𝙾 𝙿𝙴𝙳𝙸𝙳𝙾 |36

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IVAN BELL
𝔓𝔞𝔯𝔱𝔢 𝔇𝔬𝔦𝔰

4527 palavras

  A taberna estava quase vazia, como sempre se encontrava quando nós aparecíamos por aqui. Eu bebo o último gole do whisky em meu copo, sentindo o calor do líquido descer pela minha garganta, enquanto meus olhos permaneciam fixos em Hael. Ele conversava com um dos caras, sentados no sofá da parte mais escura do lugar quase vazio.

  Eu me levanto, indo até eles e atraindo o olhar assustado de Jhonny, que se encolhe ainda mais no sofá.

— Olha a cara dele, parece um cachorro assustado — Hael cuspiu as palavras com ódio, cruzando os braços ao se afastar do garoto — E não quer falar nada, inútil!

  Eu me sento em frente ao garoto, observando como ele se encolhe e treme como um drogado em abstinência. Sua pele estava pálida, o suor escorria pela testa, e seus olhos se moviam nervosamente, como se procurassem uma saída. Ele era exatamente isso: um viciado em desespero.

— Jhonny, Jhonny... Você tem a minha idade, não tem? — questiono, tirando a carteira de cigarro do bolso e acendendo um. 

— Sim, Chevalier... — ele respondeu com a voz trêmula, mal conseguindo me olhar nos olhos.

— Você não acha que eu sou novo demais para morrer, Jhonny? — inclino a cabeça para o lado, fazendo questão de fixar meus olhos nos dele, castanhos e apavorados.

  Ele engole em seco, hesitando antes de responder. — Eu acho.

— Você não quer morrer com apenas dezoito anos, não é? Ou quer?

  Sua respiração fica tensa e ele desvia o olhar, como se a simples ideia de encarar a realidade fosse demais para ele.

— Eu não quero morrer — falou com os lábios trêmulos, sua voz quase inaudível.

— Ninguém vai morrer aqui, Jhonny, basta só você contar tudo o que fez — Eu trago o cigarro em sua frente, analisando cada expressão que passava por seu rosto. A confusão era evidente.

  Hael, um homem mais velho, loiro, com muitas tatuagens cobrindo seu corpo, estava logo ao meu lado, observando a situação em um silêncio ensurdecedor. 

— Eu não vou morrer? — o garoto indagou, esperançoso — Mas vocês vão me machucar?

  Eu rio de forma sarcástica, a pergunta completamente idiota, a resposta era óbvia.

— Eu tenho cara de ser agressivo? — indaguei retomando a postura séria, meus olhos se estreitando ligeiramente.

— Um pouco — ele engoliu em seco outra vez.

  Era meio-dia quando me encontrei com Hael aqui na taberna. O sol a pino iluminava as janelas empoeiradas. Hael, um dos soldados mais leais do meu pai, havia sido enviado para procurar uma pessoa específica, alguém que suspeitávamos ter vazado informações cruciais, segredos que nunca deveriam ter saído de Marselha.

  O garoto em minha frente permanecia em silêncio, seus ombros curvados e as mãos trêmulas. A decisão dele de não falar já começava a me irritar profundamente.

"Querido Diário" de Lana BergerOnde histórias criam vida. Descubra agora