Episódio 17 - Agda: Decadência

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— Você tem certeza disso?

— Calla, eu ouvi! Eu estava lá quando eles disseram que tem um informante exilado infiltrado na liderança da nação! A Anna também... — Citá-la não foi uma boa ideia.

— Eu sei... — disse Calla, com os olhos marejados — Eu não estou duvidando de você, só quero ter certeza pois uma acusação dessas é algo grave!

— Sim, e eu posso provar o que ouvi. Vamos expor a verdade e tentar salvar aquelas cidades dos ataques! A nação é regida por um mentalista, se alguém duvidar, eu me coloco à disposição para ter a minha mente revirada e provar o que ouvi!

— É... eu acho que nós devemos isso à Anna.

Anna? Nós devemos essa informação a todo o povo de Acalla! Se há mesmo um traidor sabotando os planos de defesa da nação, nós precisamos alertar a alta regência!

— EU SEI! — ela gritou enfurecida — Eu sei! Mas tudo ainda dói muito! A Anna me acolheu e me ajudou a sobreviver nas ruas! Depois eu conheci o Eldor e levei ela pra dentro da casa dele! Se não fosse pela Anna, eu estaria morta agora, e por minha causa isso aconteceu com ela!

Eu conhecia Calla há pouco tempo na época. Eu ouvi as histórias sobre a situação da sua família em Níria e como ela os abandonou para tentar lhes oferecer uma vida melhor. Quando cheguei em Verídia, demorei a entender suas razões para me ajudar. Eu fui alertada sobre a dona da estalagem e ganhei um lugar para ficar. De certa forma, ela cuidou de mim como também cuidou da própria família, da mesma forma como fora cuidada por Anna, e aquela era a parte da história que eu estava ignorando. Os cuidados que recebi já eram o suficiente para sustentar a nossa conexão, mas foi o peso da culpa pela morte de alguém estimado que fortaleceu os nossos laços. Nós achamos uma na outra a nossa própria definição de família. Calla foi, para mim, a irmã que eu nunca tive.

— Sim, nós devemos isso à Anna. Antes de mais nada, devemos isso a ela. Me desculpe pela insensibilidade e por não honrar sua memória.

— Agda... eu tenho medo de não aguentar.

— O que você quer dizer com isso?

— Por muito tempo eu tive raiva da Nação Exilada. Eu só queria que eles morressem ou desaparecessem da existência, mas agora, depois que vi a força e a influência que eles têm, eu acho que somos fracas. Nós somos apenas duas garotas que podem morrer a qualquer momento nessa guerra.

Eu não soube como responder. Eu não podia me deixar ser contaminada por aquele sentimento de impotência, mas se a Anna se tornou uma vítima fatal sendo assim tão forte quanto falavam, então eu não poderia fazer outra coisa senão entender e respeitar o medo de Calla.

— Vamos descansar, sim?

Nós havíamos deixado Verídia, apesar de não estarmos longe. As montanhas estavam próximas, e eu não me lembro exatamente onde nos abrigamos. Foram tantos ciclos buscando abrigo que alguns deles me escapam à memória.

— Como você está? — disse ao notar que Calla havia despertado junto com o sol.

— Eu não sei. Não sei mesmo.

— Eu vou respeitar a sua decisão. Eu tenho uma ideia de onde estou me metendo aqui e consigo imaginar os riscos, então vou entender se você não quiser participar disso.

Calla refletiu em silêncio antes de me responder com um abraço apertado. Aquilo foi como se ela liberasse sobre mim parte do pesar que carregava. Acho que tudo o que ela precisava naquele momento era que seus sentimentos fossem validados por alguém que se preocupasse verdadeiramente com ela.

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