CAPÍTULO 1 - EU O VI PELA PRIMEIRA VEZ

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Olhei para os lados e notei como Jersey não tinha mudado nada. As ruas ainda pareciam esquisitas, as pessoas exóticas, a sujeira ainda reinava e eu ainda queria sair correndo daquele lugar o mais depressa possível. E eu tinha acabado de voltar de uma viagem de quatro anos.

Q-U-A-T-R-O anos fora de Jersey. Quatro anos na universidade. Ah, que beleza, por que passou tão rápido, oh Deus? Bem, o fato é que passou e lá eu estava, mais perdido do que velha no açougue atrás de uma boa peça de carne. Claro que eu sabia para onde eu iria, mas sabe aquela sensação de não pertencer ao lugar? É.

Minha mãe me viu de longe, já veio chorando. Legal mãe, todo mundo do ponto de ônibus olhando era tudo o que eu queria, tá, tá mãe, me larga, solta, solta! Pronto, recomponha-se e me leve para casa, ok?

– Que saudade de você, meu príncipe, preciosidade da mamãe, você cresceu, não foi? Cresceu! Não foi Wei Ying?

Oi pai.

– Cresceu nada. Maus genes de seu pai, Yu.

– Ora Fengmian!

Tava demorando...

Cheguei na minha rua nada legal e ela ainda estava do mesmo jeito. Olhei para os lados e meus vizinhos estavam olhando para mim como quem analisava uma pessoa doente, sabe? Olhando as mudanças, os defeitos... Algo do que falar durante uma semana.

Eu perdoei essa situação porque já conhecia todos e sei lá, estava cansado demais para me importar. Mas não tão cansado para não notar Ele. Meu. Deus. Do. Céu. Na casa ao lado da minha.

Ele saiu da casa dele só de bermuda jeans, mostrando o peito e os braços tatuados e fortes, um olhar bravo em seu rosto quadrado atento apenas para o jornal em frente à porta. Ele nem pareceu notar o carro da minha mãe – vermelho ofuscante – parado junto com uma multidão de gente da minha família que veio me ver.

Esticou a coluna, espreguiçou-se, esgueirando um pouco para frente e virou-se, entrando de novo em sua casa, levando o jornal e a minha atenção.

Quem era esse cara, alguém para me apresentar esse cara, o que eu estou fazendo longe desse cara, eu o quero e... ah! Se toca, Wei Ying! Quem era esse cara? Aquele que você jamais terá. Alguém que te apresente a ele? Provavelmente a sua mãe, dizendo que ele é um maloqueiro. O que eu estou fazendo longe dele? O óbvio: estando longe, porque seria surpresa se eu estivesse perto.

Viajei. Muito. Um cara como aquele devia ser, no mínimo, hétero, isso se ele não odiasse gays e ainda fosse mesmo um maloqueiro. Ele parecia maloqueiro..., mas isso que me atraiu nele, aquela cara de mau, aquele jeitão forte e...

...eu era um panaca que não me tocava, é um fato. Mesmo se ele fosse gay, ele nunca ia olhar para mim. Eu, Wei Ying, baixinho, rosto redondo, sarda no nariz, meio acima do peso, recém formado na universidade de Nova Iorque em música - logo, desempregado - e sem beleza atrativa. E meio afeminado. Wei Ying. Que derrota é ser eu.

Minha família me arrastou para dentro de casa e para longe de meus pensamentos doidos com o vizinho que eu vi por apenas cinco segundos e no qual já gamei.

E eu que pensava que o nosso pequeno vilarejo chinês em Nova Jersey não tinha nada para oferecer.

**

Minha tia Shang estava falando sobre minhas incontáveis tatuagens para meu pai. Minha mãe falava de meu corte de cabelo para o tio Liu. Tio Bing falava do meu piercing na boca e das calças muito coladas.

E lá estava eu, sentado, olhando para o nada segurando um copo de suco de amora e respondendo às perguntas idiotas daquele povo o qual eu mal senti saudade. Aliás, saudade mesmo eu estava sentindo era de Nova Iorque. E fazia só doze horas que eu tinha saído de lá.

Sentia saudade do que aconteceu lá. Os amigos que fiz, os semestres na faculdade, as farras, a liberdade que eu tinha de ser eu mesmo. Em Jersey tudo seria muito diferente, como era antes, há quatro anos. Ninguém sabia que eu era gay – e ainda não sabem – e eu fazia de tudo para esconder.

Quando aquele primeiro dia acabou, eu me senti cansado. Exausto mesmo. Minha mãe disse que meu antigo quarto estava ok e que eu podia subir. A animação com que eu fui foi a mesma de quem é condenado à cadeira elétrica e está andando no corredor da morte.

Eu sonhei nos meus áureos tempos de adolescente em morar sozinho. Não fazia sentido um cara feito morar com os pais, principalmente depois de formado na faculdade. Era humilhação demais.

Por um tempo invejei o Yang, meu ex-namorado, que devia estar no seu apart maravilhoso comendo alguma gay padrão de academia. Ele tinha muito dinheiro, mesmo que muito mal gosto. Bem, ele me namorou, isso diz muito a seu respeito.

Eu entrei no meu quarto e fiz aquela cara de alguém me salve, por favor ao notar onde eu estava realmente. Meu quarto. Que um dia já foi o meu lugar favorito. Tinha miniaturas do Homem-Aranha nas estantes e ursinhos em cima da cama. Tinha um pôster da Madonna na porta do guarda-roupa.

– Deus do céu.

Suspirei resignado com a minha tragédia e fui até a janela sentar no parapeito, abrindo a cortina e olhando para fora como quem não quer nada e foi aí que aconteceu. Na casa ao lado, na janela em frente, o meu vizinho bonitão apareceu. Eu dei um salto de onde estava e me escondi o quanto pude, mas não deixei de olhar.

O danado ainda estava sem camisa e segurava uma latinha de cerveja em uma mão e o telefone em outra, a qual segurava o aparelho no ouvido. Ele deu um sorriso encantador e bebeu um gole da cerveja, derramando um pouco do líquido sobre o peito e a minha boca se abriu.

Eu sei que vai soar pervertido, mas eu quis lamber ele todinho. HAHAHA.

Ele se moveu um pouco e se sentou na cama – já que ele estava, aparentemente, no seu quarto – e continuou a falar e a falar no telefone. E eu só olhando, descaradamente, atentamente, sedento... pela imagem do capeta daquele homem. Puta merda... eu estava extremamente atraído e nem sabia por quê!

Se alguém tivesse visto ele como eu vi, saberia. 

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Oie! Essa é a minha história nova. Sejam bem-vindos.

Ela terá 20 capítulos e contará a saga do Wei Ying para resistir a seus desejos pelo seu vizinho bonitão. E quem ele seria? Vocês já sabem.

Comentem o que acharam dessa primeira experiência lendo uma fanfic capitulada minha em PRIMEIRA PESSOA, apareçam, leiam, me mandem salve e logo eu posto o segundo capítulo. 

vão lá no x me seguir também: x.com/amendoline

Leiam In The Embers (35 capítulos postados até agora) - Yizhan

Leiam Seventeen (completa) em 30 capítulos. - Wangxian


Besos e até logo!

Wei Ying Não Tem Muita Sorte!Onde histórias criam vida. Descubra agora