Parte 1

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Ohm Pawat Chittsawangdee olhava para os campos e montanhas pela janela do seu escritório, em sua casa, que ficava em uma das fazendas de arroz herdada de sua família.

Ele analisava as contas e via a possibilidade de ampliar seus negócios em direção à capital. Com o final da Guerra, que tinha prejudicado muito seus negócios nos anos anteriores, havia agora uma chance de crescimento, afinal, seu país não poderia continuar agrário para sempre, sendo que outros lugares no mundo estavam tão à frente em novas tecnologias e desenvolvimento.

No entanto, se eles nem conseguiam se mover quando chovia um pouco mais forte, como poderiam concorrer com esses lugares? Com os contatos certos, primeiro ele pretendia investir na infraestrutura para poder mover suas produções com mais rapidez. Com o retorno financeiro da ampliação das exportações, ele poderia abrir novos ramos de negócios para outras áreas do comércio, como materiais de construção, e para engenharia.

Ele e a esposa costumavam discutir sobre isso o tempo todo. Ela havia estudado na França por um tempo e sua visão de mundo era muito diferente das outras pessoas e isso o havia deixado encantado. O casamento arranjado entre as famílias foi uma surpresa para ele e com o tempo, passou a ser uma alegria.

Ohm suspirou, isso tinha sido há muitos anos. Ele se preparou para descer, pois sua filha estava chegando da escola e as refeições eram feitas em família. Desde que a mãe dela tinha falecido há alguns anos, ele tentava ser o mais presente possível na vida da filha.

Ninguém entendia porque ele não tinha se casado de novo ou porque permitia que a filha estudasse. Se ela já conhecia os números e as letras suficientemente bem para gerenciar a casa, não seria necessário continuar na escola. O que as pessoas comentavam pelas costas de Ohm era que a garota deveria estar sendo preparada para arrumar um bom marido como todas as outras meninas da sua idade, deveria fazer aulas de dança, música, bordado e etiqueta.

Tia Godji o ajudava a cuidar da pequena Marie, cujo nome foi escolhido pela esposa por questões religiosas. Depois, no final da guerra, eles a tinham como um símbolo de força, em oposição à aproximação da Tailândia e do Japão aos países do Eixo.

Tanto ele quanto a esposa sabiam que as interferências da França nas fronteiras do seu país eram um problema, no entanto, tinha sido vergonhoso e inadmissível que o governo de Phibun se aliasse ao discurso de Hitler e Mussolini.

Marie correu até o pai e o abraçou, quase se pendurando em seu pescoço. Ele sabia que ela pediria algo, toda essa demonstração de afeto era um bom indício das artimanhas da menina.

O circo estava na cidade e o Palhaço tinha ido divulgar os três espetáculos que fariam no final de semana. Ela dizia que precisava muito ir, que seria maravilhoso, incrível, que o palhaço era muito engraçado. Ela fez uma pausa antes de dizer a palavra 'engraçado' e ruborizou.

Ohm olhou a filha de soslaio e percebeu que talvez ela já não fosse só a garotinha do papai, ela estava crescendo. Um aperto no seu peito o fez pensar que a esposa não estava ali para ajudá-lo nessa fase.

O encarregado da fazenda o procurou no final da tarde para alertá-lo sobre as condições da estrada.

"É melhor o senhor usar o Jeep, a chuva de ontem deixou a estrada cheia de buracos." Ele disse e Ohm acatou.

Ohm pensava que precisava consertar essa estrada, pois toda chuva mais forte impedia os moradores da região de ir para a cidade. Seu Jeep Willys M-38, fabricado naquele ano, 1950, era o único veículo da região que conseguia transportar as pessoas nessas condições. Ohm se orgulhava do motor da Isuzu ter potência para enfrentar o terreno enlameado. Contudo, só existia um carro e mais de cem pessoas moravam por ali e era desesperador quando havia alguma emergência médica.

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