Fotografar você

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A pequena Lauren Jauregui admirava atentamente, com olhos verdes tão claros e tão inocentes, a enorme piscina na mansão dos avós. Seu corpo sendo refletido nas águas cristalinas, desfocado por causa do vento que formava pequenas ondinhas à sua frente.

Queria brincar, mas não tinha companhia.

Os pais de Lauren, Michael e Clara Jauregui, estavam sempre ocupados. Se a vida de um médico já era corrida e complicada o suficiente, pode-se imaginar o caos tudo isso sendo multiplicado por dois.

Eles não tinham muito tempo para a única filha, mas a amavam incondicionalmente e faziam tudo por ela. Prezando pelo bem-estar da menina, eles revezavam deixando Lauren ou na casa dos pais de Michael ou na casa dos pais de Clara e então a buscavam pela noite quando terminava o turno no hospital.

A vida de Lauren era solitária, principalmente para uma criança. Estava sempre cercada de pessoas mais velhas, formalidades e etiquetas. Graciela Jauregui, sua avó paterna, era ferrenha. Queria que a garota andasse sempre na linha e orgulhava-se em projetar o futuro da neta, dizendo sempre que seria uma grande médica.

É, Graciela... Acho que não.

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- Bom dia, classe! – Camila adentrou a sala na universidade, pronta para iniciar mais uma aula. A mulher usava uma calça bege wide leg de alfaiataria, uma camisa básica preta por dentro da calça e um blazer também preto. O cabelo longo e ondulado estava preso em um rabo de cavalo e os olhos castanhos escondidos pelo óculos escuro, que logo foi parar em cima da mesa juntamente com a bolsa.

Recebeu em resposta um bom dia animado. Era até engraçado de ver, já que literatura não era muito conhecida por ser uma aula que exigia muita disposição, principalmente para pessoas mais novas. Mas com Camila... os alunos amavam.

- Posso começar fazendo uma pergunta? – encostada com a parte de trás do corpo na mesa e as mãos apoiadas na mesma, olhou minuciosamente para cada rosto, um pequeno sorriso brincando nos lábios carnudos – Vocês são românticos?

Alguns caras deram risadinhas e cutucaram os amigos, outros deram beijinhos em suas respectivas parceiras para provar o ponto e algumas mulheres soltaram suspiros involuntários. A simples ação de observar as reações das pessoas era arte para Camila.

- Homens não precisam ser românticos, Camila – um aluno, a mulher lembrou que chamava-se Brian, respondeu debochado – Isso é coisa de maricas.

Camila precisou de um esforço maior para não revirar os olhos. Já não era de tolerar muitas coisas e a masculinidade frágil estava no topo entre elas.

Cruzou os braços e desencostou o corpo da mesa.

- Você namora, Brian?

- Está interessada? – virou para os amigos tão maduros quanto ele e riu.

Camila sorriu de lado, pensando no quanto realmente a autoestima masculina poderia ser encapsulada e vendida.

- Namora? – voltou a perguntar, encarando Brian intensamente. Os outros alunos nada falavam, apenas observavam a interação entre a professora e o aluno.

- Para a sua infelicidade, sim. Namoro.

- E você não é romântico com ela?

- Ela não se importa com essas coisas – Brian mexeu-se desconfortável na cadeira. Estava recebendo uma atenção desnecessária e o modo como Camila o olhava chegava a dar arrepios. E não era dos bons.

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