidindo se valia a pena ou não atacar. Neil tentou não se encolher com o olhar.

— Oi, Andrew. — Neil disse depois de curto momento de análise.

Andrew piscou, genuinamente surpreso por Neil lhe dirigir palavras, depois ele tombou a cabeça para o lado e, se possível, sorriu mais.

— Oi, Neil. — respondeu o loiro.

Os dois ficaram se olhando por algum tempo. Ambos esperando o próximo passo do outro. Algo que não aconteceu. Neil tentou disfarçar sua tensão com uma postura despojada, ao mesmo tempo que percebia os olhos de Andrew se estreitarem. Respirar parecia ficar um pouco mais difícil enquanto o tempo passava. Neil estava tão submerso olhando para Andrew, que notou um pequeno estremecimento do garoto. A reação o deixou um pouco satisfeito ao mesmo tempo que fez seu estômago revirar. Neil ainda não sabia se era melhor ser visto como uma presa ou como outro predador, ele suspeitava que para Andrew, não importava qual dos dois era, se não andasse de acordo, ele atacaria.

Neil e Andrew só voltaram ao presente com a voz irritada de Kevin ecoando entre eles.

— O que há com vocês? — Kevin perguntou, não parecia que ele queria uma resposta, pois ele emendou rapidamente: — Eu mandei vocês se arrumarem para entrar na quadra. Eu fui e voltei e vocês ainda estão na mesma posição.

Neil se sentiu desnorteado por um segundo, ele não havia percebido que Kevin se afastara e muito menos que ele tinha falado com eles. Ao contrário de Andrew, que não demonstrou não saber da saída de Kevin ou do aviso do mesmo.

— E então? Se mecham. Temos que treinar — Kevin apressou mais.

Neil o ignorou e voltou a atenção a Andrew, que ainda olhava para Kevin.

— Eu não vou treinar hoje, Kevin. — disse ele.

Kevin ficou tão surpreso que engasgou, parando de dar a bronca e fitando Neil profundamente.

— Eu ouvi errado? — Kevin indagou.

Neil balançou a cabeça, negando.

— Eu quero ver onde me meti, Day. Vou assistir você os treinando para saber o quanto da minha paciência vou ter que reservar só para você.

A carranca de Kevin aprofundou.

— Você não está falando sério.

— Eu estou.

— Neil, eu...

— Não. — Neil o interrompeu.

Neil viu pelo canto dos olhos Kevin estreitar os olhos e uma cor avermelhada tomar conta de seu rosto pela raiva. Os punhos de Kevin se fecharam do lado do corpo e ele ia avançar em Neil se não fosse por Andrew se colocando no caminho.

— Kevin, vá brincar com as crianças. — disse Andrew, levantando a mão no rosto de Kevin quando o mesmo abriu a boca. As próximas palavras de Andrew foram baixas e afiadas, uma ameaça clara. — Kevin, você sabe que eu não gosto de me repetir.

I Need to Live, Not Survive - All for The GameOnde histórias criam vida. Descubra agora