Prólogo: Sonho ou pesadelo?

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Convenci minha mente relutante que haveria de ter alguma forma de luz ao fim daquele lugar escuro, desconhecido, frio. Flexionei os joelhos pronto para ir à procura de qualquer mínima fagulha de claridade que me fizesse chegar a algum lugar que meus olhos pudessem enxergar, conhecido de preferência, e ao tentar levantar do chão gelado minhas pernas falharam, a queda fora inevitável, me amaldiçoei baixo por minha fragilidade, debruçado ao piso. Se as pernas não colaboravam, me restava rolar sem rumo, foi quando dei de costas certeiro em um dos diversos pilares com uma estatueta bizarra de anjo, a luz surgiu para aliviar a minha ansiedade. Não havia notado a quantidade incontável de elementos angelicais como aquela, não senti dor, apenas encarei a face gélida da escultura branca, sua expressão dura e firme, tentando compreender o porquê de ter sido criada de tal maneira, com tal postura.

Como eu presumia, um clarão surgiu e pude constatar com clareza os detalhes sórdidos do lugar, as estruturas sem cor do palácio demonstravam o quão sem graça o ambiente poderia ser, sem móveis, e aparentemente fazia um considerável tempo que ninguém vinha dar sequer uma olhada. O ar se infestou de brasas, e sem entender o que estava acontecendo, como desde que despertei nesse lugar, permaneci sentado.

O piso xadrez infinito começara a girar em sentido anti-horário, a velocidade o tornava hipnótico, alucinógeno, logo o branco das paredes incolor derretia dando lugar ás trevas do que me pareceu o inferno de Dante. Gritos ensurdecedores vinham do que me acreditava ser as imensuráveis obras de concreto divinas, imploravam por misericórdia, ardiam no fogo do pecado, agonizando em dor o sacrilégio de piedade, chamavam por seu Deus com toda a fé que tinham, mas o único retorno que ecoava era a risada diabólica do tinhoso.

Perplexo por tamanha crueldade emanada dos fatos, o ar de fogo queimava minha vias respiratórias, fazendo meus olhos lacrimejarem. Contudo, o contraditório derivava quando um sorriso ladino surgiu em meu rosto, maníaco como nunca antes, eu ria sadicamente da dor, me divertia do sofrimento alheio sem remorso algum. E como se a clemência das orações fosse minha energia renovada, me pus de pé com êxito, forte feito um touro, absorvi o máximo de fé que aqueles pobres coitados podiam emanar, me alimentando com uma fome insaciável, desumana. Quando surgiu um reflexo pude perceber quem eu era, um demônio com todas as letras.

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