Tudo Sobre Você

Nossa Canção

"Veja bem/ Foi você/ A razão e o porquê/ De nascer esta canção assim/ Pois você é o amor que existe em mim."

O que é o amor?

A cumplicidade? O desejo? A vontade de estar junto ou de ajudar?

O amor tem tantas faces, camadas. Ele pode aparecer assim do nada, de repente você olha e sente ele te invadir. Em um dia normal, um primeiro dia de aula a pessoa da sua vida pode entrar e fazer você se sentir tomado por este sentimento. Ele pode vir com o tempo, em um sorriso sincero, um toque inesperado, uma palavra de apoio, uma manifestação de afeto ou apenas na simples vontade de passar os dias, a vida ao lado daquela pessoa.

As pessoas acham que o amor é forte o suficiente, que ele vence barreiras, alimenta. A definição de amor é uma definição quase materna, quase religiosa. Como se esse sentimento tão forte nos cobrisse de uma energia contagiante e fosse a solução de todos os problemas da sociedade. Dar sem receber em troca, saber dividir, ter compaixão, compreender tudo é uma manifestações do amor.

Mas estamos realmente preparados para o amor? Esse amor puro, bíblico que encontramos nos livros e músicas. Não sei... Muitas vezes não estamos preparados para dividir. Podemos preocupar com o próximo, praticar algum tipo de caridade, mas quando o assunto é o amor do seu parceiro, começamos a confundir conceitos. Passamos a deixar o ciúmes falar mais alto, a posse passa a acompanhar o relacionamento, sentimos falta de contato físico e às vezes nos sentimos mais deixados de lado, exigindo do parceiro algo que ele não consegue dar daquela forma. 

Relacionamento envolve muitas coisas e cada uma delas deve ser tratada com muito respeito por ambas as partes. O amor pode ser gigante, mas muitas vezes não é maior que nossos medos e nossas dificuldades, com isso vamos encaminhando o relacionamento em um ciclo vicioso carregado por toxicidades das partes envolvidas ou perdemos uma pessoa muito querida por falta de um dialogo mais profundo.

O caso de Fernanda e Pitel era o último. Elas se sentiram atraídas desde o primeiro dia. A sintonia era perfeita, conversas, toques, o sexo que para Fernanda era uma novidade, tudo, exatamente tudo encaixava. Mas uma situação mal resolvida, palavras precipitadas fizeram o amor dentro delas calar em seus corações.

Fernanda estava péssima nos últimos dias, pediu para Gabriel mudar pra sua casa temporariamente. Não conseguia levar os meninos na escola, comia muito mal e apenas tomava banho para ir nos ensaios em botafogo. "Como eu fui me deixar levar assim? Como ela conseguiu entrou na minha vida, se ela não queria ficar? Por que não tratei ela como as outras garotas que já tinha ficado? Pitel não podia fazer isso comigo, eu apresentei pra ela minha família, coloquei dentro da minha casa" Fernanda pensava e voltava a chorar. Estava em um looping de extrema tristeza.

Pitel por sua vez não estava diferente. Não saía mais depois dos ensaios, chegava em casa ia direto para seu quarto, apenas dormia o dia todo. Tinha com ela o sobretudo de Fernanda que havia ficado em sua casa. Dormia com ele, sentindo o cheiro da mulher que um dia foi sua, lembrava daquele dia, de Fernanda abrindo os botões, o corpo dela, aquele corpo que foi tão seu um dia. Lembrava das crianças "Como será quando Laura souber que não vou mais lá?" "E Marcelo? Será que sentiria minha falta". Será que ela errou? Deveria ter segurado Fernanda no carro e feito ela escutar tudo? "Mas tudo o que?". Pitel nem sabia o que Fernanda tinha visto. Pitel tinha plena consciência que não tinha feito nada, mas tudo foi tão rápido. "Buda era um idiota, quem deu liberdade para ele brincar daquele jeito?". 

O telefone de Pitel tocou.

- Amiga, está acontecendo alguma coisa? Estou te achando estranha, distante - Giovanna perguntou

- Gio, eu e a Fernanda terminamos - Pitel disse caindo no choro. Ela tinha optado por não falar nada com ninguém. Imaginou que assim estaria respeitando Fernanda mais uma vez.

-Em 10min estou aí. - Giovanna não pensou duas vezes, sabia o tanto que sua amiga estava envolvida com Fernanda e também tinha percebido a mudança de astral de Pitel nos últimos dias.

Ao chegar na casa de Pitel, foi direto para o quarto da amiga.

- O que houve amiga? - Perguntou ao ver Pitel no escuro com o rosto afundado no travesseiro.

- Ela terminou comigo Gio, ela viu o Buda aquele dia, achou que ele tinha me beijado.

- Mas você não explicou pra ela?

- Explicar o que? Foi tudo muito rápido, ela estava seca, chorando, não queria me dar oportunidade para falar nada. Eu estou muito mal com tudo isso, quero voltar pra Maceió.

- Oh Pitelzinha - Giovanna falou fazendo carinho nos cabelos cacheados dela. - O Buda foi um sem noção, mas não fique assim. Vocês estão de cabeça quente, tenho certeza que a Nanda vai te procurar, ela te ama, dava pra ver no olhar dela. É só uma tempestade, vai passar...

Os dias para Fernanda não seguiam de forma diferente, ir aos ensaios era um sacrifício, não conseguia se concentrar direito, muitas vezes não rendia assunto com medo de uma cobrança maior do elenco. Foi Alane que chegou em Fernanda.

- Fernanda está acontecendo alguma coisa? Você está com muita dificuldade em acompanhar as coreografias, parece que está em Marte.

- Alane, hoje não, tá bem?

- Mas o que eu te fiz? - Alane perguntou assustada.

- Nada. Desculpa. Estou com a cabeça ruim. Eu e Pitel terminamos.

Alane não chegou a conhecer Pitel direito durante suas aulas na Companhia de Artes, mas sabia que Fernanda e ela estavam juntas. Não sabia muitos detalhes, mas com a proximidade de Fernanda acabava sabendo a rotina da colega de elenco. Alane queria abraçar Fernanda, mas não sentiu abertura então pegou em suas mãos.

- Oh Fernanda, não fique assim. Vocês vão voltar tenho certeza. Se precisar de uma amiga pode contar comigo. Se você quiser podemos encontrar fora daqui pra ensaiarmos juntas! Conte comigo.

Fernanda agradeceu e foi embora o dia seria longo, tinha voltado para rotina de pegar transportes públicos, o que não a incomodava, mas quanto mais tempo sozinha mais tempo remoendo os momentos com a nordestina que tinha sido tão importante para ela.