A Última Carta

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Querida morte,

Outrora falaram que você é apaixonado pela vida, que ela é a razão de você ceifar a vitalidade de todo ser que vive na terra. Sempre que você está a ponto de alcança-la, ela foge pelos seus dedos.
Não entendo por que a ama, a vida é muito cruel, te ilude com sonhos inalcançáveis e doí, doí como brasa quando entra em contato com a pele, como a perda de um filho, como a desilusão de um amor não correspondido, como a solidão...

Nunca entendi bem porquê as pessoas tem mais medo de você do que da vida. Você querida morte é uma certeza absoluta, a vida é como um navio em um mar revolto, cheia de incertezas se o barco vai aguentar  ou afundar.
Vida... tão perversa, como pode algo causar tanta dor, fazer a vontade de sumir ser uma necessidade, fazer você se sentir tão miseravelmente pequeno e incapaz de se erguer.
Sempre que reuni forças pra tentar sair da cova que a vida me preparou, ela me derruba cem vezes mais.
fadigado estou de tentar sair dessa maldita cova, vi que contra a vida a única forma de vence-la é se entregar a você querida morte.
Eu te temi por muito tempo confesso, mas depois que a vida mostrou como ela pode ser impiedosa, sinto que você é um refrigério as almas cansadas da condenação severa que é a vida.

Morte, minha doce e querida morte, me atrevo a dizer que me apaixonei por você, por imaginar a acalmaria que você vai dar a minha pobre alma no final da minha vida.
Se é realmente apaixonada pela vida, se quer tanto ela, quando me pendurar naquela corda nesse dia sombrio, gélido e solitário, tome de meus lábios  minha vitalidade, tome minha alma para si e quando a minha vida escapar de ti, dance com minha alma uma sonata melancólica, como a minha vida fora, e como a falta da vida no seu ser a faz ser, assim seremos triste juntos, seremos parte de uma bela canção tristonha, mas que será só nossa, de seres que a alegrinha de conhecer a vida não é mais do que um mito, uma lenda ou um sonho.
De seres que encontraram refugio no melancólico, nas sombras, na morte.

Te encontrarei querida morte e a cada lua cheia no rio onde a neblina rodeia, assim cada vez que a vida te entristecer por não te querer, dance com minha alma, eu serei o seu consolo.

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