Foram 6 anos desperdiçados, ou foram mais? Ela não soube dizer, sua mão segurava uma caneca de café que já havia esfriado há horas. Seus olhos estavam observando as letras pela tela de seu computador, seu eu de algumas horas atrás estava com tédio e decidiu ler algum artigo sobre um assunto aleatório. Ela se perguntou o que um animal imortal tem de bom nesse mundo, o que eles faziam? Eram tipo um objeto decorativo posto pela natureza para tornar mais divertido ou dar menos oportunidade para outros animais.
A mulher esfregou seu rosto, que pensamento absurdo. Um bocejo cansado saiu de sua boca, ela levantou sua caneca, bebericando o líquido de coloração escura. Ela fez uma careta em desgosto pela amargura do líquido. Porém, nem o café mais forte do mundo poderia afastar a exaustão que percorria seus ossos. Faziam dias que ela não dormia. Seus olhos se recusavam a fechar, como se tudo fosse um grande perigo. Não a incomodava, por mais chato que fosse, já se passaram anos. Ela sabia o motivo, mas nunca confessaria, provavelmente preferia ser enterrada viva.
Ela tentou não sentir pena de si mesma, mas o que isso resolveria? Suspirando, ela fechou a guia sobre as curiosidades, vendo notícias pela aba do google. Algo chamou sua atenção. Suas mão deslizaram sobre o cursor do mouse. Ela clicou.
Na tarde de terça-feira, (29), ônibus some misteriosamente após desviar caminho por uma rua diferente. Câmeras mostram o veículo em seu trajeto normal, porém com um desvio abruto, as imagens somem [...] Policiais procuram sem descanso [...]
Ela zombou, quem seria capaz de fazer tal coisa? Sumir com um ônibus era quase impossível.
Cada dia tem mais histórias para se contar na internet...
Histórias...
A mulher balançou a cabeça, ela prometeu que nunca mais pensaria sobre isso. Depois de tantas perdas , não vale mais a pena. Foram anos desperdiçados e agora ela está onde está. Se algo realmente valeu a pena, ela não saberia dizer.
Suspirando, seus dedos arrastaram a flecha do mouse até o pequeno "x" da tela, fechando a aba para entrar em seu e-mail. Sua vida agora era aprender idiomas e traduzir sites. Não era algo que crianças sonham em fazer quando crescem, mas foi a única coisa que a deixou em uma vida, em sua visão, estável financeiramente. Talvez ela não concordasse tanto, quando abrisse sua geladeira e visse uma prateleira em ausência de comida. Não era algo que ela iria se incomodar tão cedo também.
Railey Allen. Esse era o seu nome, e o que estava escrito no canto superior. Retirando a grande e única mecha da frente de seu olho, a mulher se inclinou para trás, apoiando suas costas na cadeira enquanto suas mãos balançavam o café frio. Seus olhos desviaram para a janela, sua boca soltou outro bocejo enquanto ela esperava o e-mail do seu cliente chegar. As nuvens pareciam pesadas e, a qualquer momento, choveria. Railey se relembrou da sua geladeira vazia. Ela abriu outra aba, vendo o clima de sua cidade. Tempestades por dias. Se seu ódio não era o suficiente, tudo piorou. Ela nunca se daria bem com a chuva, os dois se odiariam até os fins dos tempos.
Talvez ela iria se incomodar tão cedo, no fins das contas.
Revirando os olhos, Railey se apoiou no encosto da cadeira, suas pernas reclamaram quando seu corpo ficou em pé. Talvez essa fosse a consequência de ficar horas sentada em frente ao seu computador. Seu corpo deveria agradecer, já que ela estaria fazendo algum tipo de exercício desde décadas.
Se pegar o ônibus para ir até o mercado contasse como exercício. Ela zombou.
As ruas estavam vazias, quase nenhum carro ou pedestre passava por perto. Uma ventania assoprava as folhas das árvores enquanto Railey passava por baixo. Algumas folhas caíam em sua volta, talvez fosse por causa do outono chegando. Ela não pensou muito sobre, nem sentiu falta das pessoas passeando pela rua. O céu está escuro e eu sou a única doida saindo antes de um temporal. Maravilhoso.
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Espadas & Impérios
FantasyA vida cotidiana pode ser confortável, ou chata. Para Railey, era os seu único conforto. Sua história foi um sucesso por anos e então esquecido. Uma tragédia, da fama para o banimento e ao esquecimento, ela tentou não se importar, esqueceu de seu pa...