Capítulo 30

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O problema de decisões ruins é que você só percebe que as tomou depois de fazê-las.

No meu caso, foi no dia seguinte.

A sensação de dormir com Shawn ao meu lado era maravilhosa e não houve uma noite desde que tudo aconteceu que eu houvesse dormido tão em paz. Ter seu braço ao meu redor, meu rosto grudado em seu peito, sentir sua respiração bater em minha têmpora, o calor do seu corpo... Era tão familiar e tão seguro.

Então eu abri os olhos.

E a realidade me atingiu com tudo.

Todos os acontecimentos voltaram de vez, toda a culpa e sofrimento que eu senti, somado ao desespero e medo do que aconteceria caso Shawn acordasse e me encontrasse aqui. Só conseguia pensar nas palavras ruins que me diria, no que me acusaria de tentar ter feito. Talvez me expulsasse.

Nunca passaria por isso novamente.

Devagar, ergui-me da cama, prendendo a respiração quando ele se mexeu assim que me afastei e fiquei de pé.

Eu era tão estúpida.

Era tudo o que conseguia pensar enquanto eu me vestia apressadamente, olhando de cinco em cinco segundos para o homem deitado na cama, o peito pesando por saber que não podia voltar para seus braços e vê-lo acordar.

Pronta, sentindo os olhos arderem, saí daquela casa, as lágrimas já escorrendo por meu rosto durante o caminho pelo elevador.

Você fez todo um discurso e transou com ele na primeira oportunidade que teve, minha consciência lembrou-me.

Tão, tão estúpida.

O pior de tudo era saber que teria que vê-lo novamente. Que teria que ouvir o que ele tinha a dizer e saber que não seria nada positivo me fazia quase ter uma crise de nervosismo.

Ainda nevava do lado de fora, mas não era mais uma tempestade. Ainda assim, não conseguiria ir para casa desta forma, não quando sabia que iria desabar a qualquer momento. Por isso peguei meu telefone e esperei o carro do meu amigo.

Gabriel não precisou descer do veículo para perceber que algo estava errado. Honestamente, qualquer um conseguiria perceber.

Quando questionou o que havia acontecido e percebeu que eu não falaria sobre o assunto, apenas me levou para o meu dormitório na república da universidade e me abraçou até que eu me acalmasse. Adormeci, acordando com um bilhete dele avisando que precisou resolver algo no trabalho, mas que eu poderia ligá-lo caso precisasse.

Sorri, fraco, grata por isso.

Mas minhas vida parecia ser carregada de más notícias, porque meu telefone apitou várias e várias vezes e, quando vi o motivo, desejei não ter acordado por mais algumas horas.

Havias fotos minhas saindo no apartamento de Shawn. Chorando enquanto entrava no carro de Gabriel. Cobri o rosto com as mãos, a exaustão não me permitindo sequer chorar. Simplismente não aguentava mais.

Realmente não suportava essa situação.

Queria voltar para quando nada disso era uma realidade para mim. Queria nunca ter aceitado trabalhar na casa de Karen, queria nunca ter ido parar naquele bairro.

Caí de volta na cama, querendo poder parar de pensar, poder parar de sentir.

Não era possível, então adormeci novamente, sabendo que esse era o único momento em que conseguia ter paz.

*

Na manhã seguinte, ainda sentia como se precisasse dormir mais, ainda que meu corpo estivesse mais do que descansado.

Sweet SymphonyOnde histórias criam vida. Descubra agora