Capítulo 30

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JungKook 

5 de abril de 2014

Dois dias antes do adeus

— Você não come nada há dias. Por favor, JungKook. Pelo menos um pedaço do sanduíche — implorou minha mãe, sentada diante de mim. 

A voz dela me irritava mais a cada dia. 

Ela colocou o prato na minha frente e me pediu de novo que comesse.

— Sem fome — respondi, empurrando o prato de volta para ela.

Ela assentiu.

— Eu e seu pai estamos preocupados, Jun. Você não fala com a gente. Não nos deixa ajudar. Você não pode reprimir as emoções desse jeito. Precisa falar com a gente. Me fala o que você está pensando.

— Você não quer saber o que estou pensando.

— Quero.

— Acredite em mim, não quer.

— Não. Eu quero, querido. — Ela segurou minha mão, tentando me consolar.

Eu não queria que ela me consolasse.

Queria que ela me deixasse sozinho.

— Tá. Se você não quer falar com a gente, pelo menos fale com seus amigos. Eles ligam e passam aqui todos os dias, e você não trocou nem uma palavra com eles.

— Não tenho nada a dizer.

Levantei da mesa e me virei para sair, mas me detive quando ouvi minha mãe chorar.

— Estou arrasada por te ver assim. Por favor, fale qualquer coisa que estiver pensando.

— O que estou pensando? — Virei para ela, minha testa franzida, minha mente nublada. — O que estou pensando é que você estava no volante daquele carro. O que estou pensando é que você saiu de lá ilesa, só com um braço quebrado, porra. O que estou pensando é que a minha família morreu e você estava dirigindo, você... VOCÊ MATOU OS DOIS! Você fez isso! Você é a culpada! Você matou minha família! — Senti um nó na garganta, minhas mãos fechadas em punho.

Minha mãe chorou ainda mais, seus gemidos ficando cada vez mais altos. 

Meu pai veio correndo e a abraçou, trazendo-lhe um pouco de consolo. 

Olhei para ela, percebendo a distância entre nós. 

Eu sentia que o monstro dentro de mim crescia a cada momento. 

Eu deveria ter me sentido mal ao ver suas lágrimas caírem e não sentir pena. 

Eu deveria ter me sentido mal por não querer confortá-la.

Eu simplesmente a odiava.

Eles morreram, e ela era a culpada.

Por causa dela, eu também estava morto.

Eu estava me transformando num monstro, e monstros não precisam consolar pessoas. 

Monstros destroem tudo que aparece pela frente.


Quando entrei no galpão, bati a porta e tranquei-a.

— Merda! — gritei, olhando para a escuridão, para as paredes e prateleiras. 

As lembranças pressionavam meu corpo, sufocavam minha mente, meu coração. 

Eu não aguentava mais.

Breath of Life - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora